Para o novo diretor, a sociedade rio-pardense precisa se unir para ajudar a faculdade
A Faculdade Euclides da Cunha (Feuc) tem um novo diretor desde o dia 29 de julho, quando o professor Francisco de Assis Carvalho Arten, 62 anos, assumiu o cargo. Ele foi integrante do Conselho Estadual de Educação durante três anos e reitor do Unifae (Centro Universitário das Faculdades Associadas de Ensino de São João da Boa Vista) de 2012 a 2019. O professor foi responsável por implantar os cursos de medicina e engenharia na instituição sanjoanense e por recuperá-la financeiramente. Na quinta-feira (12), em entrevista à Rádio Difusora, Arten falou sobre seu novo desafio coordenando a autarquia rio-pardense, das expectativas e planos de recuperação da instituição.
O diretor iniciou a entrevista falando que está ciente do desafio que enfrentará. “Tenho noção da importância da Feuc para a cidade e região, e também da situação da faculdade. Se não houver uma união em torno dela, uma vontade da cidade de que ela continue e seja forte, as coisas ficam mais difíceis. Ela precisa se fortalecer e ter uma razão para existir”, observou.
Arten explicou que ainda está se inteirando da real situação da Feuc, enquanto isso, já tem buscado alternativas junto ao Conselho Estadual de Educação, onde esteve na última segunda-feira.
De acordo com o novo diretor, os cursos em licenciatura, que sempre foram o forte da Feuc mas que há alguns anos têm apresentado baixa procura no Brasil todo podem voltar com força total e isso beneficia a instituição. “Tivemos globalmente muitos momentos ruins para as licenciaturas, ninguém queria mais ser professor. Mas uma das grandes oportunidades da Feuc, é que a licenciatura está voltando agora. O estado teve um apagão de professores, e o salário não está tão ruim. Hoje um professor ganha em torno de R$3.000. Acredito que 90% dos jovens não ganhem isso. A licenciatura voltou a ser algo bom. Temos a perspectiva de revitalizar esses cursos e temos uma chance da Feuc voltar a ter aquele papel forte que sempre teve em nossa região”, declarou.
Regularização dos cursos
O diretor informou que atualmente a Feuc conta com cerca de 150 alunos matriculados. Arten relembrou a semelhança com a situação em que a Unifae se encontrava quando assumiu a reitoria.
“Quando assumi a Unifae, ela também estava em uma situação semelhante, tinha uma crise financeira forte, estava há muitos anos com débitos, tinha um caixa bom mas foi consumindo. Quando entrei lá, apresentava um débito de R$ 2 milhões. Reduzimos a um número muito pequeno, de 700 alunos aproximadamente, e tivemos que arregaçar as mangas e trabalhar”, contou.
Quanto a Feuc, o diretor afirmou que uma série de medidas deverão ser adotadas antes de aumentar o número de alunos da instituição. “Temos que regularizar todos os nossos cursos. Vamos tentar recuperar o curso de Educação Física, que está paralisado, e foi o primeiro da região. Esse curso teve um número de alunos por turma que nenhuma outra instituição conseguiu. Temos que unir todas as potencialidades, São José tem uma tradição de esportes, temos que casar tudo isso e recuperar nosso curso. Estou tentando negociar com o Conselho Estadual, regularizar algumas questões que foram adquiridas ao longo dos anos. Penso que a Educação Física possa ser o carro chefe para a Feuc e para São José do Rio Pardo”, revelou.
No momento, sem Agronomia
Desde o ano de 2018 havia sido levantada a possiblidade da Feuc implantar um curso de Agronomia. Segundo Arten, muitas pessoas perguntam pela existência do curso. “Acho que é uma boa opção pela região e pelo o que representa São José, teríamos uma oportunidade de fazer um curso de excelência de Agronomia. Mas nesse momento, ele não existe na Feuc. Vamos tentar montá-lo. Houve um processo, algumas tentativas, mas ao longo dos anos elas foram abandonadas, e o último resultado do Conselho Estadual é que ele não foi favorável a abertura do curso”, contou.
“Vamos examinar toda a documentação, conversar com ex-dirigentes, e tentar resolver os problemas para que um dia o curso possa funcionar. Penso que também uma boa opção para a Feuc é investir em cursos na área da saúde, já que no Brasil todo faltam profissionais para essa área”, declarou.
Desafio
Para o novo diretor, o desafio de recuperar a Feuc é grande. “Eu entro com a missão de salvar a instituição, recupera-la e torna-la atuante. Em oito anos transformamos a Unifae, pegamos ela com dívida e eu deixei no meu último dia como reitor, R$ 47 milhões em caixa, o maior orçamento do estado de São Paulo de instituições como autarquias. Ela tinha um poder de caixa maior do que todas do estado, depois vinha Franca, com R$ 13 milhões e São Caetano do Sul com R$ 2 milhões. Muitas outras estavam com déficit”, afirmou.
“Posso assegurar que São José do Rio Pardo reúne todas as condições de ter uma boa instituição universitária. Primeiro a cidade tem que entender que a Feuc é dela, não pertence a ninguém, apenas a cidade, e que ela é um diamante que precisa ser lapidado. São menos de 25 cidades que têm instituições municipais como a Feuc”, observou.
Arten explicou que antes da Constituição de 1988, era permitido abrir uma instituição municipal e cobrar mensalidade dos alunos. Após ter sido elaborada, a Constituição dizia que apenas as faculdades municipais que cobravam mensalidades até o ano de 1988 manteriam esse direito. “Atualmente, se qualquer Prefeitura quiser montar uma faculdade nova, ela tem que subsidiar 100% dos custos. É algo que fica muito caro para a Prefeitura manter sozinha. Portanto, não se pode mais fazer faculdades como a Feuc. Se ela for fechada, não teremos como abrir outra semelhante”, declarou.
Inadimplência
Segundo os dados preliminares apresentados ao diretor, a Feuc tem cerca de R$ 2 milhões para receber de ex-alunos, inscritos em dívida ativa por inadimplência das mensalidades. “Tem que ser cobrado até mesmo por uma questão legal. Se abrirmos mão dessa dívida ativa, estaremos sujeitos a levar um processo. É um valor alto para uma instituição como a Feuc. Temos que criar mecanismos para que ela sobreviva por conta própria”, completou.
Objetivos
“Temos uma questão nova, que é a pandemia, muitos alunos foram para o curso EAD, então não sabemos como vai ser. Mas temos vários planos para a Feuc, variando de acordo com o cenário. O primeiro momento é de colocar ordem na casa e recuperar esses cursos. Nosso cronograma agora é esse. Isso requer um contato direto com o Conselho Estadual de Educação. Eles sabem do problema da Feuc, e estamos mostrando a eles as mudanças que pensamos em fazer na faculdade. Na verdade, isso está na mão deles e estão olhando com lupa para a situação”, revelou.
A segunda meta do novo diretor, após a recuperação dos cursos já existentes, é oferecer qualidade no ensino. “O jovem tem que saber que está cursando uma faculdade que tem um nome e um diploma que vai dar qualificação para que ele possa disputar as vagas de emprego no mercado de trabalho. A terceira meta é já começar a envolver a faculdade e ajudar nas coisas da cidade. Temos que levantar todo o potencial de São José e colaborar com ele”, disse.
“Podemos transformar São José em uma cidade onde todos os jovens tenham a oportunidade de estudar. Podemos facilitar a vida deles, mas precisamos arrumar a casa. A Feuc possibilitou acesso ao ensino superior a milhares de jovens quando foi fundada e fez isso muito bem. Temos que fazer uma geral, deixa-la bonita, alegre, para que os alunos se sintam bem e motivados estudando lá. E que eles tenham orgulho de fazer parte da instituição”, encerrou.