“Estamos mantendo a linha de atuação em larga escala para não deixar a criminalidade aumentar”, assegura o delegado Noronha
Um estudo feito pelo cientista político Túlio Kahn, membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que a pandemia vem provocando redução nos crimes patrimoniais, como furtos e roubos, nas capitais dos estados brasileiros. Em compensação, tem aumentado o número de homicídios dolosos.
Para saber se essas mesmas situações estão também ocorrendo em São José do Rio Pardo e região, a Gazeta e a rádio Difusora FM entrevistaram na quinta-feira, dia 18, o delegado Seccional de Casa Branca, Benedito Antônio Noronha Júnior.
“Nós fizemos um levantamento, um comparativo de janeiro a junho de 2019 e janeiro a junho de 2020. Mas aqui na região, pelo o que observamos, não vimos na nossa área, das oito cidades que abrangem nossa Seccional de Casa Branca, um número expressivo. Tivemos em 2019, dentro desse período que citei, em torno de 450 ocorrências de violências domésticas. Nesse período de 2020, tivemos na faixa de 396 ocorrências. Não houve um aumento de violência doméstica na região por conta do isolamento”, assegurou.
(Ele explicou depois, porém, que especificamente a questão do feminicídio aumentou na região da Seccional da Casa Branca, embora não tenha mencionado números. Os detalhes estão na matéria sobre o homicídio em Casa Branca).
“Especificamente em São José do Rio Pardo, que é uma cidade muito pacífica, temos um índice baixo, principalmente na área de homicídios. Tanto é que para nós, quando acontece um caso desses em São José do Rio Pardo, causa-se um aumento de 100%, porque nossa meta para a cidade é 0, perante a Secretaria Estadual de Segurança”, justificou.
“Furtos e roubos em São José do Rio Pardo realmente teve um decréscimo, uma diminuição significativa. Algumas cidades como Mococa, tiveram um aumento, lá subiu o número de roubos, tanto é que fizemos uma operação grande lá na semana passada, justamente para tentar coibir essa questão patrimonial que está meio interligada com o crime do tráfico. Esses pequenos furtos são praticados por usuários de drogas para a manutenção do uso da mesma”, relatou.
Operações
“Estamos mantendo as operações, a linha de atuação em larga escala, para não deixar a questão da criminalidade aumentar. A polícia abriu a possibilidade das pessoas fazerem suas queixas via boletim eletrônico. Ao meu modo de ver houve uma manutenção, não vi números fora do normal. Talvez porque tenhamos uma população das oito cidades em torno de 250 mil pessoas, não tivemos grandes modificações, mesmo porque acho que nossa rotina começou a mudar um pouco mais. Pode ser, entretanto, que esse panorama até tenha alteração”, continuou o delegado seccional.
Efetivo e grupos de risco
“Temos muita gente no grupo de risco, principalmente na Polícia Civil, que tem um vida útil mais longa. Temos muitos policiais na faixa de 50, até 70 anos, quase saindo na expulsória, como costumamos brincar. Considerando a vida desregrada dos policiais, que não tem horário para almoço, janta, não dormem, quando dormem, dormem pouco, ao longo da carreira desenvolvem doenças”, lembrou.
“Dificilmente vai encontrar um policial que com 20 anos de carreira não tenha alguma doença e não esteja no grupo de risco. Mas a polícia, dentro do que pode, muitas vezes vai além, temos uma lista grande de policiais que vieram a óbito, e que foram contaminados pelo Covid. Graças a Deus, no interior ainda é um número pequeno. Desde o primeiro momento tentamos manter os policiais seguros, mas sabemos que os policiais não podem ficar em casa, precisam atender as ocorrências, conter as pessoas, têm um contato constante. Não tem muito o que fazer. Foram suspensas as férias e licenças nesse período justamente para ter um efetivo de policiais para poder dobrar as escalas e ter condições de atender a população”, explicou.
Presos
“Muitos presos saíram (das cadeias ou penitenciárias) por conta do Covid e já voltaram a ser presos por cometerem outros crimes. Talvez não fosse essa a solução para resolver o problema dos presos, soltá-los talvez não tenha sido a melhor opção. Infelizmente muitos deles saem e voltam para o crime”, concluiu Benedito Noronha.
Homem mata ex-companheira a facadas
Segundo o delegado, número de feminicídios aumentou na região
Um homem de 44 anos assassinou sua ex-esposa de 38 anos na noite de terça-feira (16), com várias facadas, após uma discussão na casa da vítima. O crime aconteceu por volta das 21h30 em Venda Branca, distrito de Casa Branca. A Polícia Militar esteve no local com o objetivo de localizar o autor do feminicídio, que ainda não foi encontrado. Durante a entrevista do delegado Benedito Noronha ao jornal e à Difusora, ele comentou sobre o fato.
“Ele não aceitou a situação e foi até a casa dela, golpeando-a várias vezes com uma faca. Ele está foragido, a polícia, desde quarta-feira, dia 17, passou o dia na zona rural de Venda Branca, inclusive com uso de drone. Encontramos a moto em que ele fugiu, mas até o momento ele não foi localizado”, relatou.
“Não vamos medir esforços para prendê-lo, porque é uma coisa que nos entristece, que choca, não só a população, mas nós que estamos na polícia há muitos anos, também nos perturba. O mínimo que a polícia pode fazer, é localizar esse homem e leva-lo para a justiça, para que ele tenha um julgamento dentro da lei”, disse Noronha.
“O feminicídio, em relação ao mesmo período do ano passado, aumentou. Na nossa área aqui tivemos um aumento nesse período. Trabalhamos com períodos bimestrais agora, e somando o total, em comparação com o ano passado, realmente houve um aumento”, confirmou.
Registros de crimes sexuais aumentaram
Ainda de acordo com o delegado seccional de Casa Branca, Benedito Antônio Noronha Júnior, os registros de crimes sexuais também aumentaram na região.
“Teve um aumento nos crimes sexuais, mas não acredito que seja em razão da pandemia. Temos uma quantidade de registros de estupros de vulneráveis, de crimes sexuais, principalmente envolvendo crianças e adolescentes, por familiares. Mas acho que a questão do aumento veio pela própria imprensa, os meios de comunicação estão trazendo mais segurança para que as pessoas possam denunciar”, opinou.
“Tenho comigo, pelos anos de profissão, que isso é algo que já ocorre há muito tempo, mas antes era algo fechado, e muitas vezes criticado, quando se trazia isso ao conhecimento das autoridades. Hoje com as informações que a imprensa traz, com a globalização das informações, as pessoas tem trazido essas denúncias. A mãe denuncia, e se a mãe não sabe, muitas vezes o professor da escola toma conhecimento que o aluno sofre algum tipo de perturbação e aciona o Conselho Tutelar. Então é algo que já vem de algum tempo com a mídia, as pessoas estão tendo força para denunciar”, explicou.