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Marcos Araújo teve a síndrome de Guillain Barré

Uma história de recomeço: Os difíceis dias com a Síndrome de Guillain-Barré

Marcos da Foto Líder sentiu uma dor na perna e horas depois estava paralisado; ele conta como superou a doença

Por Gilmar Ishikawa

Agosto de 2017. Numa quarta-feira, Marcos Araújo trabalhou e, como fazia semanalmente, depois do expediente iria jogar futebol com os amigos, o que era uma rotina. Mas uma leve dor na perna direita o incomodou ao longo do dia e ele decidiu que naquela quarta não participaria do tradicional encontro de meio de semana. Ficou em casa.

Por volta das 20 horas, com a dor aumentando e com um certo formigamento na perna, decidiu tomar um analgésico e se deitou.

Lá pelas 5 da manhã da quinta-feira, sentiu necessidade de ir ao banheiro e ao tentar se levantar percebeu que não conseguia movimentar as pernas. Chamou a esposa. E então se deram conta que algo de muito grave estava acontecendo. Marco tinha vontade de urinar, mas não conseguia. Todo o seu corpo, a partir da cintura havia paralisado. Era preciso ir ao médico, com urgência. O pai foi chamado para ajudar.

“Eu me lembro de colocar as mãos nos ombros do meu pai e sair praticamente me arrastando, da cama até o carro”, conta.

Doença neurológica

Marcos Araújo (Marcos da Foto Líder) deu entrada no pronto atendimento da Unimed. Nas horas que se seguiram, recebeu os primeiros cuidados e foi submetido a uma série de exames. Os médicos suspeitavam de doença neurológica. Como tinha vontade de urinar, mas a bexiga não funcionava, foi encaminhado ao urologista Dr. Flávio Soares Magalhães.

“Ele perguntou o que eu estava sentindo. Eu expliquei sobre o formigamento, a dor na perna e ele disse – nem vou abrir seus exames, você está com Síndrome de Guillain-Barré, mas é preciso fazer outros exames”, conta o ex-paciente.

“Quando ele falou isso eu pensei – depois eu faço esses exames. Mas ele já foi dizendo – você tem que ser internado imediatamente e eu vou te encaminhar para o Doutor Jorge Santurbano”.

Totalmente paralisado

Desconhecida pela maioria da população, a Síndrome de Guillain-Barré ou SGB é uma condição médica considerada relativamente grave, onde o sistema imunológico ataca o sistema nervoso periférico, provocando falta de reflexos, dormência e fraqueza muscular. Faz parte das chamadas doenças autoimunes.

Marcos Araújo, com sua esposa e filha

Marcos não tinha a menor ideia do problema e para os exames comprobatórios, foi submetido à retirada de líquido espinhal. Antes, porém, avisou ao médico que tinha medo de agulha, alertando que temia desmaiar. Entretanto, disse que nem sentiu quando a agulha espetou a espinha. “Perguntei: o senhor não vai fazer o exame? E na verdade o líquido já havia sido retirado. Eu não senti nada. Estava totalmente paralisado”.

Comprovada a severidade do caso, permaneceu internado por longos 18 dias na Santa Casa, período em que ficou totalmente dependente. Sem movimentos e contando com o apoio da família, dos médicos, técnicos e enfermeiros da Santa Casa. Desde o banho às necessidades fisiológicas. “Você vira uma criança”, diz.

Ainda no hospital, recebia a visita de uma fisioterapeuta, que buscava estimular os movimentos. “Pesquisei na internet e vi alguns casos. Pessoas acamadas havia 1, 2, 5 anos. Não vi nada animador. Parei de pesquisar sobre o assunto”.

Readaptação

Passada a fase aguda, o paciente recebeu alta e retornou para casa, de cadeira de rodas. A residência teve de ser adaptada. Marcos não tinha os movimentos das pernas. Não conseguia se levantar para ficar em pé. Não conseguia pegar no colo a filha, Isadora.

“Eu pensava – tenho que sair dessa cadeira. Minha filha vai crescer e o correto é que eu carregue ela e não o contrário”, relembra.

Ele continuou o tratamento e as sessões de fisioterapia oferecidas pelo plano de saúde. Além disso, contratou outra fisioterapeuta particular.

“Eu fazia fisioterapia duas vezes ao dia. Devagar fui conseguindo completar os exercícios. E me recomendaram que fizesse equoterapia. Eu pensei – cavalo eu tenho. Ninguém precisa me ensinar então eu mesmo vou fazer isso”, relata Marcos que, quando adolescente foi competidor de hipismo.

Todos os dias passou a ir ao sítio da família, montar a cavalo. “Tinha toda uma dificuldade. Encostava no muro pra poder montar e depois tentava equilibrar”, explica.

Ele foi se autoavaliando e sentiu progressos importantes na sua condição. A paralisia dava sinais de diminuição. Aos poucos conseguia mexer o dedo, levantar o pé e assim por diante.

“A minha filha ainda não caminhava. E a minha esposa brincava dizendo que havia uma competição entre nós para saber quem ia caminhar primeiro”, conta.

“E o dia mais marcante nessa história, foi 12 de outubro. Eu consegui andar, apoiado no andador. E foi marcante porque naquele mês a minha filha também havia começado a andar. Então, começamos a andar praticamente juntos”.

Marcos, que diz não ter uma convicção religiosa muito forte comenta: “Eu associei a minha volta a andar, naquele dia 12 de outubro, ao fato de ser o Dia de Nossa Senhora Aparecida. A fisioterapia, mais o cavalo, apressaram essa recuperação”, considera.

Meses depois já havia deixado a cadeira de rodas e andava apoiado em uma bengala. Um processo lento, mas progressivo.

Dois anos depois

No período em que teve internado e em recuperação, as atividades da loja de fotos foram alteradas, mas não pararam. Marcos disse que contou com a ajuda dos familiares e amigos, para não parar os projetos, afinal de contas, havia contratos para serem cumpridos. Aniversários, casamentos.

“Mas eu queria voltar a trabalhar. Então, quando foi em dezembro daquele ano, fui fotografar um casamento na igreja. Claro que havia uma equipe. Eu fazia alguma coisa, mas depois tinha que sentar”.

A experiência de voltar a fotografar começava a marcar a retomada da vida, anterior à Síndrome de Guillain-Barré.

A fisioterapia se alongou por mais ou menos 1 ano. Dois anos depois, ele voltou a jogar futebol.

Hoje, aos 43 anos de idade, Marcos comenta que não houve sequelas, entretanto, ainda desconhece o que possa ter desencadeado o problema. Pensa que pode ter sido o excesso de trabalho, o estresse do dia a dia. E, ressalta, por fim, que a experiência serviu para reavaliar a vida. Valorizar cada vez mais o tempo que passa com a família.

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