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Cláudia Missura deve integrar a próxima novela das 21 horas

Em Seu Lugar” é o nome da novela, que, com a pandemia, ainda não começou a ser gravada

No dia 16 de setembro, a rádio Difusora gravou uma entrevista com a atriz rio-pardense Cláudia Missura, por meio de uma chamada de vídeo, para contar um pouco sobre sua história com a arte, seu caminho até o teatro e a televisão, seus personagens mais marcantes e como ela tem enfrentado esse momento de pandemia. 

Cláudia tem 47 anos e atualmente reside em São Paulo. Aos 19 anos, ela foi morar na capital paulista  para dar início aos seus estudos na Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo . Assim, deu início a sua vida profissional, sobretudo no  teatro.

Cláudia foi indicada a várias premiações brasileiras de teatro e televisão, e conquistou algumas como melhor atriz, pela sua atuação no teatro, e em um filme, o “Domésticas”.

A Gazeta do Rio Pardo publica uma parte da entrevista, que foi exibida na íntegra, hoje, 21 de setembro, ao meio-dia na rádio Difusora, e transmitida pelo Facebook da página “Rádio Difusora de São José do Rio Pardo”, no mesmo horário. A entrevista continua disponível na página e pode ser assistida em qualquer horário.

Relação com o teatro

“Quando terminei o ensino médio e fui prestar vestibular, para mim já era muito claro o que eu queria fazer. Tive a chance de ter entrado em contato com o teatro já na adolescência, comecei a fazer em São José do Rio Pardo. Quando cheguei no momento da decisão (de prestar o vestibular), não tive dúvidas. Cheguei até a prestar jornalismo na Unesp, mas minha paixão mesmo era com o teatro. Minha mãe sempre dizia que eu tinha muita sorte. Ela achava que as coisas tinham uma fluidez na minha vida. Acho que teve a ver com sorte sim, porque você vai conhecendo as pessoas, criando contatos. Essas pessoas vão te levando até outras, e forma um ciclo de relações que você vai construindo”.

“Nesse sentido, acho que o universo sorriu bastante para mim. Conheci pessoas que me deram as mãos. Mas nem tudo é sorte o tempo inteiro, tem uma demanda que é só caminhada mesmo. Quando cheguei em São Paulo não conhecia ninguém, fui morar na república da USP. Quando eu cheguei na faculdade, era como se eu tivesse ido para um retiro do conhecimento. Tinha muita oferta dentro universidade, para mim foi um mergulho nesse conhecimento. Me desenvolvi bem na escola, um diretor me convidou para fazer uma peça de teatro, outras pessoas me conheceram nessa peça e me chamaram para fazer outra coisa, e aí a vida foi acontecendo”, relembrou.

“Eu vim muito pura para São Paulo, tinha um olhar ingênuo sobre as coisas. Isso era muito encantador em São Paulo, esse misto de talento que as pessoas viam em mim. Mas só o talento não bastava, era preciso correr atrás das coisas. Acho que se você consegue ser transparente, trocar de verdade com as pessoas, isso é algo muito precioso”, destacou.

“Acho o teatro mais libertário que a televisão. No teatro, com 47 anos, posso fazer a Julieta, de 14 anos, e posso fazer também uma mulher de 90. Esse lugar dentro do teatro é mágico. Dentro da televisão isso é mais difícil”, comentou.

Construção dos personagens

Cláudia explicou a importância da observação para a construção de novos personagens

“Nós, atores, construímos personagens através da observação. Que vai além do olhar, precisamos estar abertos a todos os sentidos. É muito importante para o ator alimentar a imaginação. No meu caso, tenho o olhar mais apurado, minha visão é meu melhor sentido, construo muito a partir disso. O ator precisa trabalhar muito o seu corpo. Não no sentido de ficar na academia, mas expressões corporais. Precisamos ter um corpo vivo no palco. Temos que estar o tempo inteiro nos aperfeiçoando, até mesmo como ser humano. Temos que melhorar para poder apurar sentidos mais profundos de existência, para poder viver ou falar sobre o outro. Precisamos emprestar o corpo para outras vivências”, explicou Cláudia.

Pandemia

“Durante a pandemia aproveitei para estudar muito. Voltei para a Grécia antiga, Platão, coisas que às vezes por estarmos entre um trabalho e outro, não nos damos tempo para fazer. Esse ócio criativo não é balela, precisamos de um tempo para nos limpar, neutralizar o corpo para construir outros novos”, disse. “Fui pega de surpresa. Tinha um contrato para assinar e não assinei”.

Televisão

“Sou cria de programas legais que assisti quando morava em São José do Rio Pardo. A TV Pirata por exemplo, adorava o programa ‘Armação Ilimitada’, amava a personagem da Andréa Beltrão, foi até mágico agora depois de anos encontrar a Andréa para fazer ‘Hebe’. Quando fui convidada para fazer a Nair Bello, já existia a ideia da série e do filme. Só que estava sendo construído ainda o texto. Eu sabia que tanto o filme como a série eram muito focados na vida pessoal e profissional da Hebe. Quando o diretor me convidou, o Maurício Farias, que é inclusive casado há anos com a Andréa, ele disse que ia me fazer uma proposta quase indecente. Que eu iria fazer a Nair Bello em apenas uma cena. Era um trabalho imenso para aparecer um segundo”, contou sorrindo.

“A Nair Bello fez parte da minha construção como artista. Não conheci pessoalmente ela, e ficava me perguntando como faria. O diretor me disse que não tinha outra opção, que queria que fosse eu. Ele me pediu para pesquisar e disse que tinha uma Nair Bello dentro de mim. Comecei a descobrir que eu tinha os gestos da Nair”, revelou a atriz.

Hebe

“Conheci a Hebe pessoalmente em uma peça de teatro que fiz com o Paulo Autran, a última dele. Ele me viu fazendo a peça ‘Domésticas’, que depois virou filme, e me convidou para fazer uma peça, chamada ‘O Avarento’, com ele. A Hebe foi ver a peça e adorou minha personagem. Depois quando eu estava indo embora descendo do Camarim, tinha uma escadaria enorme no Teatro, e ela estava rindo na escadaria sozinha. Pediu para eu dar a mão para ajudar ela descer as escadas. Descemos a escadaria juntas de mãos dadas e dando risada. Foi uma memória muito boa dela”, relembrou.

Avenida Brasil

“A Avenida Brasil foi incrível. Quando você começa um trabalho, não tem a menor ideia se vai dar certo. Pode ter um elenco maravilhoso, um bom texto, uma boa direção, mas nunca sabemos se aquilo vai acontecer. A Avenida Brasil foi uma novela de grande destaque no mundo todo, já passou em mais de 100 países. Eu entrei muito miudinha na novela, sabia que minha personagem teria um filho mais pra frente, um dos diretores me pediu para não caçar tanto a comédia, porque eu teria que fazer uma curva para um drama com o filho. Tive a oportunidade de fazer um pouco de comédia com a Cacau Protásio, éramos uma dupla”, afirmou.

“A Avenida Brasil foi um exercício muito grande para mim como atriz. Aprendi camadas que o teatro ainda não tinha me dado. Descobrimos que a novela estava dando certo depois. Quando eu pegava avião, às vezes duas pessoas vinham falar comigo, depois esse número foi aumentando muito, de 10, 20, 30 pessoas, até que no aeroporto tinham 50 pessoas pedindo autógrafo. Aí eu percebi que a novela estava dando muito certo. Às vezes você faz uma novela e ninguém percebe, você passa em algum lugar e ninguém nota”, comentou.

Próximo trabalho

“Estou para fazer a próxima novela das 21h00, ‘Em Seu Lugar’, que com a pandemia, nem começamos a gravar. Talvez as gravações comecem no fim do ano. Será uma novela muito bonita, com essa mesma turma que fiz o Hebe, o Maurício Farias dirigindo, pessoas muito legais”.

Arte e fama

“Acho que o artista hoje, ficou muito distanciado do povo. Ele ficou muito mais ligado à fama. Ficou maior do que a arte. Se pensarmos que a arte surgiu na Grécia Antiga, e que os atores eram sacerdotes e sacerdotisas, que faziam as encenações para alegrar, curar as pessoas, os próprios médicos indicavam para os pacientes que eles deveriam dormir no templo e assistir uma tragédia grega, esse era o remédio, para que houvesse uma catarse, uma purificação, para que as pessoas jogassem o problema para fora. Ou recomendavam que assistissem uma comédia. A função do teatro era de cura. Acho que essa coisa de fabricar estrelas que a TV tanto fez, distanciou o artista. Tanto é que agora estão vivendo uma perseguição horrorosa, a cultura está sendo massacrada pelo governo que estamos vivenciando. Estão tirando coisas que nós mesmos conseguimos com nosso trabalho”, lamentou.

Cultura

“Eu acredito que cultura é para todo mundo, não é só para quem faz não. A cultura está aqui para nos mostrar quem somos, a nossa origem. Teatro não é fama, a TV construiu muito isso. Mas é um trabalho árduo de todos os dias, de reciclagem de quem você é, de olhar para o mundo e ser atuante. Isso é arte. Acho que temos que ganhar bem sim, porque é um papel difícil, você tem que se expor, você é malhado se erra, então acho sim que precisa ser bem remunerado. Porém, não precisam ser esses salários exorbitantes, que distanciam o artista do povo. Às vezes colocam os artistas em um pedestal de céu falso”, concluiu.

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