sábado , 20 abril 2024
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Lavoura de milho perde 50% da produção por falta de chuva

Zootecnista alertou sobre a importância dos aceiros para evitar a propagação do fogo na época de estiagem

São José do Rio Pardo e região enfrentam um período de estiagem desde o ano passado, o que tem causado preocupação aos munícipes, e deixado os produtores rurais, que dependem da chuva, em estado de alerta. O estado de São Paulo registrou a pior condição de seca no Brasil em março, e teve 4% de seu território com seca excepcional, a categoria mais severa da escala do Monitor de Secas, em um levantamento divulgado no dia 23 de março.

Rodrigo Vieira de Moraes, zootecnista da CDRS (Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável ), e da Casa de Agricultura há 12 anos, participou do “Jornal do Meio Dia”, da rádio Difusora na quinta-feira (6). O profissional comentou sobre o período de secas, as consequências para a agricultura e pecuária, e deu dicas de como economizar e reaproveitar a água nas propriedades rurais.

“No período em que o volume das chuvas costuma ser grande, o município enfrentou a seca. A falta de água atrapalhou bastante, estamos com esse problema desde o ano passado. Na maioria das vezes, observamos a média de chuva anual e ela tem pouca variação. No entanto, de dez anos para cá, essa média cai em períodos curtos do ano, o que não acontecia antigamente, antes era praticamente uma chuva por mês. Agora a época chuvosa está bem concentrada e pegando os produtores desprevenidos, porque eles acham que vão plantar, vai chover, e a chuva não vem. Ela acumula em novembro, ou acumula em setembro e depois para, com isso os produtores acabam perdendo a lavoura”, enfatizou.

Perda de lavouras

Segundo Rodrigo, ainda não foi feito um levantamento de prejuízos ocasionados pela estiagem. “Sei que tivemos lavouras de milhos plantadas em São José do Rio Pardo, que tiveram a produtividade baixa, as chuvas de outubro, novembro e dezembro foram poucas. Acompanhei uma área de produção de milho que teve perda de 50%. Os pés de milho ficaram pequenos, assim como as espigas, e a produtividade foi muito baixa”, disse.

Em São José do Rio Pardo, de acordo com a explicação do zootecnista, os produtores têm o costume de gastar pouca água com as lavouras grandes, como milho e soja, com o intuito de economizar para o plantio de cebola, cenoura e beterraba. “São hortifrútis que exigem água obrigatoriamente, são totalmente dependentes dela, e são plantados na época do inverno, quando não há chuva”, completou.

Consumo de água

Rodrigo citou durante a entrevista que o gasto de água é relativo na produção agrícola, e ilustrou a diferença em que fábricas e lavouras tratam a questão. “Se considerarmos uma lavoura como uma fábrica, colocar entradas e saídas, é preciso ter muita água, até porque trabalha-se com seres vivos. Essa água precisa ser usada pela planta, para produzir o que é necessário. A água na lavoura é diferente da de fábrica, não é contaminada e perdida, se ela for aplicada da forma correta, será transportada por dentro dos lençóis freáticos da planta, evaporar, e será lançada na atmosfera. O que se espera pela regime hídrico, é que essa água lançada pela atmosfera caia em forma de chuva novamente para a região. É um uso conservacionista, é totalmente diferente da água usada em fábricas, que sai suja, e precisa ser tratada para ser devolvida ao meio ambiente”.

O profissional mencionou o consumo de água por animais, e destacou a importância de ser oferecida em sua forma potável. “Quando o produtor rural vai até a Casa da Agricultura, e comenta que seus gados bebem água do rio, isso já me incomoda bastante. É considerado uma infração, e pode gerar multa. Mas muitos produtores tem esse costume, é algo antigo, e eles afirmam que os gados gostam de beber água do rio. A qualidade da água indicada para o consumo animal, é a mesma indicada para humanos. A que nós tomamos, é a mesma que devemos dar a eles. Nos criatórios de frango de corte e suinocultura, a água fornecida aos animais é potável. Os animais são bem sensíveis, se tiver uma água contaminada, muitos deles ficarão doentes de uma vez só, e isso traz um prejuízo enorme”, explicou.

Se o produtor utilizar uma água diferente da que ele consome em sua casa, Rodrigo aconselha que seja coletada uma amostra da água e enviada para análise laboratorial. Ele informou que o principal alimento para os animais é a água, sem ela, além do adoecimento, ocorre a queda da produtividade. “A vaca leiteira, por exemplo, necessita de muita água, quando ela está produzindo leite, pode consumir até 150 litros de água por dia. Sabemos que 80% do leite é composto por água, ela precisa repor para produzir mais”, completou.

O zootecnista comentou sobre as tecnologias recomendadas para adequação de propriedades para captação de água da chuva, recarga de lençóis freáticos e revitalização de mananciais e riachos.

“O produtor precisa segurar a água da chuva em sua propriedade, ele não deve jogar a água na estrada e nem em seu vizinho. A água que cai no seu terreno é sua, é preciso segurá-la. A primeira coisa a ser feita é proteger o córrego, ter uma vegetação que possa permitir que essa água caia no solo sem causar erosão e que ela penetre na terra. Tem ações que podem ser feitas para segurar a água na propriedade”, informou.

Uma das atitudes, segundo ele, é manter sempre a vegetação, impedir que o solo fique exposto ao sol. Quando o produtor fizer os plantios, Rodrigo ressalta que é importante que sejam estruturados em curva de nível. “Tem a curva com pouca declividade e com zero declividade, que é o que segura toda a água da chuva. Alguns produtores não gostam com zero de declividade, porque a água pode ficar empoçada nessas curvas, nesse caso é só jogar um pouco de declividade. No final da curva de nível de plantio, pode ser feita uma cacimba*, que é uma caixa d´água para que ela fique armazenada ali”, prosseguiu.

Rodrigo aconselhou que os agricultores façam barragens em locais que descem bacias hidrográficas, dentro de suas propriedades. “Essas mini barragens são feitas uma atrás da outra, seguram e tiram a velocidade de queda da água. Quando as barragens encherem, a água vai para dentro do solo. Isso vai carregar o lençol freático que vai ajudar a produzir mais água nas minas e córregos dos produtores”, completou.

Evitando o desperdício

Assim como todas as pessoas, o produtor rural deve evitar o desperdício de água. “Todo ano é preciso fazer um reparo na rede de irrigação, trocar as borrachas dos canos, colocar um medidor de pressão na rede, para ver se está adequada para a bomba dele, regular a bomba, desentupir o coletor de água e irrigar no horário noturno para ter economia de energia elétrica. A manutenção dos bebedouros de animais deve ser feita, assim como a lavagem. No caso de suínos e aves é importante lavar todos os dias, quanto aos bovinos, no máximo a cada 15 dias”, ensinou.

Importância dos aceiros

Durante a entrevista, o zootecnista falou sobre a importância dos aceiros* na época de estiagem, já que com ela, infelizmente, começam as queimadas. “Uma das coisas mais importantes nesse período em que estamos, é o produtor rural se preocupar com fogo. Quando ele acontece na propriedade, ele é de responsabilidade do dono. Nesta época do ano, é preciso fazer urgentemente os aceiros. O tamanho mínimo de aceiro deve ser três vezes a largura do trator. Quanto mais largo o aceiro, melhor para evitar a propagação do fogo”, encerrou.

*Cacimba – cova aberta em terreno úmido ou pantanoso, para recolher a água presente no solo que nela se acumula por ressumação.

*Aceiro – Aceiro, atalhada ou sesmo é o desbaste de um terreno em volta de propriedades, matas e coivaras, para impedir propagação de incêndios.

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