De acordo com o Hospital Israelita Albert Einstein, só no Brasil, são mais de 2 milhões de casos de câncer de mama por ano. Atualmente, a doença responde por cerca de 28% dos casos novos de câncer em mulheres. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando menos de 1% do total de casos da doença.
No ano de 2018 foram estimados 59.700 novos casos de câncer de mama no país. Ciente da importância do tema, e aproveitando o Outubro Rosa, que é a campanha internacional de combate e prevenção ao câncer de mama, a Gazeta do Rio Pardo foi até o projeto ‘Renascer’, que auxilia e ajuda no tratamento de mulheres com a doença, para entrevistar a coordenadora e psicóloga Ana Amélia Junqueira Capuanu, e a fisioterapeuta Ana Carolina Vechini Marqui.
Quais os sintomas do câncer de mama?
Ana Carolina: O câncer de mama pode apresentar alguns sintomas, como também pode não apresentar nenhum sinal. Por isso é importante fazer a mamografia anualmente e o auto exame.
Alguns sintomas são: o endurecimento da mama, alguns sulcos que aparecem, vermelhidão e erosão na pele, dor, fluído desconhecido saindo da mama, como borra de café, pode surgir também um buraco, a pele pode apresentar sinais parecidos com uma casca de laranja, veias bem aparentes, afundamento do mamilo, as mamas podem ficar assimétricas e pode haver algum nódulo interno que pode ser diagnosticado durante o auto exame, mas alguns são tão profundos que não podem ser sentidos.
Geralmente quanto tempo após o surgimento da doença a mulher consegue diagnosticar?
Ana Amélia: Isso depende de cada tumor. Alguns evoluem um pouco mais rápido e ficam aparentes trazendo dor e desconforto. Por outro lado, a mulher também pode não perceber a presença dele. Por isso o auto exame é importante. Nele, que é algo mais simples e prático, e podemos fazer em casa, a mulher pode sentir alguma coisa que seja diferente. Por isso é importante que ela se toque, precisamos conhecer o nosso corpo, conhecer a nossa mama. Porque se amanhã ou depois notarmos algo diferente, vamos saber que aquilo não deveria estar ali, e procurar ajuda.
Existem formas de prevenção?
Ana Amélia: Sim. Uma das formas é o autoexame, ter as rotinas no ginecologista, fazer a mamografia, o ultrassom da mama e ir sempre acompanhando. A obesidade é um fator que influencia muito como fator de risco, além da genética, que é o histórico familiar. A alimentação saudável ajuda a prevenir. Assim como não fumar e diminuir as bebidas alcóolicas.
Quais fatores influenciam para que as mulheres desenvolvam a doença?
Ana Amélia: Hoje em dia não podemos falar que é somente um fator hereditário, antigamente as pessoas falavam muito isso, que se alguém teve um caso na família, a pessoa também teria. Não é bem assim. Precisamos pensar que a vida das pessoas anda muito corrida, elas já não se alimentam de forma saudável, estão sedentárias, estressadas. Hoje todos os fatores contribuem para que a pessoa desenvolva o câncer. É claro que o fator hereditário é importante, se você teve um caso na família, precisa se cuidar mais cedo. Porque existe uma predisposição a ter também, mas não significa que a pessoa vá ter a doença. Mas todos os outros fatores, também contribuem para ter o câncer.
O exame de toque é eficaz?
Ana Amélia: Ele é muito eficaz, ajuda bastante na maioria das vezes. Mas eu acredito, pela experiência que tenho na área, que algumas mulheres não se tocam. É lógico que alguns nódulos só vão ser visíveis ou palpáveis com um médico ou na hora de um exame. Mas em muitos casos, as pessoas conseguem sentir e procurar o médico.
Como é feita a mamografia? É indicada para quais casos e idade?
Ana Carolina: A mamografia é um raio x das mamas. Hoje em dia o Ministério da Saúde está indicando para mulheres entre 50 e 69 anos. Mas depende do caso, se a pessoa tem uma predisposição, ela pode ser realizada antes. Não é muito indicada antes dos 40 anos, nesse caso os médicos costumam pedir o ultrassom das mamas. Porém, geralmente quando a pessoa já tem muitos casos na família, a partir dos 35 anos já começam a fazer a mamografia.
Qual a porcentagem de chance de recuperação da doença?
Ana Amélia: Quando a mulher sente um nódulo, vai ao médico e ele confirma que ela tem um, fala que deve ser investigado para saber se é algo maligno ou benigno, as vezes psicologicamente e emocionalmente a mulher já se sente muito abalada, e ela fica muitas vezes com medo. Mas é importante que ela prossiga com os exames para saber qual será o diagnóstico. Todo câncer descoberto precocemente tem 90% de chances de cura.
Quais os tratamentos?
Ana Amélia: Os tratamentos são vários, isso vai depender do tipo de tumor, e da posição do médico. Temos a quimioterapia que é o mais comum e conhecido por todos, a radioterapia, e o tratamento via oral, que também é uma quimioterapia.
Qual é o trabalho do projeto Renascer ?
Ana Carolina: Aqui no projeto, trabalhamos todos os processos. Desde quando elas descobrem a doença e logo após a cirurgia e tratamento. As mulheres ficam aqui por tempo indeterminado, algumas estão curadas e continuam frequentando. Temos hidroterapia, hidroginástica, fisioterapia, psicóloga, grupos de assistência social, nutricionista, aulas de dança, grupos de artesanato. Oferecemos todos esses serviços para elas.
Acho importante frisar que o projeto Renascer está de portas abertas para atender a todos os tipos de câncer. Atualmente não atendemos só mulheres com câncer de mama. Entendemos que a partir do momento que a pessoa tem uma doença, ela precisa ser acolhida e ter um tratamento humanizado. Estamos de portas abertas a toda população que se encontra com um diagnóstico de câncer. Eles vão chegar aqui já com o diagnóstico feito pelo médico, serão acolhidos por todos os profissionais que estão preparados para recebe-los, e a família também receberá o apoio necessário nesse momento que é tão difícil.
Qual a importância da fisioterapia no tratamento?
Ana Carolina: Ela é muito importante, tanto no pré- operatório como no pós, tanto imediato como tardio. No pré-operatório, a fisioterapia atua bastante para ver como o braço da paciente vai estar antes da cirurgia. Como é uma cirurgia na mama, afeta muito o membro da parte superior, que é o braço do lado da mama operada. No pré-operatório já conseguimos avaliar se vai ter alguma complicação no braço, que pode ser agravada após a cirurgia. No pós, as mulheres podem apresentar inchaço no braço, que chamamos de linfedema, além da diminuição de amplitude de movimento. Então se ela já vem antes da cirurgia, já conseguimos melhorar a força do braço, ganhar essa amplitude. Aí após a cirurgia, esses sintomas tornam-se menos agressivos.
Qual a parte mais difícil após o descobrimento da doença?
Ana Amélia: Vou falar como psicóloga e de acordo com a experiência que tenho na área há 13 anos. Acredito que todas as pessoas que passam por essa doença, tem algumas fases que são extremamente difíceis. A primeira delas, é no momento em que a pessoa recebe o diagnóstico. A mulher, no caso do câncer de mama, acha que vai morrer, que não tem cura. Para a família também é muito complicado, ela não está preparada para receber a notícia, e muitas vezes sofre até mais que o próprio paciente. Um segundo momento, é quando a mulher descobre que durante a quimioterapia, vai perder o cabelo. É muito difícil, até por conta de aceitação, porque o cabelo é muito importante para nós mulheres. Outro momento muito complicado é quando ela precisa fazer a mastectomia, retirada total dos seios. O seio é uma parte muito importante do corpo que está ligado a feminilidade e autoestima. São momentos difíceis, mas se ela tiver um acompanhamento com profissionais da área, ela vai conseguir levar essa situação de uma forma mais tranquila.
Vocês acham que hoje em dia as mulheres se preocupam mais com a saúde?
Ana Amélia: Eu acho que sim, sem dúvidas. O número de pessoas com câncer de mama está evoluindo muito, essa doença é o mal do século. Sabemos que ela vai crescer cada vez mais. Daqui um tempo, a cada família, pelo menos uma pessoa vai desenvolver a doença. Eu acredito que as pessoas estão começando a se preocupar mais com a saúde, frequentam os ginecologistas, mastologistas, e eu acho que tem que ser assim. Nós temos que ir em busca de saber se está tudo certo, porque se for descoberto precocemente, a pessoa tem grandes chances de cura.
Por: Júlia Sartori