Kits de higiene bucal estão sendo distribuídos por profissionais que participam dessa campanha
A cirurgiã dentista Andrea Maria Acerbi Caram Fernandes, responsável pelo Centro Odontológico de São José do Rio Pardo e pela atual campanha de saúde bucal que vem sendo desenvolvida na Praça da Matriz, foi a entrevistada de Luis Fernando Benedito no Jornal do Meio Dia em 28 de setembro. Ela explicou as razões pelas quais o Centro Odontológico reduziu o atendimento ao público nesse tempo de pandemia, falou da campanha e deu dicas importantes sobre saúde bucal.
Andrea conta que neste período de pandemia surgiu a ideia de montar uma tenda na Praça da Matriz, com profissionais de odontologia paramentados, inclusive com face shield, para orientar a população sobre os cuidados com a saúde bucal. Essa equipe também faz a distribuição de kits de higiene bucal. Esse serviço vem sendo realizado de terça a sexta-feira, das 8 horas às 16 horas, aproximadamente.
“Já passaram muitas pessoas por lá, mas muitos ainda estranham, achando que tem que pagar alguma coisa. Não, é tudo de graça e o material é uma parceria com o governo do Estado, de um programa chamado Sorria São Paulo, com verba vindo exatamente para isso”, explicou a dentista.
Nas escolas
Andrea também informou que visitas estão programadas às escolas de São José do Rio Pardo com a mesma finalidade, mesmo que as mesmas estejam tendo apenas aulas virtuais. Ele lembrou que essa campanha já estava prevista antes mesmo do início da pandemia.
“A pandemia fez muita gente perder os cuidados básicos com a saúde bucal, que são a escovação de dentes após cada refeição e a limpeza com fio dental. O que a gente vê muito, principalmente no serviço público, é pessoas chegando com gengivite aguda e dizendo que escovam os dentes uma ou duas vezes por dia. Mas com a pandemia isso não é suficiente, porque quem fica em casa, especialmente em home office, come mais, come fora de hora e muda para pior o hábito da higiene bucal”, comentou.
Escovações diárias
Segundo a dentista, noventa por cento (90%) dos problemas de saúde bucal poderiam ser evitados se as pessoas tivessem o hábito de escovar os dentes e passar o fio dental corretamente todos os dias.
“A quantidade certa de escovação depende muito dos hábitos alimentares, mas o certo é escovar sempre após as refeições. Mas as pessoas acham que refeições são só almoço e janta, esquecendo que o café da tarde, o bolinho gostoso, também requer escovação. Uma receita simples de bolo tem pelo menos duas xícaras de açúcar, sem contar o próprio café, que já tem muito açúcar. São todos cariogênicos e requerem escovação também”, alertou.
Andrea recomenda que a escova de dente seja do modelo com cabeça pequena e cerdas macias, para alcançar os dentes do fundo da cavidade bucal. “A escovação adequada tem que pegar dentes e gengiva. Se a escova for muito dura, automaticamente faremos menos escovações e aí começam a surgir os problemas periodontais”, disse.

Cremes dentais
A dentista fez um alerta quanto aos cremes dentais, especialmente aqueles cujos fabricantes prometem clareamento ou benefícios extras. “Quanto mais coisas eles prometem fazer, maior a abrasividade deles. Ou seja, eles podem gastar a estrutura, o esmalte dentário. E também cria-se essa falsa ideia de que o dente está sendo clareado. Se a escovação não for feita adequadamente, ela (pasta de dente) vai acabar é manchando os dentes. Eles promovem sim um certo clareamento, mas não é algo muito notório e se a pessoa não escova adequadamente, e isso acontece com a maioria, eles irão manchar os dentes. Quer clarear os dentes? Procure um profissional, que irá indicar a forma correta de fazer”.
Ela explica que o dente tem um escurecimento natural que ocorre com a idade. A não escovação diária correta, porém, faz aumentarem as placas bacterianas, especialmente entre os dentes, com o acúmulo de restos de alimentos nesses espaços, os quais normalmente têm corantes; esses corantes também mancham os dentes.
Doenças bucais
São inúmeras as doenças bucais, desde os chamados “sapinhos” em crianças até o câncer bucal em adultos, passando pelas cáries e outros problemas. Andrea observa que sangramento gengival, por exemplo, pode ser sintoma de algo pior do que apenas problema periodontal; pode indicar alguma doença sistêmica.
“E, por outro lado, as doenças bucais podem ser agravantes para doenças sistêmicas. É difícil compensar um paciente com diabetes se ele tem um problema periodontal muito severo. E também tem doença bucal que pode provocar uma cárie profunda. Se o dente infecciona, a pessoa pode ter uma endocardite, um problema cardíaco e até levar a óbito. O crucial então é cuidar antes, mas o pessoal tem medo de dentista”, admitiu, recomendando que se vá a um dentista a cada seis meses, pelo menos.
Medo de dentista
O medo de dentista é igual em homens e mulheres, segundo ela. Parte desse medo decorre das técnicas e instrumentos usados anos atrás, inclusive os anestésicos, que eram tóxicos demais. Por causa dessa toxicidade, muitos dentistas faziam procedimentos “a sangue frio” (definição de Andrea) nos pacientes, o que cooperou para a difusão desse medo.
Com o passar dos anos, a odontologia aprimorou os anestésicos e até as agulhas, que agora doem menos que antigamente. Sem contar que agora existem as pomadas anestésicas, aplicadas antes mesmo das anestesias com agulha.
A extração de um dente, segundo a profissional, é a última coisa que um dentista deve fazer, já que ele sempre lutará pela preservação do mesmo. A falta de qualquer dente poderá acarretar no surgimento de outros problemas, inclusive maxilares.
Dentes sensíveis
Sensibilidade excessiva de algum dente também foi mencionada na entrevista. Andreia diz que geralmente isso ocorre por conta da retração da gengiva, que expõe o chamado “colo” dental, área sem a proteção do esmalte.
Andrea alertou as mães de crianças que mamam em mamadeiras no sentido de escovar os dentes delas, especialmente após as mamadas noturnas. Motivo: há muito açúcar nesses leites, aumentando os riscos de problemas dentários futuros. “Ideal seria levar essas crianças ao dentista a cada três meses”, recomendou.
Centro Odontológico
O Centro Odontológico funcionando parcialmente para atendimento ao público foi outro tema da entrevista. Uma norma do Conselho Federal de Odontologia, que segue orientação da Organização Mundial de Saúde, orienta que se evite os aerossóis, presentes nos “motorzinhos”. Dessa forma, todos os municípios do país suspenderam, por enquanto, muitos dos atendimentos odontológicos que prestavam antes da pandemia.
Com isso, no Centro Odontológico de São José do Rio Pardo, coordenado por Andrea, estão sendo atendidas somente as urgências – pacientes com dores muito fortes nos dentes, recebendo ações curativas e orientações. Os tratamentos completos, porém, que eram feitos antes estão suspensos, por enquanto.
“Estamos estudando o retorno gradual das próteses (dentaduras) porque isso é muito importante para as pessoas poderem se alimentar. Mas, por enquanto, estamos bastante limitados nos atendimentos, inclusive nos consultórios particulares, onde alguns procedimentos também devem ser evitados por conta da Covid”, concluiu.

Dra. Andrea Caram Fernandes, no estúdio da Difusora, é a responsável pelo Centro Odontológico