domingo , 5 maio 2024
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Autismo: conhecer para entender, respeitar e incluir

Dados sobre os diagnósticos apontam que o transtorno do espectro autista atinge mais as pessoas do sexo masculino

Este sábado, 2 de abril, é marcado como o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, data instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), com o objetivo de levar informação à população para reduzir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentam o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

O tema é complexo, a inclusão social do autista ainda é falha e ainda faltam políticas públicas para melhorar o atendimento a esse público.

Além dos professores especializados para promoverem a inclusão escolar, um dos profissionais que também atuam diretamente com os autistas são os terapeutas ocupacionais, que buscam identificar e estimular as aptidões e talentos dos pacientes, promovendo a inclusão, despertando a profissionalização e desmistificando a síndrome de TEA.

Para marcar essa data e chamar atenção para a causa, Gazeta do Rio Pardo promoveu nesta semana uma entrevista com a com a terapeuta ocupacional Márcia Biegas e Larissa Gundes Toqueti, estagiária do último ano de Terapia Ocupacional da Universidade Federal de Minas Gerais. Também falou para o jornal, a professora especialista Rosângela dos Santos Ferreira.

Diagnósticos crescentes

De acordo com a terapeuta Márcia Biegas, o número de diagnósticos do autismo tem crescido por todo o mundo. Ela observa, entretanto, que os dados relacionados ao Brasil ainda são muito imprecisos, mas têm como base os percentuais do Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC) – uma organização multiprofissional dos Estados Unidos, que serve de referência aos profissionais brasileiros.

“Esse levantamento, de março de 2020, ou seja, antes da pandemia, apontava que 1 em cada 54 indivíduos apresenta autismo. Lá em 2004, era 1 a cada 166 pessoas. Ao longo dos anos essa proporção tem diminuído cada vez mais. Em 2012, os dados mostraram 1 caso a cada 88 indivíduos e em 2018, a cada 59 pessoas 1 apresentava o Transtorno do Espectro Autista”, descreve.

Para a terapeuta, o aumento de detecção dos casos pode estar relacionado a duas possibilidades: “Houve um crescimento no número de autismo entre as pessoas ou aumentaram os diagnósticos. Esta segunda opção é mais crível, pois houve melhora na informação. As pessoas buscaram mais os especialistas para tentar diagnosticar o problema”, completa.

Larissa Gundes, estagiária, e Márcia Biegas, terapeuta ocupacional

Ela ressalta que a prevalência do autismo tem se mostrado maior nas pessoas do sexo masculino, “numa proporção de 1 menina para cada 4 meninos”, diz.

“Por isso a importância da qualificação e das pessoas estudarem sobre o tema. Tem que se tomar muito cuidado quanto a procurar pelos profissionais na busca pelo diagnostico”, avalia.

Quais são os sinais mais característicos de uma pessoa que tem Transtorno do Espectro do Autismo?

O autismo é caracterizado por três grandes características relacionadas a comunicação, interação social e comportamentos repetitivos e restritivos. Outros sinais também podem ser observados, como disfunções sensoriais, motoras, emocionais e cognitivas.

Como é que se chega ao diagnóstico do autismo?

O diagnóstico é feito através de avaliações multiprofissionais, que inclui profissionais de terapia ocupacional, psicólogos, fonoaudiólogos e médicos capacitados. É importante considerar a história da criança e a observação dos sinais clínicos para que os diagnósticos não sejam equivocados. A partir da identificação dos sinais ou a conclusão do diagnostico, recomenda-se que sejam iniciados os acompanhamentos e intervenções multiprofissionais.

O autismo é considerado uma patologia?

Não, o autismo não é uma doença. As pessoas com autismo apresentam um transtorno do neurodesenvolvimento complexo e muito comum. Cada pessoa com autismo apresentam um funcionamento cerebral e características que podem variar de pessoa para pessoa.

Quais são os graus de autismo e o que isso representa em termos comportamentais?

Muito tem se debatido a respeito dessas terminologias, tanto na literatura científica quanto na comunidade de pessoas com autismo. Atualmente existem classificações que indicam o nível de suporte, ou seja, quanto de ajuda ou assistência que aquela pessoa precisa para realizar suas atividades. Esses níveis levam em consideração as questões relacionadas a comunicação e interação social. É preciso refletir que não existe uma pessoa mais ou menos autista e por ser um espectro com inúmeras variações, cada pessoa é única, as individualidades e habilidades precisam ser consideradas

Qual é o papel da terapia ocupacional na reabilitação ou inserção social do autista?

O nosso objetivo é que as pessoas com autismo participem das atividades que elas querem e desejam de forma independe, autônoma e com segurança. Nosso papel é identificar quais habilidades são necessárias para essas atividades e quais as dificuldades encontradas por essas pessoas, famílias e escola. As intervenções devem ser pautadas em evidências científicas, ainda é necessário considerar as prioridades e desejos de cada família e individualidades de cada pessoa.

Muito se fala sobre proteger os autistas em relação aos ruídos e sons altos. Qual é a interferência destes fatores na estabilidade do autista?

As pessoas com autismo respondem de diferentes formas aos estímulos. Algumas são mais sensíveis a barulhos outras não. Crianças mais sensíveis tendem a se irritarem mais o que pode levar a uma crise e nessas crises elas agem de diversas maneiras e até mesmo podem acabar se envolvendo em acidentes, por isso a cautela com os sons altos.

Quando da agitação/inquietação ou nervosismo de um autista, como as pessoas que convivem com ele devem proceder?

Precisamos conhecer cada pessoa e quais são as fontes que causam estresse e conforto. Todas as ações devem ser pensadas individualmente para cada família. Terapeutas Ocupacionais auxiliam na identificação desses fatores e apresentam estratégias que podem contribuir com a rotina dessas pessoas.

“A inclusão da criança com TEA vai além de um simples ‘estar em uma sala de aula da rede regular”, diz professora

A educação funciona como uma porta de entrada para a evolução e o desenvolvimento de qualquer ser humano, tenha ele necessidades especiais ou não. Para o autista, não é diferente. As crianças com autismo podem ter dificuldade para planejar, organizar e completar tarefas. É fundamental que a escola faça parte do cotidiano da criança, desde o início de sua infância. No entanto, os profissionais precisam estar qualificados e preparados para iniciar o processo de aprendizagem das crianças, para que elas possam evoluir mais a cada dia, e superar os obstáculos que encontrarem pelo caminho.

O jornal entrevistou Rosângela dos Santos Ferreira, professora da escola Cáritas há 19 anos, formada em psicopedagogia, especialista em Educação Especial e Deficiência Intelectual, pós-graduada em Educação do Ensino Estruturado para Autistas e Análise do Comportamento Aplicada (ABA).

Rosângela dos Santos Ferreira, professora e psicopedagoga especialista em ABA

Atividades pedagógicas

A profissional atua junto ao Cáritas que atende 72 alunos com autismo. São no máximo 6 alunos por classe, sendo 39 pela manhã e 33 alunos à tarde.

“Os alunos com TEA necessitam de uma rotina organizada, estabelecida com o plano individualizado de cada criança. Na rotina temos as atividades acadêmicas e como complemento, atividades extraclasse, como fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia, equoterapia, natação, hidroterapia, informática, brinquedoteca, biblioteca, musicoterapia, educação-física, nutrição e assistência social. A equipe é composta por profissionais especializados em cada área de atuação”, disse.

Segundo a profissional, as atividades pedagógicas são fundamentais para o desenvolvimento e a socialização das pessoas com TEA, visto que os autistas apresentam dificuldades em comunicação, comportamento social, motora, e na integração sensorial. “Algumas estratégias e atividades pedagógicas contribuem para que o processo de aprendizagem do autista seja eficaz e ele se torne mais independente. Vale ressaltar que o plano de ensino e atividades voltadas para os autistas devem ser individuais, uma vez que cada pessoa com o TEA é única e tem suas particularidades e limitações que devem ser respeitadas. Por isso, os professores precisam de estratégias pedagógicas para abordar cada uma dessas áreas”, explicou.

Para que a criança se desenvolva bem, é necessário ter atividades adaptadas de acordo com as necessidades de cada uma, rotina visual e estruturada, além de materiais concretos e estruturados, estímulos visuais e dicas visuais para maior entendimento.

“Outra ferramenta que pode ser aliada no aprendizado dos autistas é a tecnologia, usar aplicativos, softwares e outros programas virtuais são bastante eficazes e contribuem para o desenvolvimento. É importante que o aluno tenha tempo e o professor paciência para explicar a atividade quantas vezes for necessário para que a criança consiga absorver a informação”, afirmou Rosângela.

Dificuldades

Para a professora e psicopedagoga, a maior dificuldade está ligada aos problemas comportamentais. “Vivencio diariamente alunos com barreiras comportamentais que apresentam a recusa em fazer atividades ou seguir rotinas e regras, prejudicando assim a aprendizagem”, pontuou.

Apesar das dificuldades, Rosângela fala que se sente realizada. “Acredito que como professora tenho a capacidade de transformar vidas e também ser transformada por amor”, e cita o educador Paulo Freire dizendo que “Não há educação sem amor”. 

Inclusão na educação

Para a professora, apesar da inclusão estar presente pelo menos teoricamente no cotidiano, existe falta de preparo na rede pública para atender alunos especiais.

“Nunca a palavra inclusão esteve tão presente no dia a dia das pessoas e das escolas, e todos estão cientes que as diferenças devem ser aceitas e acolhidas. Porém, quando se fala em inclusão do autista na rede pública de ensino, penso também no professor, pois muitas vezes não estão preparados para receber os alunos devido a rede não oportunizar a educação continuada para os professores. A inclusão da criança com TEA deve estar muito além de um simples ‘estar em uma sala de aula da rede regular’, a inclusão deve almejar sobre tudo uma aprendizagem e o desenvolvimento das habilidades e potencialidades, superando as dificuldades”, comentou.

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