quinta-feira , 2 maio 2024
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Nelson Mattos

Nelson Mattos, um dos últimos pipoqueiros

Os carrinhos de pipoca na praça central viraram lembranças de quando o local recebia milhares de pessoas

Gilmar Ishikawa

“Aqueles de mais idade” – diria o professor Márcio Lauria – vão se recordar dos dias em que a praça central da cidade reunia muito mais do que dez ou doze moradores de rua, pedintes inquietos, que a toda hora interceptam o passante e xingam quando não têm seus desejos atendidos – quase sempre dinheiro. Longe disso, há várias décadas, havia pela praça uma vida efervescente. As noites eram ainda mais movimentadas, principalmente aos finais de semanas, com centenas de pessoas circulando de um lado a outro aos sábados e domingos.

Havia algazarras, músicas dos jovens e adolescentes, corre-corre de crianças, idosos em animadas rodas de conversas. E foi ali, vendo isso tudo, que em meados de 1986, Nelson Mattos começou uma atividade para complementar a renda.

Funcionário público municipal, trabalhou por 35 anos na Prefeitura, boa parte desse tempo junto ao Departamento de Água e Esgoto, o DAE – hoje substituído pela autarquia Saerp.

“Os companheiros reclamavam do baixo valor do salário e das horas-extras. Um deles chegou a desistir e tentou me convencer, mas eu decidi ficar e além do serviço como funcionário, fazia uns bicos. Foi aí que comecei a vender sorvete. Depois, comecei com a pipoca na praça. Aposentei e hoje o que me ajuda muito é a venda da pipoca”, relatou.

Hoje, com 67 anos de idade, residente no bairro Santo Antonio, Sr. Nelson Mattos talvez seja o último pipoqueiro tradicional da cidade – ou um dos últimos. “Antigamente eram muitos. Tinha uma fila de carrinhos na praça da Matriz e todo mundo vendia”, lembra, observando que o movimento foi caindo, assim como a presença de pessoas na praça central.

Quase no fim

A pipoca feita pelo Sr. Nelson segue ainda o sistema daqueles anos de agitação na praça: milho, óleo, sal, panela, fogareiro e, claro, um carrinho. Com esses apetrechos e ingredientes, ele é presença quase constante em muitos eventos pela cidade, uma forma de compensar a falta de movimento e de vendas na praça central. Assim, comparece a inauguração de lojas, atividades esportivas, festas em empresas, terços… “E para onde mais convidarem”, diz ele.

“Até casamentos e aniversários, quando chamam e dá certo, eu vou”, conta entusiasmado. Mas destaca que, como a pipoca já não tem tanta procura, ele incrementou o negócio, oferecendo também sorvete, água e refrigerantes.

“O ganho varia bastante, uns meses vendo mais e outros menos, mas ajuda bem, porque o salário é pouco”, comenta.

Assim como outros tantos trabalhadores da informalidade, os pipoqueiros vão sendo sufocados pelas mudanças dos nossos hábitos. A modernização do mundo, os avanços tecnológicos, trouxeram novas formas de entretenimento, consumo, alterando o comportamento e os hobbies da sociedade. Ir à praça, comer pipoca, deixou de ser programa de domingo.

Para o Sr. Nelson, vender pipoca representa ainda o estreitamento das amizades, o contato com as pessoas e, claro, complemento de renda. Mantendo o tradicionalismo do negócio, ele leva adiante uma atividade que está com os dias contados.

A profissão de pipoqueiro vai se desvanecendo, tornando-se uma relíquia, como tantas outras que já não tem mais representantes. Mas ficam as histórias, memórias e a nostalgia dos muitos momentos alegres que um simples pacote de pipoca na praça proporcionou a inúmeras pessoas, na ainda pequena cidade.

“Tomara que apareçam mais oportunidades. A gente faz porque precisa, mas também porque é um trabalho que quase não existe mais”, observa o aposentado, que nos últimos tempos tem aproveitado o movimento da Ilha São Pedro para continuar seu ofício instalando o carrinho no local, aos finais de semana.

Ele aproveita para dizer que, se alguém se interessar pelos seus serviços, basta fazer contato pelo (19) 98914-7253.

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