Psicólogo fala sobre depressão, importância da família, influência das redes sociais e tratamento
O mês de setembro chegou, e junto com ele, a campanha de prevenção ao suicídio, “Setembro Amarelo”. De acordo com o site da campanha, todos os anos são registrados cerca de 12 mil suicídios no Brasil e mais de um milhão no mundo.
Segundo a cartilha ‘Suicídio: informando para prevenir’, o número de vidas perdidas, anualmente em todo o mundo, ultrapassa o número de mortes decorrentes de homicídio e guerra. Estima-se que até 2020 poderá haver um incremento de 50% na incidência anual de mortes por suicídio.
A Gazeta do Rio Pardo conversou com o psicólogo Ângelo Missura Neto, que trabalha na área clínica de atendimento psicológico para adolescentes, adultos, família e casal, para explicar mais sobre o tema.
Suicídio
“Hoje temos vivido tempos muito difíceis, onde as pessoas perdem o sabor da vida, a descrença, o medo, a insegurança e principalmente o desamparo tomam conta. É um sentimento de despreparo. Isso leva o ser humano a ter uma descrença sobre a vida externa e interna. Essa descrença da vida interna, pode levar a alguns casos de depressão, que segundo a OMS ( Organização Mundial da Saúde), é uma das doenças mais recorrentes no mundo. Sabemos que 30% dos casos de depressão, podem levar ao suicídio”, explica.
Redes Sociais
“As redes sociais são um dos grandes achados da humanidade. Uma das tecnologias mais brilhantes que existe. Porém, é uma das coisas mais complicadas também, porque leva a esse isolamento, temos muitas pessoas com dificuldade de relacionamento. E a esperança, a crença nas coisas, se dá as relações humanas, a comunicação. Infelizmente, um dos pontos negativos da internet e das redes sociais é justamente o isolamento. Ele é umas características que leva ao sofrer. Porque ao se isolar, você pensa que está sozinho, você não compartilha seus sentimentos, suas inseguranças ou medos”.
“O que acontece nas redes sociais é cair na questão da idealização, tudo parece ser perfeito. Eu sempre digo para a pessoa não olhar as redes sociais quando estiver triste. Porque lá todo mundo é bonito, todo mundo está em festa e viajando. E aí a pessoa pensa que ela é o contrário de tudo isso que vê. As pessoas só colocam as imagens dos momentos bons no Facebook”.
“Esses jovens, através das redes sociais podem entrar nesse movimento profundo de tristeza, de doença. Mas não por uma tristeza de condições naturais da vida, e sim pela idealização das expectativas. As redes sociais mostram expectativas”.
“Uma das coisas que me deixa preocupado, é quando pergunto pra um jovem o que ele quer da vida, e ele responde que quer ser rico. E a minoria das pessoas serão ricas. Não dá para ser rico antes dos 30 anos, e eles querem ser milionários. A rede social propaga muito isso. Uma riqueza fácil, carro fácil e vida fácil. Com tudo isso, muitas vezes vem o uso das drogas, que são micro suicídios. As pessoas vão se matando aos poucos. Tudo isso pela tristeza da expectativa”.
“Claro que não vamos excluir as redes sociais das nossas vidas. Mas devemos ter critérios de uso, do tempo em que navegamos, e jamais devemos substituir isso por relacionamentos”, diz o psicólogo.
Família
“A família é extremamente importante, porque ela vai observar a pessoa que está triste, que está isolada, ela demonstra sinais. É preciso que a família esteja atenta. É próprio na fase da adolescência um certo isolamento, um certo retraimento. Isso é algo do adolescente. Mas os pais e amigos precisam saber o que ele faz quando está isolado, quais os sites que ele acessa, conhecer os amigos, saber onde a pessoa vai, com quem vai, que tipo de música ouve. A pessoa vai dando sinais de que algo não está bem. Nesse mês de setembro, é um período em que começamos a ter uma atenção maior com relação as pessoas”.
Sinais
“Quando você vê que tem um familiar que não almoça junto, não janta junto, não toma café junto, não convive com a família, é um sinal preocupante. Temos que saber o que esse jovem está pensando. Quando começa todo esse isolamento, e a falta de participação nas atividades, em qualquer coisa, a pessoa pode ter o pensamento de tirar a própria vida”.
Depressão
“A depressão é uma doença que atinge todas as faixas etárias. Ela começa com sintomas físicos, de não querer encontrar pessoas, perder a autoestima, não querer tomar banho, não querer comer, ficar muito tempo em um quarto escuro. É como se fosse uma recusa para viver a festa que é a vida. A vida é uma festa, e o depressivo se recusa a viver essa festa porque ele acha que não vai dar conta de viver a alegria que a vida pede para nós”.
“Muitas vezes o depressivo não gosta do sol, porque o sol é vida. Mas em contrapartida, a noite apavora. Durante o dia ele fica em um quarto escuro, e a noite ele sai para viver. É uma característica interessante do depressivo, querer viver a noite porque é quando o resto do mundo para”.
Tratamento
“A medicina tem muitos recursos que podem ajudar no tratamento da depressão. Tem duas formas de tratamento. A linha medicamentosa, que o psiquiatra proporciona. Junto com a medicação tem a psicoterapia. Que é o momento em que a pessoa pode falar sobre seus conflitos, viver os graus de expectativa, as histórias, é um momento de reflexão. Essas terapias podem ser feitas de maneira individual ou em grupo”.
“Além disso, existem grupos de autoajuda que são fundamentais para esse tipo de problema. Atividades artísticas, esportivas, ajudam muito, a pessoa começa a enxergar um sentido na vida novamente”.
“O suicídio acontece quando a pessoa perde o sabor da vida, e não podemos deixar isso acontecer”.
Prevenção
“Quando se fala em prevenção ao suicídio, eu acredito que temos que falar o contrário, temos que falar sobre a vida. Falar sobre a vida é falar sobre as possibilidades, expectativas que podemos construir. Quando falamos em prevenção, estamos falando sobre o sabor que a vida pode ter”, afirma.
“Precisamos falar para essa juventude que tem muita coisa para descobrirem. Para ter uma ideia, dizem os especialistas que nos próximos 15 anos, 60% das profissões serão novas, ainda nem existem. O jovem hoje está em uma descrença por não ter emprego, por achar que não terá um futuro. Mas não é assim, tem um futuro brilhante pela frente, muitas coisas a serem descobertas. Por isso, temos que falar da vida, e ter esperança. A depressão é a falta de esperança”, encerra.
Entrevista: Luis Henrique Tobias
Texto: Júlia Sartori