Vacinação, nova variante benigna e efeito rebanho foram citados pelo dr. Marcelo Galotti
O infectologista Marcelo Galotti foi novamente entrevistado pelo Jornal do Meio Dia, da Rádio Difusora, para comentar sobre a vacinação contra a Covid-19, que começou há cerca de três semanas no município. Gazeta do Rio Pardo publica um trecho da entrevista, que está disponível na íntegra em formato audiovisual na página oficial da Rádio Difusora e Gazeta do Rio Pardo.
Dr. Marcelo iniciou o programa falando sobre o fim da pandemia, que pode ocorrer por três processos diferentes.
“A epidemia vai acabar, e existem três formas para isso acontecer. A primeira é um aparecimento de um mutante benigno, que ao infectar as pessoas, irá gerar uma infecção oligossintomática ( com poucos sintomas) ou assintomática, que gera imunidade. Mas esse é um sonho que ainda não conseguimos realizar. A segunda possibilidade, é a imunidade de rebanho, em que um grande número de pessoas pega a doença, e a partir daí vão adquirindo imunidade e interrompem o ciclo de contágio. A imunidade de rebanho é um procedimento doloroso porque leva tempo, e com isso, acaba causando uma alta mortalidade. Mas se não existisse a vacina, seria assim que a epidemia iria terminar. A terceira forma de acabar com ela, é a vacina”, explicou.
Vacinas
“Felizmente as coisas se concretizaram. Tínhamos o sonho de que a vacina saísse rapidamente, o recorde até então era de cinco anos, que foi o tempo que levou para surgir a vacina do ebola. Com um ano de doença (coronavírus), já estamos vacinando”, comemorou.
O infectologista disse não ter dúvidas de que as vacinas irão parar a epidemia. Mas pontuou: “além de ser algo caro, vai demorar um pouco mais do que as pessoas imaginam. Para o mundo conseguir controlar esse problema, vai ter que imunizar 75% da população mundial. Se partirmos do princípio de que o mundo têm em torno de 7,594 bilhões de habitantes e de que nenhuma das vacinas aprovadas pode ser dada em menos de duas doses, terá que ser dado 70% de 15 bilhões de doses no mundo para conseguir controlar isso, o que calcula-se em torno de 11 bilhões de doses. Isso vai demorar e custar caro. O grande problema será vacinar africanos e países pobres da Ásia, teremos essa dificuldade econômica. Mas acredito que a OMS irá fazer um esforço para conseguir fazer isso, porém, será algo demorado”, declarou.
Marcelo informou que existe em torno de 175 vacinas em fase de pesquisa. Ao mesmo tempo, a OMS (Organização Mundial da Saúde) afirma que cerca de apenas dez delas chegarão a ser concluídas. “Atualmente temos oito disponíveis que estão sendo comercializadas e utilizadas”, completou.
Imunidade
“Não temos a resposta de quanto tempo dura a imunidade de quem já contraiu a doença. Existem alguns posicionamentos de alguns cientistas. A doença tem menos de um ano, e essa resposta virá com o tempo. Há um estudo na Califórnia, que diz que a proteção dura pelo menos seis meses, para quem já teve Covid-19. No Reino Unido, as autoridades de saúde falam em cinco meses. Só saberemos isso com o tempo”, constatou.
Evita mortes e casos graves
Dr. Marcelo descreveu a criação da vacina contra a Covid-19 como algo ‘fantástico’. “Ela evita mortes e casos graves. A transmissão e a infecção provavelmente influenciam, mas bem menos. Ela protege contra a infecção, mas não é uma proteção efetiva. Se você tomar apenas uma dose, durante o intervalo de tempo antes de tomar a segunda, ainda pode contrair o vírus e transmiti-lo. Mesmo após tomar as duas doses, ainda tem um tempo para o organismo reagir e criar anticorpos”, explicou.
“As vacinas da Moderna, e da Pfizer, protegem 95%. As que mais protegem, ainda deixam 5% sem proteção. A questão é que a vacina protege contra infecção e transmissão, mas protege principalmente contra mortes e casos graves, por isso é tão importante”, revelou.
Não existe portador
Algumas pessoas questionam a possibilidade de existir portadores do coromavírus. O infectologista esclareceu o assunto.
“Não existe portador de covid. Isso acontece com alguns vírus, como o HIV. A pessoa pode ter o vírus, não apresenta sintomas, não fica doente, mas transmite. Mas com o coronavírus é diferente. Se a pessoa for contaminada, e tiver um estado grave, ele dura no máximo 20 dias no organismo. Se a pessoa for um caso leve, o vírus dura no máximo dez dias. A partir daí o organismo elimina ele”.
Novas variantes
Dr. Marcelo Galotti foi questionado sobre o surgimento de novas variantes do coronavírus, e a eficácia das vacinas com relação as mutações.
“Uma das explicações do problema que Manaus vem enfrentando, é a respeito deste mutante. Pode acontecer de a mutação ficar resistente a vacina, mas não acredito que isso tenha acontecido agora. Esse mutante não chegou a ser maligno a ponto de piorar a patogenicidade e a agressividade do vírus. Ele só é mais transmissível, por isso em Manaus as coisas ficaram desproporcionais. É preciso que os governos fiquem muito atentos, principalmente o pessoal da ciência, e aparentemente três empresas já se manifestaram e afirmaram que as vacinas não terão um problema contra essa nova variante”, disse.
“A CoronaVac é uma delas, caso a vacina não pegue, eles irão refaze-la em 30 dias para que funcione. A Pfizer também se posicionou a respeito disso, e disse que a mutação não trará problemas com relação a vacinação”, explicou.
Dr. Marcelo explicou que as vacinas são diferentes, assim como o vírus e suas variantes. “Se o vírus mutante vier, as coisas vão se agravar um pouco mais. Os hospedeiros também são diferentes, a criança não tem maturidade imunológica e não consegue nem desenvolver a doença. O jovem tem uma imunidade quase que natural. Dos adultos para frente, até os idosos com comorbidades, imunodepressão, as coisas mudam. A diversidade que temos entre as posturas de quanto tempo a imunidade dura após a pessoa ter adquirido a doença, é em função de alterações pontuais do hospedeiro e da doença”, afirmou.
O médico revelou que o ideal é que o intervalo de tempo para a aplicação das duas doses seja respeitado pelo o que preconiza o fabricante.