Presidente da Associação Paulista de Criadores de Gado Holandês fala sobre pecuária leiteira no país e região
Apesar da alta no custo da produção, os produtores de leite consideraram a rentabilidade da atividade leiteira em 2020 melhor em relação a outros anos. Levantamentos do setor apontam que o volume produzido em 2020 alcançou média diária de 23.057 litros, 10,29% superior a 2019 e 252,34% maior que no primeiro levantamento realizado no ano de 2001. Mas os números estão ameaçados pela estiagem prolongada, que pode resultar na falta de ração para bovinos, prejudicando diretamente a pecuária leiteira.
Para falar sobre o assunto, a Rádio Difusora, em parceria com a Gazeta do Rio Pardo entrevistaram Renato Landini Dias, produtor rural e pecuarista. Pela segunda vez ele está como presidente da Associação Paulista de Criadores de Gado Holandês, vice-presidente da Associação Brasileira de Gado Holandês. O rio-pardense também é conselheiro da Abraleite (Associação Brasileira de Produtores de Leite).
“É um braço do Ministério da Agricultura para certificar a qualidade da raça holandesa”, explica, destacando que a associação facilita os trabalhos de melhoramento genético. “São vários os benefícios que o produtor tem se associando. Ele passa a ter um controle leiteiro oficial onde ele vai ter mensurado suas melhores vacas, saber como ele está perante o Brasil e perante o mundo com relação ao seu rebanho, como ele deve investir, entre outros benefícios”, destacou.
Renato diz que o interesse e dedicação pela raça do gado holandês, surgiu a partir do pai. “Meu pai sempre amou a pecuária e a raça, eu dei continuidade”. Por meio dessa ligação, já trabalhou na área de saúde animal e com genética durante dez anos.
Raça holandesa
A raça holandesa é conhecida por ser a maior produtora de leite em volume no mundo. Além disso, produz tanto em locais com clima polar, quanto no clima árido. “Temos produtores em todos os lugares do mundo. Ela transforma toda a alimentação que consome em leite. Com ela produzimos mais leite e mais sólidos em qualquer lugar”, afirma o pecuarista, que é o único no município de São José do Rio Pardo com animais da raça registrados.
Estados que mais produzem leite
São Paulo é considerado o 5º estado do Brasil com maior produção leiteira. “Observando a quantidade de cana e de agricultura que foi implantada no estado, a pecuária saiu dele, não só de leite, mas também a de corte. Mas a maioria dos escritórios de proprietários de rebanhos leiteiros estão em São Paulo”, explicou.
De acordo com o especialista, alguns estados nunca deixaram a liderança no quesito de produção leiteira, como o Paraná, por exemplo. Há também Santa Catarina, Minas Gerais e o Rio Grande do Sul.
“Mas hoje temos uma realidade no estado de São Paulo que é muito interessante. Um dos maiores produtores do país está aqui. A Fazenda Colorado esse mês ultrapassou 100 mil litros de leite por dia”, revelou, citando a propriedade que se localiza em Araras.
“Temos produtores do interior de São Paulo que estão ficando cada vez maiores. Até 2008 eu estava entre os 105 maiores produtores do país, com 4.300 litros de leite na época. Hoje o centésimo está com quase 10 mil, aumentou muito”, disse.
A lucratividade média do grande produtor, segundo Renato, está pagando mais do que o mercado financeiro, o que faz com que o aporte capital das grandes empresas tenha alta viabilidade. “O pequeno produtor se manterá na atividade, o grande vai ficar cada vez maior, e o médio vai acabar sumindo do mercado”, observou.
Região
São José do Rio Pardo, Mococa e São João da Boa Vista que no passado eram grandes produtores, despencaram a produção leiteira. “Casa Branca hoje é o maior produtor da região, mas temos cidades como São Sebastião da Grama, Divinolândia e Caconde que mantém pequenos produtores onde existem alguns laticínios de produções de queijos artesanais, que acabam estimulando essa produção”, revelou.
O Brasil é um dos países que tem menos consumo per capita de leite. Apesar de ter inúmeros queijos premiados e uma produção de leite significativa, o consumo ainda é muito baixo. “Consome-se mais refrigerante no Brasil do que leite. Isso porque é o alimento mais nobre disponível e mais barato. Mas a notícia boa é que esse consumo vem crescendo. Na pandemia, com as pessoas em casa, consumiu-se muito os derivados de leite”, acrescentou.
Impacto da estiagem na produção
Segundo o especialista, o impacto da estiagem no setor da pecuária leiteira foi grande e inevitável. “Não só do leite, mas dos alimentos em geral. Vai ficar tudo mais caro, porque não terá como produzir. Estamos correndo um risco no segundo semestre de ter que parar a produtividade em alguns lugares porque os animais não vão ter o que comer. Estamos vivendo uma estiagem seguida já de alguns anos que vem se agravando. Esse é o pior ano de todos. Não foi possível produzir todo o alimento necessário para tratar dos bovinos, principalmente os de leite que estão confinados. Essa queda na produção já está acontecendo e o aumento no preço do leite é devido a isso. Infelizmente a situação vai piorar”, relatou.