Baixa procura pela segunda dose da vacina tem causado preocupação
O Brasil registrou 2.082 mortes por Covid-19 nas última quinta-feira (3), totalizando 469.784 óbitos desde o início da pandemia. A média móvel de mortes nos últimos 7 dias chegou a 1.862. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de -5% e indica tendência de estabilidade nos óbitos decorrentes do vírus. Em São José do Rio Pardo, até o fechamento da edição, 21 pacientes estavam internados no hospital, sendo 9 em UTI. O município está com 121 mortes confirmadas e três óbitos suspeitos. Para fazer um balanço sobre o cenário pandêmico do país e da cidade, o infectologista Marcelo Galotti foi o entrevistado de sexta-feira (4), do ‘Jornal do Meio Dia’.
Terceira onda
De acordo com o médico, os epidemiologistas estimam que o país está muito próximo de uma terceira onda. Em setembro, a previsão é de que o Brasil terá em torno de 700 mil casos e um aumento de mortalidade, o que torna a situação do país extremamente preocupante.
“Quando é feito o acompanhamento de uma pandemia, os epidemiologistas marcam diariamente o número de casos, de mortes e etc. A pandemia começou no início de 2020, e em julho e agosto, atingiu seu pico. A partir daí, ela desceu rapidamente, e em novembro tínhamos poucos casos. Isso caracteriza uma onda, surge, atinge o pico e a curva desce. Com as confraternizações de dezembro e do Ano Novo, acabou desencadeando uma segunda onda, que foi mantida pelo Carnaval, Páscoa e Dia das Mães. O que está acontecendo é que a segunda onda está demorando para descer, está subindo e já temos previsão de uma terceira onda. Eu particularmente acredito que ainda estamos vivendo a segunda onda, e que estamos passando pelo segundo pico”, comentou.
Vacinação em baixa escala
O Brasil administrou 70,8 milhões de doses de vacina contra a Covid-19. Dentro desse montante, 22 milhões de pessoas receberam a imunização completa, e o restante recebeu apenas a primeira dose da vacina. “Se fizermos um estudo, desses quatro meses e meio, perceberemos que os grupos prioritários só irão terminar a vacinação ano que vem. É fundamental que se dobre o número médio diário da vacinação. Nós nunca passamos de 750 mil doses por dia. É preciso que seja 1,5 milhão. A FioCruz anunciou que ao persistir essa velocidade, levaremos 830 dias para vacinar a população brasileira, ou seja, só daqui dois anos”, relatou Marcelo.
Baixa adesão pela 2ª dose
Atualmente, o país oferece três marcas de vacinas diferentes: AstraZeneca/Oxford, CoronaVac e a Pfizer/Biontech. “A que mais causa efeito colateral, é a AstraZeneca. Quando foi feita, tivemos no dia seguinte um índice de abstenção bastante importante devido aos efeitos colaterais. Entretanto é importante ressaltar que não causa nenhum efeito colateral grave, a pessoa pode apresentar dor muscular, fadiga, dor de cabeça e diarreia. Isso está ligado ao funcionamento do sistema imune, o que é um bom dado, significa que ele está trabalhando”, afirmou.
De acordo com o infectologista, a falta de adesão de idosos para tomar a segunda dose da vacina está grande, e o medo da reação pode ser uma das principais causas que contribui para que eles não completem o processo vacinal. “Em relação a segunda dose, podem aparecer efeitos colaterais, mas em geral não aparecem, e quando sim, são menos intensos do que da primeira vez. Embora em poucos casos, pode ser igual ou pior”, relato.
Estudo piloto em Serrana
O estudo referente a eficácia da CoronaVac, testada em massa na cidade de Serana, próximo a Ribeirão Preto, já está concluído. “Quando começaram a ser feitos, no início da pandemia, na população como um todo, eles apresentaram um alto índice de positividade, o que chamou a atenção. É uma cidade de 30 a 40 mil habitantes, que teve a vacinação de 27 mil pessoas, o que atingiu todas as pessoas que deveriam ser vacinadas. A Sinovac, que é a dona da CoronaVac junto com o Butantan, tinha um número de doses para estudo e ofereceu 60 mil doses para que ele fosse feito. A vacina teve 80% de eficácia geral, 86% contra Covid grave, 90% contra internações graves com morte. Foi um resultado muito interessante. Quando conseguimos fazer estudos, conseguimos obter níveis maiores do que quando ela foi registrada pela Anvisa”, garantiu Marcelo.
O infectologista lembrou que atualmente um estudo está sendo realizado utilizando a AstraZeneca, na cidade de Botucatu, incluindo dados que não foram pesquisados em Serrana.
Síndrome pós-Covid pode levar a óbito
Entre mutações do vírus, casos de reinfecção e possíveis sequelas, cientistas descobriram e ainda estão estudando, o que chamam de Síndrome Aguda pós-Covid. Dr. Marcelo explicou sobre a situação.
“Se analisarmos 100 indivíduos, 85 deles que pegarem Covid não vão ter sintomas, ou sentirão pouca coisa. Já 15 pessoas terão a doença sintomática bem estabelecida, metade será internada e terá alta e a outra metade precisará de UTI – entre elas, de 3% a 4% morrem. Desses casos que tiveram Covid bem documentado por um caso clínico, medicamentos, exames e etc., surgiu uma situação que chamamos de epidemia invisível. De cada 5 indivíduos que se recuperam da Covid, 4 (80%) voltam a apresentar sinais da doença. A revista Nature, que é bem conceituada, fez um trabalho para entender isso, e conseguiu elencar 50 sinais e sintomas que esses 80% das pessoas têm, com 10 deles mais frequentes. Entre eles: fadiga, falta de ar, dor torácica, cefaleia, perda de memória, de raciocínio, depressão, perda de olfato, entre outros. Infelizmente 17% dessas pessoas precisam ser internadas, e 7% acabam morrendo”, pontuou.
Febre viral trombótica
Alguns cientistas estão se mobilizando para conseguir alterar a nomenclatura Covid-19. Marcelo explicou o motivo.
“A Covid tem uma fase infecciosa inicial, depois passa por uma fase em que acomete vários aparelhos, como o pulmão e rins, por exemplo. Isso leva os pesquisadores a entender que ela é muito mais que uma doença infecciosa, ela tem laços vasculares, da pneumologia e da hematologia, então sugeriram o nome de febre viral trombótica”, contou.
Anticorpo monoclonal
A Anvisa aprovou recentemente o uso de dois anticorpos monoclonais – casirivimabe e imdevimabe – para o tratamento de Covid-19. Eles são produzidos em laboratório e são utilizados na terapia de algumas doenças, como alguns tipos de câncer. “O anticorpo monoclonal é semelhante ao natural, que deve ser administrado na fase inicial da doença, antes da internação e só pode ser de uso hospitalar. Se o paciente fizer uso dele, pode diminuir em 80% a chance da doença evoluir com gravidade”, completou.
Santa Casa
“Em maio tivemos 106 internações e 32 óbitos. Embora a situação na Santa Casa esteja controlada, e isso tem muito a ver com a infraestrutura que a administração está proporcionando e a qualidade dos profissionais que agora tem experiência com a Covid, eles estão trabalhando muito e com um alto risco”, encerrou.