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Dr.Marcelo Galotti, infectologista

Casos de Covid estão subindo, alerta infectologista

Vacina continua sendo importante para evitar mortes e casos graves, mas subvariantes preocupam

De acordo com levantamento feito pelo portal G1, o Brasil registrou, em junho de 2022, 4.739 mortes pela Covid-19, em uma alta de 49,2% em relação a maio. É a primeira vez que o número de óbitos pela doença aumenta de um mês para outro desde fevereiro. Apesar do aumento de mortes em número absoluto, a letalidade da doença – número de mortes em relação ao número de casos conhecidos – caiu de um mês para o outro. Isso porque maio registrou pouco mais de 570 mil casos da doença, enquanto junho teve mais de 1,3 milhão de casos.

No dia 29 de junho, quarta-feira, o infectologista Marcelo Galotti participou do Jornal do Meio Dia da Rádio Difusora, e falou sobre o cenário da Covid, incluindo as características das novas subvariantes da ômicron.

Situação de alerta

Marcelo revelou que o aumento de casos e internações de maneira geral, pode ser um alerta. “Há três semanas os dados da Covid-19 estão subindo. Desde abril não ultrapassávamos 200 mortes em média móvel. Embora os números ainda sejam baixos, é um alerta para um possível início de uma nova onda. Este é um momento que quem for vulnerável deve continuar usando a máscara e evitar aglomerações. Até mesmo os hospitais se observarmos estão aumentando as internações. É um momento em que nós devemos começar a nos preocupar”, disse o médico.

Escape imunológico

Segundo o infectologista, a vacinação continua longe do considerado ideal e a situação ainda é agravada pela presença da variante ômicron. “Antigamente tínhamos duas doses e um reforço. Com a ômicron, temos como vacinação básica, três doses. Com essas três doses, temos nesse momento, 56% da população brasileira vacinada, isso levando em consideração apenas os susceptíveis, porque se incluirmos crianças neste cálculo, vai para menos de 50%. A expectativa de vacinação para a proteção contra a ômicron, é atingir 92% da população”, declarou.

Apesar do escape vacinal ocasionado pelas subvariantes da ômicron, o imunizante ainda protege contra mortes e casos graves. “É muito importante vacinar”, completou.

Subvariantes

Segundo matéria publicada pela CNN Brasil, as subvariantes BA.4 e BA.5 do novo coronavírus conseguem escapar dos anticorpos de pessoas que tiveram infecção anterior por Covid-19 e aquelas que já receberam a dose de reforço da vacina, de acordo com novos dados de pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard. O infectologista comentou o motivo.

“Quando os casos da ômicron subiram em janeiro, fevereiro e março, o que prevaleceu foi a subvariante BA.1 e a BA.2. Se formos investigar essas subvariantes hoje, a BA.1 está presente em menos de 1% da Europa, nos EUA e Reino Unido. A BA.2 nitidamente está em queda. O que está acontecendo é que estão subindo os casos de outras duas variantes, a BA.4 e a BA.5. Elas serão dominantes em breve, em uma semana elas subiram de 29% para 35% como variantes dominantes, e dentro de pouco tempo teremos as duas circulando na maior parte do mundo. A Universidade de Colômbia fez um estudo em jovens americanos e percebeu que quem teve Covid pela ômicron BA.1 ou quem foi vacinado, responde mal a invasão da BA.4 e BA.5. Harvard resolveu quantificar isso e fez um estudo controlado, que mostrou que a produção de anticorpos dos indivíduos contra BA.4 e BA.5 é um terço do que era produzido antigamente”, explicou.

“ Sucedendo a variante Delta, a ômicron apareceu com 52 mutações. O spike que é a proteína que tem no vírus, que acopla na célula hospedeira, possui 32 mutações. A facilidade com que ela forma mutantes é muito grande. Foi publicada na revista Nature que indivíduos vacinados com o vírus antigo, da China, ou que tiveram Covid por BA.1 e BA.2, vão responder mal. Portanto, o vírus adquiriu uma mutação que a imunidade do indivíduo afetado não está funcionando muito bem”, pontuou.

No entanto, Marcelo reforçou que a vacina continua sendo necessária para evitar mortes e internações. “Mas já está na hora da indústria farmacêutica modificar o antígeno da vacina atual, que já tem dois anos. Eles precisam mudar e colocar um antígeno mais atualizado para recuperar as vacinas”, observou.

Transmissão e patogenicidade

Em relação a transmissão, as variantes alfa, gama, beta, delta, ômicron, BA.1, BA.2, BA.3 e BA.4, desde a primeira, até a última citada, a transmissibilidade continua crescendo. “Quanto a patogenicidade, a primeira alteração que teve nessa sequência de variantes e subvariantes, só a ômicron apresentou. Mas essa alteração foi benéfica, pois a ômicron é considerada menos agressiva. Quanto as suas subvariantes, não existe nenhum dado mostrando que entre elas, há variações. Só sabemos sobre o escape vacinal da BA.4 e BA.5. Mas a patogenicidade é aparentemente idêntica”, relatou.

Vacina anual

Segundo o médico, o ideal seria a aplicação de uma vacina anual contra a Covid, em apenas uma dose, assim como ocorre com a vacina da Influenza. “Este é um grande sonho. Que possamos sair do velho vírus de Wuhan, porque todas as vacinas são feitas através do SARS-CoV-2, mas o vírus já se modificou muito. O correto seria fazer uma vacina como da Influenza, que seja atualizada anualmente, para reforçar uma vez por ano”.

“A Moderna, empresa americana altamente subsidiada pelo governo, apresentou recentemente uma tentativa de trabalhar em cima da ômicron. Eles apresentaram uma vacina que era um espetáculo, que apresentava um aumento de seis vezes o nível do anticorpo, que era tudo o que sonhamos em cima da ômicron. Quando eles foram apresentar o trabalho para a imprensa científica especializada, questionaram o antígeno que eles utilizaram, e a resposta foi que usaram o BA.1, que hoje está presente em menos de 1% do mundo. Ou seja, fizeram uma vacina que não funcionaria bem contra as novas subvariantes. O problema é que as variantes aparecem muito rápido, então quando eles conseguem coloca-la como antígeno na vacina, já estão surgindo outras. Mas o grande sonho de todos é ter uma vacina anual contra essa doença”, comentou.

Crianças

Para Marcelo, ao contrário do que se pensa, as crianças foram as grandes vítimas da pandemia. “Como elas tinham um quadro leve, e chegaram até a questionar se elas pegavam menos a doença, ninguém cuidou das crianças. Mas sim de vulneráveis, imunodeprimidos, idosos, diabéticos, e deixaram elas de lado. A morte de crianças no Brasil é de 15 a 20 vezes maior em comparação aos países da Europa, porque em países subdesenvolvidos, temos questões de pobreza, como falta de escola, falta de respaldo em saúde, má nutrição, e as custas disso, essas crianças quando pegam a doença, desenvolvem a forma grave, além de serem uma fonte permanente do vírus para transmitir aos avós e a outras pessoas. Elas pagaram um preço alto, e agora com a vacinação precisamos cuidar das crianças”, observou.

Novo exame

Um exame de sangue recentemente desenvolvido nos Estados Unidos é capaz de determinar nas pessoas a qualidade da imunidade celular contra a Covid. O infectologista falou sobre esta nova conquista.

“Quando falamos sobre imunidade contra a Covid-19, estamos falando em anticorpos. O anticorpo é um bom indicador para fins de vigilância. Ele mostra se a pessoa teve ou não Covid e há quanto tempo. Mas o grande pilar da imunidade, é a celular, feita por linfócitos. Esse tipo de imunidade, em laboratório é possível trabalhar, mas não conseguimos fazer isso na comunidade.  O pessoal do Mounth Sinai de Nova York elaborou praticamente um teste rápido em que coleta 0,5 ml de sangue, mistura com os linfócitos E, e produz uma substância, que por PCR é quantificada e dá uma informação da imunidade celular, o que é maravilhoso. Porque temos os dados sobre a imunidade circulante e também a celular. Se isso for bem usado, será possível até barrar a epidemia, porque com isso é possível estudar essas imunidades, avaliar quem está bem nesse quesito, e só seriam vacinadas as pessoas com uma imunidade falha. O grande aceno dessa quinzena foi a possibilidade de detectar a imunidade celular”, encerrou.

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