terça-feira , 26 novembro 2024
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Thais Laranja Fontão, fonoaudióloga

Pandemia atrasou desenvolvimento da fala de crianças

Fonoaudióloga explica que isolamento prejudicou o desenvolvimento da fala em crianças

Além dos problemas relacionados à aprendizagem, a pandemia também afetou o desenvolvimento na fala das crianças, principalmente as menores, pela falta dos estímulos da convivência em grupo. É o que observa a fonoaudióloga Thais Laranja Fontão, que discorreu sobre o assunto nessa semana, em entrevista à Rádio Difusora.

“Um grupo que tem aparecido bastante no consultório, são as crianças com atraso na fala, porque elas ficaram dois anos isoladas. As crianças que nasceram na pandemia, ficaram apenas dentro de casa por conta da Covid. Por ter menos contato social, não poder ter interação com outras crianças, elas acabaram não percebendo muita função na fala. A linguagem, que é o conteúdo da fala, só acontece quando vemos uma função nela. Ninguém fala sem ter alguém para ouvir. As crianças entenderam que se elas têm a alimentação suprida, estão hidratadas, limpas, não tem o porquê falar. São ocorrências bem constantes agora”, declarou.

De acordo com a profissional, também tem havido procura para auxiliar na recuperação de pacientes que passaram logos períodos em tratamento da Covid. “A Covid afetou a fonoaudiologia de uma forma bem importante. Além das questões hospitalares, pessoas que foram intubadas, precisaram fazer um tratamento com o fonoaudiólogo para recuperar a voz e deglutição”, comentou.

Para Thaís, que é especialista em aleitamento materno, o profissional da fonoaudiologia pode ser solicitado desde a gestação. Segundo ela, durante a gravidez a mãe já pode buscar por orientação de um fonoaudiólogo com relação a amamentação. “Nós também trabalhamos com o aleitamento materno. Eu, por exemplo, sou especialista e consultora em aleitamento”, disse.

Depois que os bebês nascem, fazem o teste da orelhinha, que também é feito por um fonoaudiólogo, e depois disso, é importante que a criança seja acompanhada por um profissional em determinadas fases.

“No caso de uma criança de um ano de idade, espera-se já um balbucio, a tentativa de falar algumas palavras mesmo que não façam muito sentido. Na fase dos dois anos, a maioria das crianças já deve apresentar a construção de frases com pelo menos duas palavras, e até os cinco anos, é a fase onde o desenvolvimento é completo. Acredito que no caso de qualquer dúvida dos pais, vale a pena procurar uma orientação”, completou.

Chupeta

Thaís foi questionada sobre as possíveis consequências do uso da chupeta. “Ela interfere bastante na fala. Analisando clinicamente, qualquer objeto que você introduz na sua boca, seja o dedo, uma caneta, chupeta, você não consegue articular a língua direito. A boca não fecha da maneira que precisa fechar. Tem a questão também da arcada dentária, quando o dente começa a nascer, ele vai até onde encontra um obstáculo. Se tiver qualquer coisa ali no espaço, pode alterar essa descida, essa formação. Aí fica aquela boquinha aberta, como se fosse uma piranha, onde fica aquele espaço que a língua pode ser inserida, a articulação se altera. Além disso, pode ter um atraso na fala”, alertou.

Funções do fonoaudiólogo

Na fonoaudiologia são trabalhadas as alterações cognitivas, como atraso no desenvolvimento neuropsicomotor, deficiências, mas também é realizado um trabalho de prevenção. Além disso, os fonoaudiólogos atendem profissionais da comunicação, cantores e atores.

“O fonoaudiólogo é um profissional da comunicação, não da área da infância, mas de toda comunicação humana. Trabalhamos com desenvolvimento de fala, linguagem, escrita e aprendizagem. Mas também trabalhamos com adultos, como cantores, atores, locutores, com idosos que foram acometidos por um AVC e tiveram alteração de deglutição, de fala”, explicou.

Para a profissional, a profissão se desenvolveu muito nos últimos anos. “A fonoaudiologia cresceu muito. Sou fonoaudióloga há 20 anos e eu vi esse crescimento. Foi algo muito interessante. Quando eu fui prestar o vestibular, meu pai perguntou para minha mãe que profissão era essa que eu queria, as pessoas não conheciam. Mas eu fui percebendo o crescimento da fonoaudiologia desde 1997”, garantiu.

“Nós podemos trabalhar nos hospitais, em creches, nas escolas, em UBS (Unidade Básica de Saúde). A área é muito ampla. Ela vai além dessa questão patológica cognitiva”, disse.

Ocorrências mais comuns

A profissional explicou que os atendimentos mais frequentes nos consultórios, são de crianças que trocam de letras na fala. “Algumas trocam o R pelo L, o V pelo F, esse é o nosso maior público. Mas temos também as crianças que atrasam para falar”, destacou.

Na sexta-feira passada, 22 de outubro, foi o dia Internacional da Gagueira. A fonoaudióloga aproveitou para falar sobre o problema durante a entrevista.

“A gagueira tem várias linhas de atendimento e de estudos. A linha que eu trato, que me aprofundei, é da Dra. Silvia Friedman. Para ela, a gagueira tem três pés, é biopsicossocial. Então ela é biológica, porque alguma coisa na musculatura, na hora de articular repete ou trava. Ela pode ser também psicológica, o emocional influencia muito. Muitas pessoas que ficam sob estresse, acabam gaguejando. Ou pode ter uma causa social. Temos que trabalhar essa tríade, então muitas vezes eu preciso da ajuda de um psicólogo”, relatou.

Thaís explicou que existem dois tipos de gagueira. “Temos a natural, que é a da criança. Até os três anos ela está treinando a musculatura da língua, a cabeça dela fica cheia de informações para sair, e ela pode ter uma gagueira natural que não deve ser alarmada. Nesse caso os pais devem deixar a criança falar do jeito que ela quiser e no tempo que ela quiser. E temos a gagueira que é a que todo mundo conhece, que não tem cura, ela é mais limitante, mas tem tratamento”, encerrou.

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