sexta-feira , 19 abril 2024
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A proposta da jovem é chamar a atenção da sociedade, faze-la refletir sobre problemas ambientais

Rio-pardense ganha prêmio do Parlamento Europeu

Com foco no meio ambiente, o trabalho alertou para o problema das queimadas

Gilmar Ishikawa

No dia 21 de setembro de 2021, parte da centenária Fazenda Pessegueiro foi consumida por um incêndio de grandes proporções. Talhões de café, pastagens, áreas de preservação permanente – boa parte formada por árvores nativas ou plantios de eucaliptos- e nas proximidades da sede e casas onde residem algumas dezenas de famílias, tudo virou chamas, fumaça e cinzas. Bombeiros, funcionários da propriedade e voluntários se mobilizaram em ações para tentar conter o fogo e evitar uma tragédia maior.

Nos dias que se seguiram foram realizadas as operações de rescaldo. Funcionários percorriam as áreas apagando pequenos focos que ainda restaram. Quando tudo terminou, matas e bichos haviam praticamente desaparecido.

O cenário desolador ficou à mostra sobretudo para quem transita pela estada vicinal São José-Mococa, via Vale do Redentor. Árvores caídas e outras que viraram carvão. Um vazio. Um cheiro de morte. Sem pássaros, sem saguis, lagartos e outros pequenos animais constantemente vistos ali.

E aquela cena de caos virou uma história reunindo uma bancária rio-pardense, uma produtora de cinema e o Parlamento Europeu.

Quase hobby

Aline Capellari é concursada em um banco estatal. Passa o dia a lidar com números. Geminiana tímida e ansiosa, gosta de fotografar cenas do cotidiano, elementos da natureza, a vida comum, os animais. Tudo registrado em ângulos e cores que às vezes apenas quem tem olhar apurado consegue enxergar. Conforme ela diz, a fotografia equilibra um pouco do estresse diário e, também, é uma terapia contra a ansiedade.

O quase hobby, que já tem cerca de 7 a 8 anos, vem sendo estimulado sobretudo pela companheira Jessyca Ferrari.

Jessyca é formada em cinema. Trabalha com publicidade, atuou com produção em set de filmagens e, por um período, também foi agente de saúde, na ESF Jardim São José. Mas, quando há necessidade, é ela a modelo fotográfica para os projetos da dupla.

Chamando a atenção

A parceria tem resultado em trabalhos autorais e neste meio acabaram sendo estimuladas a participarem de concursos e festivais audiovisuais.

No primeiro deles, promovido pela Mídia Ninja e Minas Ninja, Aline teve a foto “Congada – Poços de Caldas – 2019” selecionada para compor uma exposição virtual sobre festas tradicionais mineiras. Como foi no período da pandemia, o material também foi exibido por meio de projeções em prédios de grandes centros urbanos, dentre eles as cidades de São Paulo e Belo Horizonte.

As duas produziram um projeto que participou do 2º Festival Internacional de Videodança RS, promovido pelo Centro de Artes da Universidade Federal de Pelotas, a UFPEL, do Rio Grande do Sul.

O curta, “Ensaio para o início do fim”, com coreografia de Raquel Pereira e baseada em texto do líder indígena – ambientalista, filósofo, poeta e escritor, Ailton Krenak, chamou a atenção. Acabou selecionado para outros festivais: IV Festival de Danza Contemporánea Cuerpo al Descubierto, no México, II Festival Internacional de Dança do Rio Grande do Sul (FIVRS), Mostra de Danças Curtas de Belo Horizonte (Curta Dança BH) e VI IMARP – Mostra Internacional de Dança – Imagens em Movimento, de Ribeirão Preto.

Conquista internacional

No período da pandemia, com a quarentena e o isolamento social em alta, vieram outras inspirações para projetos fotográficos com foco na temática ambiental.

“Respirando o ar puro de um cilindro de oxigênio”- Foto foi premiada

Já neste ano, quase de última hora, produziram um ensaio fotográfico com objetivo de participar do concurso Shoot The Crisis – promovido pelo The Left in the European Parliament, um grupo composto pelo Partido da Esquerda Europeia e pela Esquerda Nórdica Verde, que juntos ocupam 39 cadeiras no Parlamento Europeu.

O concurso foi lançado para premiar duas fotografias com temática das mudanças e crise climática, aproveitando as discussões da COP26, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, ocorrida em Glasgow, Escócia, entre os dias 31 de outubro e 13 de novembro de 2021.

Para executarem a proposta, buscaram como cenário parte da mata da Fazenda Pessegueiro, que havia ardido em chamas no início da primavera. Naquele ambiente, a inspiração não seria outra, que não a destruição da natureza.

E foram produzidas as fotos. Jessyca foi a modelo. “Respirando o ar puro de um cilindro de oxigênio”, como se aquilo já fizesse parte do nosso cotidiano ou anunciasse uma normalidade futura, num mundo de florestas devastadas, árvores sem vida e ar impuro. Uma verdadeira provocação à indiferença da sociedade em relação aos problemas ambientais.

O trabalho foi inscrito. E veio o resultado: conquistou o primeiro lugar na escolha dos jurados. A premiação considera ainda o voto do público, que elegeu um outro vencedor.

Inquietude

A proposta das jovens é chamar a atenção da sociedade, faze-la refletir acerca dos problemas ambientais, que são muitos e não estão longe. São tão próximos que nos afetam diariamente.

Neste ano, o período de queimadas, por exemplo, resultou em vários dias com céu escurecido pela fumaça, ocorrência de chuvas de poeira em diversas cidades desta região, além das muitas doenças respiratórias da população.

Jessyca à esquerda e Aline à direita

Mas, como nem todos enxergam os problemas, elas resolveram usar a arte para chamar a atenção. “Vai chegar uma hora que nosso corpo não vai mais acompanhar todo esse faz de conta”, indagam na postagem de em uma das fotos.

“Até quando conseguiremos fingir normalidade?”, escreverem em outra publicação de temática ambiental.

O prêmio do concurso será recebido em equipamentos fotográficos, de uma loja da Bélgica.

Enquanto isso, preparam novos projetos. Porque o mundo não para, a degradação não para. E elas fazem a parte delas.

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