quinta-feira , 18 abril 2024
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Marcelo Galotti, infectologista

Com falta de vacinas, estudo clínico avalia eficácia de meia dose da AstraZeneca

Pessoas com neuropatias crônicas foram inseridas no grupo prioritário de vacinação

O Brasil atingiu 500 mil mortes por Covid, enquanto o mundo todo ultrapassou 178 milhões de casos, além de 3,86 milhões de mortes registradas pela doença. O cenário pandêmico da maioria dos estados brasileiros, é considerado estável, no entanto, com alto índice de mortes e casos novos da doença. Na quarta-feira, o infectologista Marcelo Galotti, fez um balanço sobre a situação da pandemia, falou sobre a marcha da vacinação no país e no mundo, e comentou sobre o desenvolvimento de novos medicamentos que estão em estudos para coibir a evolução do coronavírus no organismo.

Estabilidade e elevação de casos

“Um dos problemas, é que estamos com a estabilidade da doença em níveis altos. A situação é relativamente estável, mas em um grau elevado de casos e mortes. Além disso, 21 dos estados brasileiros estão estáveis e aumentando os casos. A perspectiva descrita por epidemiologistas, é que ao persistir assim, podemos chegar a 700 mil casos totais, 5 mil mortes por dia e mais de 100 mil casos novos. Estamos em uma situação bem preocupante. Segundo epidemiologistas conceituados, a única saída para segurar esse aumento de mortes e casos, é um lockdown de 60% de manutenção das pessoas em casa. Para termos noção da intensidade dessa medida, apenas o estado de São Paulo conseguiu uma única vez, um lockdown de 57%”, relatou.

Cenário mundial

Segundo Marcelo, dos dez países que mais morrem pessoas de Covid, oito deles estão localizados na América Latina, e o campeão é o Peru. “A Ásia vive um momento bastante complicado por causa da Índia, mas eram 400 mil casos por dia, agora são 100 mil, ainda é uma situação muito grave, mas um pouco mais amena do que anteriormente. Temos resultados positivos nos países da Europa, da Oceania, e América do Norte. Eles vivem em um momento de reabertura, mas um novo dado fez com que alguns deles voltassem atrás em algumas medidas liberais, eles estão com medo da variante indiana, a Delta”, destacou.

Marcha da vacinação

Até sexta-feira (18), o Brasil cadastrou 82 milhões de doses da vacina contra a Covid-19, que foram aplicadas. “ Vinte e quatro milhões de pessoas tomaram as duas doses, o que resulta em mais ou menos 11,4% da população. Isso preocupa, porque já passaram 5 meses desde a liberação das vacinas, e temos apenas 11,4% de vacinados. O maior problema é a lentidão, e uma consequência disso, é que o ser humano funciona como se fosse uma evolução natural da doença, a chance de surgirem variantes é muito grande, porque a multiplicação é muito grave”, ressaltou.

“Existem acenos de que iremos receber mais doses, mas o fato real é a doação que os EUA fez de 3 milhões de doses da Janssen, que estão prestes a vencer. Elas precisam ser aplicadas rapidamente, mas é uma vacina fantástica. Apesar disso, dentro do projeto do Ministério da Saúde, houve uma diminuição de 4 milhões de doses de maio em relação a junho. Este é um problema do Brasil, a vacinação está muito devagar”, afirmou.


Meia dose da AstraZeneca

A cidade de Viana, no Espírito Santo, começou neste domingo (13) a vacinação em massa da população com meia dose do imunizante da AstraZeneca, produzida pela Fiocruz, em duas aplicações.  O objetivo do estudo é avaliar a diminuição nos números de casos da Covid-19, com internações e mortes. A iniciativa é justificada devido à falta de vacinas para imunização em massa.

“À partir de uma ideia da Universidade de Oxford, através de estudos, eles sugerem que se for utilizado metade da dose da AstraZeneca, é possível obter o mesmo efeito. A cidade de Viana fica em uma região metropolitana de Vitória, é bastante isolada, o que ajuda muito nos estudos. Só serão vacinados jovens de 20 a 50 anos. A ideia, é de que se eventualmente a vacina concretizar a proposta de meia dose, para o Brasil será uma maravilha, porque a compra de doses dobra”, relatou. 

Neuropatias crônicas

O infectologista explicou sobre a inserção de pessoas com neuropatias crônicas no grupo prioritário de vacinação contra a Covid.

“Os neuropatas crônicos, que são pacientes inclusive sequelados, não foram contemplados como prioridade anteriormente, foram colocados essa semana como grupo prioritário da vacinação. Eles possuem uma tendência muito maior de pegar a doença e de falecer. É prioridade. O problema é agravado quando eles são idosos, quando têm comorbidades, e quando fazem tratamento que interfere na atividade do linfócito B, onde algumas doenças são muito frequentes neles. Os portadores de AVC isquêmico, hemorrágico, isquemia transitória, doença neuropática degenerativa, congênita, esclerose múltipla progressiva, todos foram colocados no grupo prioritário de vacinação”, informou.

Terapia anti-coronavírus

Marcelo falou sobre novos medicamentos que estão em estudos, e apresentaram uma melhora significativa em quadros de pessoas infectadas pelo coronavírus. “Surgiu o sotrovimab, que é um anticorpo monoclonal ( que funciona como anticorpo natural), ele é usado em doenças de média intensidade, o paciente não pode estar grave no respirador. Esse remédio oferece uma amputação de evolução, ou seja, a doença não progride, a pessoa não precisa ir para a UTI e não morre em mais de 80% dos casos. É mais uma droga disponível, mas é caro”, mencionou.

“Temos outra droga que ainda está em estudos. Ela está sendo testada em Israel, chama-se off label. É um remédio para câncer de ovário, que os israelenses usaram no tratamento para Covid grave, sob forma inalatória, com cinco aplicações em um curto tempo, durante cinco dias. Esse remédio é o Exossomo cd 24, e de 30 pacientes, curou 29. É uma boa notícia”, comemorou.

Tempestade inflamatória

Ultimamente, profissionais da área médica têm utilizado bastante o termo “tempestade inflamatória”, Dr. Marcelo explicou o que significa.

“A doença possui duas fases, a primeira é a viral. O vírus entra no corpo, procura uma célula para parasitar, faz uma aderência com a espícula, injeta o RNA, e em 5 dias, a pessoa terá de 100 milhões a bilhões de cópias dele, que serão liberadas. Enquanto o vírus está trabalhando, a imunidade também está para produzir anticorpos. Quando acaba a fase viral e ele está pronto para fazer a doença, aí vêm o anticorpo combater. Nesta luta entre anticorpos e antígenos, são liberadas substâncias tóxicas, a pior delas é a citocina, que lesiona células e tecidos, o que está ligado com a gravidade da doença. O problema respiratório que o paciente tem e intuba, não é uma ação viral, é fruto da tempestade imunológica inflamatória. Com isso, entra no pulmão, faz uma fibrose, e a pessoa precisa ser intubada, às vezes morre, ou volta com sequelas”, informou o médico.

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