quinta-feira , 25 abril 2024
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Integrantes do MapeARTE

Mapearte oferecerá formação cultural a artistas LGBTQIA+

Projeto prevê também atividades de orientação e palestras à população e serviços público

Segundo dados do IBGE, divulgados em maio, por meio da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), no Brasil, 2,9 milhões de pessoas de 18 anos ou mais se declaram lésbicas, gays ou bissexuais. Em São José do Rio Pardo, o Projeto Mapearte quer fazer um levantamento para entender as necessidades da comunidade LGBTQIA+ e a partir de então, buscar políticas públicas inclusivas, para fomentar talentos e desenvolver formação cultural.

Representantes do projeto, Mar Franco e Elaine Martins falaram nesta semana sobre a ação, em entrevista à Rádio Difusora.

“O projeto é de formação e mapeamento da população LGBT de São José do Rio Pardo. Nós o montamos em 2021, nos inscrevemos no edital do Proac (Programa de Ação Cultural) que era voltado para a população LGBTQIAP+, e nosso projeto tem como intuito formar os artistas da cidade para que eles possam conseguir captar recursos e montar projetos para poder fomentar a cultura da cidade. Com isso fizemos um mapeamento dessa população. Montamos um questionário socioeconômico e cultural, para poder levantar a demanda dessas pessoas e descobrir quais são as necessidades para correr atrás de políticas públicas para essa população”, explicou Elaine.

Além do Mapearte oferecer uma formação, a intenção do projeto é organizar palestras relacionadas a saúde, segurança e educação, para conscientizar e informar a população e os serviços públicos do município. “Queremos saber como está a questão da saúde, se hoje uma mulher trans for até a Saúde da Mulher, ela terá um atendimento correto? Os profissionais estão preparados para dar esse atendimento?”, questionou.

Segundo Elaine, as palestras servirão para instruir e conscientizar a população, além de explicar como poderá ser feita a inclusão da comunidade LGBTQIA+ na sociedade.

“O edital do Proac que nos contemplou, é de cidadania e cultura LGBT, e o Mapearte atua nessas duas vertentes. Na cultural, que é na formação dos artistas e na vertente cidadã, fazendo o mapeamento que se destina a levantar informações sobre políticas públicas. As palestras serão muito importantes para a questão cidadã. Serão três: sobre direitos da comunidade LGBT, saúde dessa população e também educação. Nós fomos percebendo que a população LGBT na cidade passa por muitos casos de LGBTfobia, eles passam por muitos preconceitos, não são atendidos corretamente, principalmente nos serviços públicos. A intenção das palestras é justamente poder oferecer uma conscientização para a população em geral, já que são abertas a todos, mas também principalmente para pessoas que trabalham nos serviços públicos, para elas terem algum tipo de formação e saber melhor como atender esse público que faz parte da sociedade. Os profissionais precisam estar preparados para atender essa população adequadamente”, disse Mar Franco.

O mapeamento começou em abril, por meio de um formulário online que ainda está disponível no site do projeto. “Qualquer pessoa que fizer parte da comunidade LGBT pode acessar para responder por meio de nosso site, ou de nossas redes sociais. Lá nós temos o link para o formulário do mapeamento, que ficará aberto pelo menos até o final de julho, e depois fecharemos para fazer o compilado dos dados”, informou.

“Esse mapeamento também teve uma fase presencial, no qual uma equipe de mapeadores contratados pelo projeto, rodaram a cidade, indo de porta em porta, conversando com a população e fazendo essa pesquisa”, acrescentou Mar.

Para preencher o formulário de mapeamento da população LGBTQIA+ é só acessar o site mapeartesjrp.com.br e procurar pelo link do questionário, que também está disponível no Instagram- @projeto.mapearte e na página do Facebook – MapeARTE SJRP.

Sem apoio

Segundo Mar Franco, o calendário das palestras e dos cursos que serão oferecidos, ainda será divulgado. “Estávamos com o projeto todo organizado, com datas de cursos e de palestras, assim como a data do ato toda fechada, porém tivemos um contratempo com a Prefeitura, e estamos nos reorganizando, portanto, as datas ainda serão divulgadas. No dia 26 de junho faríamos o nosso primeiro ato na cidade, aproveitando que junho é o mês do orgulho LGBT. Devido a todos os imprevistos que aconteceram, e o contratempo que tivemos, precisamos nos replanejar. Já tínhamos tudo planejado desde 2021, de como seria e onde seria. Notificamos as autoridades necessárias para fazermos o ato, só que como tivemos a carta de anuência revogada, ficou muito em cima. Com isso nós optamos por fazer do dia 26 que seria o ato, uma manifestação pacífica para poder conscientizar e movimentar”, contou Mar.

“Nós não estamos pedindo recursos para a Prefeitura, a única coisa que solicitamos foi acesso aos espaços públicos, que é um direito nosso. O fato de nos organizarmos e fazermos nosso ato, também não é decisão da Prefeitura. Isso está na constituição e é um direito nosso. Nós avisamos com antecedência as autoridades que deveriam ser avisadas. Nós fizemos a manifestação pacífica no dia que seria o ato, para conscientizar as pessoas do que estava acontecendo com nosso projeto”, continuou Elaine.

“A Prefeitura se pronunciou dizendo que não apoiaria nenhuma ação do Mapearte, palestra, curso ou ato. No momento estamos buscando outros espaços para realizar todas as ações”, completou Mar.

Dados prévios

Até o momento, o questionário de mapeamento teve 312 respostas. Segundo o Mapearte, os dados ainda passarão por um processo de tratamento e serão enviados a uma cientista social que vai analisa-los.

“Mas a partir dos dados que já temos, conseguimos ter uma prévia. Verificamos por exemplo, que mais de 70% dos entrevistados dizem já ter sofrido LGBTfobia na cidade. Muitas vezes dentro de casa, ou então na própria escola. É um dado muito relevante que mostra a importância e necessidade dessas palestras. Temos uma parcela relevante da população que é LGBT na cidade, e essas pessoas estão passando por uma série de dificuldades”, disse Mar.

“Outros dados que conseguimos ver por alto nessa prévia, é o desemprego, que é uma situação muito grave aqui na cidade, especificamente para essa parcela da população. Nós sabemos que na cidade temos a questão com desemprego de pessoas jovens, e quando além de ser jovem faz parte da comunidade LGBT, essa pessoa encontra ainda mais dificuldade para conseguir um emprego na cidade. Isso é algo muito expressivo e precisa ser olhado. Além disso, podemos perceber pelo questionário, que a comunidade LGBT sente falta de eventos, atividades culturais e estabelecimentos, voltados para a comunidade, para que possam ir e se sentir bem, reconhecidos”, destacou.

Segundo os representantes do projeto, uma das ações do Mapearte, é de formação cultural dos artistas. “Mais de 70% dos artistas que responderam o formulário, não tiveram formação artística e tem interesse em fazer”, explicou Mar.

Ato

Segundo Mar, apesar do ato ainda não ter uma data definida até o momento, em consequência dos problemas que surgiram pela falta de apoio da Prefeitura, o evento irá incluir atividades culturais, apresentações e até uma feira. “Todos os artistas LGBT da cidade ou da região que quiserem, podem entrar em contato com a gente para vir expor sua arte, fazer uma apresentação. Teremos uma parte cultural muito forte. A intenção era ter até uma tenda para falar sobre a questão da saúde. E também teremos o ato em si, que é andar pelas ruas da cidade, ocupando as ruas por um trajeto determinado e informado para todos os órgãos públicos, manifestando o nosso orgulho e a nossa existência”, revelou.

O ato realizado pelo Mapearte está previsto para ocorrer em meados de novembro, último mês de atuação do projeto no município.

“A Câmara cedeu espaço para fazermos nossas atividades lá. Mas a questão é que nós estamos correndo atrás de direitos, como na saúde pública, segurança e educação. Sabemos que a maioria das pessoas usam o SUS. Então é interessante para nós que a Prefeitura tenha os profissionais da saúde, por exemplo, em uma palestra referente a isso, porque é justamente para eles que pensamos nessa palestra. Com a Prefeitura tirando o apoio, as pessoas vão se quiserem. Mas essas palestras foram pensadas para os departamentos de serviço público, porque são esses setores que lidam diariamente e que precisam se conscientizar. Para nós é muito importante que essa população que trabalha com serviço público esteja presente nas palestras”, encerrou.

*Com dados divulgados pela Agência Brasil

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