sexta-feira , 19 abril 2024
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Rejane Bazilli Costa, enfermeira rio-pardense há mais de 30 anos

“Todo profissional de enfermagem é herói no Brasil”, diz Rejane Costa

Enfermeira relata sua experiência de 30 anos na profissão, que é lembrada no dia 12 de maio

Dia 12 de maio é comemorado o Dia Internacional do Enfermeiro. A importância da enfermagem é inegável, já que cabe ao enfermeiro cuidar, medicar e lidar diretamente com os pacientes. A necessidade da existência desses profissionais ficou ainda mais evidente com a pandemia do coronavírus, já que são eles os responsáveis por ficar na linha de frente nesse difícil combate.

Para lembrar a data, o jornal entrevistou Rejane Bazilli Costa, enfermeira rio-pardense há mais de 30 anos. Atualmente, ela é coordenadora do Pronto Socorro Municipal.

“Sempre tive o sonho de ser enfermeira, tanto é que uma das coisas que eu mais gostava de fazer quando criança, era dar injeção na minha avó com um lápis e uma agulha. Isso sempre foi meu sonho. Meu pai achava que eu deveria ser médica, já que naquela época era mais em conta você fazer medicina, e enfermagem não era uma profissão muito glamorosa. Quando fui para a faculdade no ano de 1982, enfermeiros eram considerados empregados de médicos, infelizmente. Mas ali já estava começando uma estruturação da enfermagem. Eu sempre quis ser enfermeira e lutei para isso”, relembrou.

“Em 1982 fui para a Puc de Campinas fazer o meu curso, já que São José do Rio Pardo não possuía curso de enfermagem. Me formei no ano de 1986 e voltei para a cidade. O ato de cuidar dos outros sempre foi meu sonho. Quando eu cheguei em São José do Rio Pardo, no começo de 1986, eu fui convidada pelo atual diretor clínico da Santa Casa, dr. José Roberto Merli, para fazer parte da enfermagem de São José na Santa Casa. Nessa época fui convidada para começar a UTI. Isso me alegra muito, ver a estrutura que temos hoje na UTI, que começou comigo colocando a primeira ampola lá dentro”, prosseguiu.

 “Junto com o dr. Merli, e os outros médicos da época, eu fui tendo muita força. Dentro da Santa Casa, eu fui a primeira enfermeira a ser contratada para trabalhar lá. Quando foi aberta a primeira UTI, comecei a notar que existia falta de enfermagem qualificada em São José do Rio Pardo. Junto com a Eliana Giantomassi, secretária da saúde na época, nós resolvemos, em 1987, trazer para São José do Rio Pardo o primeiro curso de auxiliar de enfermagem, junto com a Fundação Educacional e a Prefeitura. O curso que a Fundação oferece hoje se iniciou conosco nessa época, dando início a escolarização de enfermagem na cidade”, contou.

“A enfermagem hoje começa a mostrar o seu valor. A estruturação da profissão começou nos anos 80. Ela já existia antes, mas a profissionalização começou depois. O profissional de enfermagem é aquele que atua diretamente com o paciente. É aquele que conhece e cuida do paciente. O princípio da enfermagem é cuidar de quem precisa ser cuidado. Hoje nessa pandemia estamos vendo isso, a importância do profissional da enfermagem. Demorou muitos anos para começar essa valorização”.

“Sem a enfermagem é muito difícil que a doença consiga ter um cuidado específico, porque somos nós que ficamos 24 horas com o paciente. Somos nós que conhecemos cada sinal e sintoma. Hoje a enfermagem faz parte de uma equipe multidisciplinar com fisioterapeutas, médicos, técnicos de enfermagem. Juntos, nós podemos fazer um cuidado adequado aos pacientes que necessitam”, disse.

“Hoje sou profissional de enfermagem aposentada da Santa Casa, me aposentei no ano de 2013, e atualmente faço a coordenação do Pronto Socorro, do qual comecei em 2000. Me alegro muito de ver como o PS cresceu. Quando eu entrei lá, me lembro que tinha passado em 1º lugar no concurso em 1994, e fui trabalhar no ESF do Vale do Redentor, do qual eu tenho muita saudade. Gostava muito de trabalhar lá, gostava dos pacientes e sempre fui bem recebida. Em 2000, quando precisaram de uma coordenadora no Pronto Socorro, a Eliana Giantomassi me convidou e estou lá até hoje”, relatou.

“Sinto que fiz parte de uma grande mudança na Santa Casa, no Pronto Socorro, sinto que a enfermagem cresceu comigo em São José do Rio Pardo. Eram poucas enfermeiras na época. Então eu sinto que fiz parte desse início da história da enfermagem em São José”, completou.

Dificuldades

“Uma das maiores dificuldades da nossa profissão, sempre foi o reconhecimento, e trabalhar com pouca coisa. Por isso eu digo que todo profissional de enfermagem é herói no Brasil. Nós sabemos improvisar tudo. Trabalhamos muito, não somos reconhecidos, basta ver que a população ainda bate em um profissional de enfermagem em uma pandemia, enquanto esse profissional arrisca sua vida. Eu vejo muitas vezes o profissional reclamar das condições de trabalho. Na maioria das vezes os pacientes nos valorizam, quem não nos valoriza muitas vezes é o acompanhante, o familiar, que olha pra gente como se, na realidade, só o médico tivesse o dom da cura, o dom de fazer o bem, de trabalhar para a saúde do paciente”, comentou.

“Então falta esse reconhecimento, saber até onde o profissional pode ir. O brasileiro ainda é muito inculto nessa parte. Às vezes eles não entendem que podemos ir só até um certo limite. Para mim os maiores problemas sempre foram a falta de reconhecimento, baixo salário e trabalhar com sucata. A enfermagem no Brasil sempre trabalhou com sucata, com material de péssima qualidade”, destacou.

Conhecimento

“Para qualquer profissional ser bom, ele tem que ter em primeiro lugar, conhecimento, precisa estudar. Enfermagem é estudar todos os dias, porque junto com a equipe multidisciplinar, aparecem coisas novas. Então precisamos ler, discutir e estudar todos os dias. Devemos ficar atentos às mudanças dos pacientes. O paciente pode estar bem e de uma hora para outra mudar. É esse sentimento que o profissional precisa ter”, explicou.

Realização

“O que mais me deixa realizada nessa profissão foi, depois de 30 e poucos anos de enfermagem, olhar para trás e ver que consegui, junto com toda a equipe da Santa Casa e do PS, fazer parte da mudança da enfermagem. Quando eu cheguei, nós tínhamos na Santa Casa apenas um técnico de enfermagem. Hoje, todos são. Temos uma UTI de primeira linha, um Pronto Socorro reconhecido na região, um curso profissionalizante de enfermagem na Fundação. Saber que eu fiz parte de tudo isso é muito gratificante”, diz Rejane.

Dicas para os estudantes

“Eu diria para os estudantes de enfermagem que essa profissão é um dom. Não se ganha dinheiro, não é reconhecido. É um dom, você saber que aquela pessoa, naquele momento, precisa do seu conhecimento, do seu amor e do seu cuidado. Então eu digo aos estudantes que pensam em fazer enfermagem, que é uma profissão difícil, uma profissão ainda espinhosa no Brasil, mas se me perguntassem se eu voltaria no tempo e faria tudo de novo, a resposta é: sem dúvida. Enfermeira é ser muitas vezes a luz para aqueles que estão sob os nossos cuidados. A minha história é de luta, mas de muita gratidão”, concluiu.

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