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Revolução Constitucionalista ( Imagem da Internet)

9 de Julho e a Guerra Civil Paulista de 1932

“Uma revolução é uma opinião apoiada por baionetas.” Napoleão Bonaparte

Nesta terça-feira o Estado de São Paulo comemorará/lembrará os 87 anos da Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada oficialmente no dia 9 de julho, quando tropas paulistas enfrentaram tropas legalistas, com o intuído de derrubar o governo de Getúlio Vargas, que estava no poder desde o final de 1930, mas sem o respaldo de uma Constituição (Getúlio havia sido derrotado eleitoralmente por Júlio Prestes). Era o início da Guerra Paulista, uma guerra civil inédita na história brasileira, entre o maior Estado da Federação e o poder central.

Por todo esse tempo, muitas obras e interpretações foram produzidas para explicar o conflito e os interesses envolvidos. Muitas obras enaltecem os ideais paulistas, como herdeiros da força e da garra dos bandeirantes, opondo-se à tirania de Getúlio Vargas. Outra linha de interpretação mostra o conflito de 1932 como uma luta articulada pelas elites paulistas, que haviam sido desalojadas do poder por Getúlio e desejavam recuperar a antiga posição de comando do país.

Mas, antes de seguirmos, vale uma reflexão sobre o conceito Revolução, tão presente nos manuais de História do Brasil. O Brasil, em algum momento de seus 500 anos, viveu realmente uma revolução (1930, 1932, 1964), como aquelas tradicionais, que são usadas para exemplificar o conceito?

Uma das mensagens mais comuns dadas pelas revoluções é o processo de grande transformação socioeconômica vivida pela sociedade em que acontece o processo. Os muitos movimentos ocorridos no Brasil, que levaram o nome de revolução, pouco ou nada produziram de grandes abalos.

No livro “Revoluções na América Latina”, de Hector Bruit, o autor descreve o caminhar dos processos revolucionários e chega a citar alguns pensamentos de figuras conhecidas nessa questão. O padre Camilo Torres, revolucionário colombiano, disse: “A luta revolucionária não é uma luta qualquer; é uma luta na qual não se comprometem horas, na qual não se compromete dinheiro. É uma luta na qual é necessário comprometer a própria vida”. Para Mao Tsé Tung, revolucionário chinês: “Uma revolução é uma insurreição, um ato de violência por meio do qual uma classe derruba outra”.

Para o historiador Bóris Fausto, a guerra paulista tinha uma face voltada para o passado: “sua vinculação com a velha política regional e com os interesses do que se convencionou chamar de burguesia cafeeira”, e outra voltada para o futuro: “o desejo de que uma ordem constitucional, com a garantia das liberdades civis e políticas, fosse instalada no país”.

O Brasil vivia um período de grandes mudanças no campo e, principalmente, nos meios urbanos com o operariado. Eram situações novas, com novos agentes políticos, diante de forças que procuravam manter o seu controle (as elites proprietárias) e Getúlio Vargas, que reconheceu essa imersão social e passou a atuar para tê-la sob seu controle.

Quando outubro de 1932 chegou e se confirmou o que era inevitável, a derrota paulista e a vitória das forças legalistas, um novo momento se impôs ao país e aos líderes políticos. Aprofundar a cisão iniciada em 9 de julho ou buscar uma acomodação a partir da convocação da Assembleia Constituinte de 1933, que trazia, além da esperança da reconstitucionalização do país, uma verdadeira revolução política com a extensão do direito de voto às mulheres?

Encerrada o conflito, que levou mais de 150 mil brasileiros ao enfrentamento armado, com baixas que superaram em muito os 500 brasileiros mortos durante a segunda guerra mundial, a aprovação da Constituição de 1934 reconduzia o país ao campo democrático, com a conquista e a ampliação de direitos para categorias que ainda não tinham atingido o patamar de cidadania.

Mas os ares dos anos de 1930 estavam mudando também fora do nosso Brasil. Na Europa, o fascismo de Mussolini já estava instalado no governo italiano. Na Alemanha, o crescimento das forças nazistas colocariam Hitler no comando político a partir de 1933. O que veio a seguir faz parte de uma história muito bem conhecida, uma passagem trágica da humanidade, um dos capítulos mais cruéis da humanidade, mesmo que, ainda hoje, muitos ainda insistem em negá-los.

Getúlio Vargas, de certa forma contaminado por esses delírios de poder, não completaria os quatro anos de seu mandato constitucional e instauraria o Estado Novo (1937-1945), levando o Brasil perigosamente para o lado dos governos nazifascistas. Somente com a mudanças nos rumos da guerra, a partir da entrada dos Estados Unidos no conflito, que Getúlio promoveu uma alteração no curso político, reposicionado o país ao lado dos Aliados.

Feita essa reconstituição, podemos nos perguntar: terça-feira, dia 9 de julho, qual será a identificação da população de São Paulo com a motivação do feriado?

Por ser em um mês sem atividades escolares, a motivação histórica do feriado acaba se perdendo diante da alegria de uma folga, ainda mais com a possibilidade de emendar com a segunda-feira. Aqui em São José, quem lembrará de passar pela Praça dos Três Poderes e deter-se um pouco diante do busto do Soldado Constitucionalista, um pouco escondido no jardim próximo à Câmara Municipal?

Para finalizar, fica um poema de Guilherme de Almeida, o Poeta da Revolução, uma das vozes mais ardentes a saudar as forças paulistas.

“NOSSA BANDEIRA”

Bandeira da minha terra, Bandeira das treze listas:

São treze lanças de guerra Cercando o chão dos paulistas!…

Bandeira que é o nosso espelho! Bandeira que é a nossa pista!

Que traz, no topo vermelho, O Coração do Paulista!

Por Marcos De Martini

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