domingo , 5 maio 2024
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Edson fala sobre adestramento canino

Humanização pode ser prejudicial ao comportamento dos cães

Adestrador há 27 anos, Edson Greany fala sobre efeitos negativos do “excesso de carinho”

Por Júlia Sartori

O Brasil tem a segunda maior população de cães, gatos e aves canoras e ornamentais em todo o mundo e é o terceiro maior país em população total de animais de estimação. São 54,2 milhões de cães, 23,9 milhões de gatos, 19,1 milhões de peixes, 39,8 milhões de aves e mais 2,3 milhões de outros animais. O total é de 139,3 milhões de pets. A cada dia, os humanos se aproximam mais dos animais e compartilham cada detalhe da vida com eles. Os pets estão por todos os lugares, e a cada dia a humanização cresce sobre eles.

O psicólogo Harold Herzog, professor da Western Carolina University (uma Universidade Pública da Carolina do Norte) afirmou durante entrevista à CNN, que ter um melhor amigo em casa, traz inúmeros benefícios para a saúde – como maior taxa de sobrevivência, menos ataques cardíacos, menos solidão, melhor pressão arterial, melhor bem-estar psicológico, menores taxas de depressão e níveis de estresse, autoestima mais elevada, ajuda a melhorar o sono e induz a prática de atividade física.

Apesar dos inúmeros benefícios evidentes, ter um pet com um comportamento ruim, pode ser bem estressante para os tutores que com ele convivem. Mas na maioria das vezes, o problema não está no cão, e sim na educação inadequada que ele recebe. Edson Greany, adestrador de cães há 27 anos, concedeu uma entrevista à Gazeta do Rio Pardo essa semana e falou sobre a importância do adestramento.

Adestrador desde 1995, quando residia em São Paulo, Edson se mudou para São José do Rio Pardo em 2003.  “Treinei até 2002. Depois disso me mudei para São José, fiquei durante 7 meses, de agosto de 2002 até fevereiro de 2003 vindo para a cidade toda quinta-feira à noite para treinar cães. No sábado voltava para São Paulo. Depois disso, conheci algumas pessoas em São José, na época o veterinário Márcio Folchetti me deu uma força e me ajudou a arrumar alguns clientes. Como eu tinha parentes aqui na cidade, preferi vir para cá e continuei trabalhando com adestramento, como fazia em São Paulo”, disse.

“Escolhi ser adestrador porque gosto de cachorro desde que eu era pequenininho, na época do Rintintin. Sempre me identifiquei muito com cães. Tive a oportunidade de conhecer algumas pessoas em São Paulo, o canil da Polícia Militar, e um grupo de adestramento da Aeronáutica. Comecei a treinar com os cães e vi que estava me saindo bem. Mas naquela época não tinha curso para isso, não é como hoje em dia que existem vários cursos de adestramento. Na época tínhamos que ir atrás de algum adestrador, de uma pessoa que já sabia treinar para aprender com ela”, relembrou.

Excesso de humanização

Edson explicou que uma das maiores dificuldades que enfrenta na profissão é ter que explicar aos tutores dos cães sobre como o excesso de carinho e de humanização pode atrapalhar no relacionamento com o cão, e influenciar negativamente em seu comportamento.

Edson e um de seus alunos, da raça Cane Corso

“Pensar que o cão é uma criança é algo muito ruim para o comportamento dele. Esse excesso de carinho acaba atrapalhando muito o filhote. Muitas pessoas ficam com dó e colocam para dormir na cama, dentro de casa, e esquecem que o cãozinho vai crescer. Depois tem toda aquela transição de colocar o cachorro para dormir fora. Nessa parte encontramos muita dificuldade. O filhote já precisa crescer dentro de uma hierarquia, ou então ele vai acabar sofrendo posteriormente e a pessoa também. Geralmente os donos de cães procuram o profissional muito tarde. É importante procurar um adestrador quando o cão tiver dois meses de idade, para receber orientações de como lidar com o filhote”, informou.

Segundo o adestrador, pelo ponto de vista dos cães, que são descendentes de lobos, as pessoas dentro da residência fazem parte da matilha dele. “Os donos precisam se impor, e mostrar que são os líderes.

Agressividade

Necessidades fisiológicas no lugar errado e agressividade são os motivos que mais levam as pessoas a buscarem um adestrador, de acordo com Edson. Ainda assim, a questão da agressividade é predominante.

Ele contou que problemas com reatividade costumam ser mais recorrentes em cães de raças pequenas, como shih-tzu e pinscher, por exemplo.  “Um dos motivos, é o fato do cachorro receber excesso de carinho, os donos acabam deixando os cães fazerem o que eles querem. Dessa forma, depois que eles vão ficando mais velhos, eles sentem que todos os locais pertencem a eles. As pessoas começam a se assustar com isso. Ás vezes o cachorro está no sofá, e a pessoa quer retira-lo de lá, mas ele vai ter uma reação agressiva, porque aquele espaço é dele. Com isso as pessoas começam a questionar, porque fazem de tudo pelo cachorro e se assustam com o fato deles quererem morde-las apesar disso”, explicou.

O adestrador destacou que o tutor nunca deve usar agressividade para lidar com o cão. “Não é dessa forma que se resolve, mas é preciso se impor diante do cão, mostrar o lugar dele”, completou.

Edson durante treinamento com cão para guarda

Muitas pessoas afirmam que jamais teriam um cão da raça Pitbull, por medo de uma possível agressividade, crença essa que já existe há muitas décadas. Edson desmistificou o assunto.

“Nunca tive problema com nenhum Pitbull que treinei até hoje. Já peguei alguns cães dessa raça que estavam começando a apresentar agressividade, mas pela forma errada que os donos estavam tratando. A partir do momento que você começa a treinar o cão e mostrar para ele que não precisa agir daquela maneira para conseguir alguma coisa, ele vai entender”, disse.

“O Pitbull é um cachorro normal, é um cão poderoso como outras raças, como Rottweiler, Pastor, entre outros. É muito importante que antes de adquirir um filhote, a pessoa conheça os pais para saber como é o comportamento deles, e futuramente não ter problemas de agressividade. A seleção genética ajuda bastante”, afirmou.

O profissional explicou que a agressividade de um cão é reversível desde que o tutor procure ajuda na idade correta. “Já atendi alguns cães com idade entre três, quatro anos, que não teve como. Quando a situação da agressividade é genética, é muito complicado. Pais agressivos geram filhotes agressivos. Quando o canil é responsável, se preocupa muito com a genética”, disse.

Ter um cão exige atenção

Assim como os seres humanos, cães também precisam de uma rotina saudável, de socialização e atenção, que podem influenciar diretamente em seu comportamento.

“Quando a pessoa vai adquirir um cachorro, ela precisa se situar, é necessário separar um tempo do dia para poder passear com ele, leva-lo para a rua. Mesmo que a pessoa tenha um quintal muito grande, aquilo não passa de um grande canil na mente do cão. Ele precisa sair para a rua, para ver pessoas, carros, outros animais. Eles precisam se exercitar. Um tempo da vida da pessoa precisa ser reservado para o cão”, observou.

Assim como os seres humanos, cães também precisam de uma rotina saudável

Edson contou que é muito frequente cachorros apresentarem um comportamento diferente perante o adestrador, e quando voltam para casa, mudam diante do dono. “Você treina o cachorro, mas quando ele chega na residência, ele se transforma, porque o dono acaba passando insegurança para ele”, disse.

“Quando faço a primeira visita ao cão, passo todas as responsabilidades que o dono terá. Se ele não ajudar no treinamento, não dá certo. Não é porque o cão está sendo treinado que vai virar um robô e quando o dono falar, ele vai obedecer. A pessoa precisa se prontificar e trabalhar com o cão também, é preciso que ela crie um vínculo de amizade com ele. Se o único vínculo da pessoa for brincar com o cão, ele não vai respeita-la”, comentou.

Quando os treinos podem ser iniciados?

O cão pode começar a ser treinado a partir dos dois meses de idade, quando começa a fase do imprinting – período em que quando é filhote, conhece e absorve todas as condutas, sejam caninas ou humanas. Esta etapa é importante, pois segundo o que o cão capta, ajudará e muito na definição da sua personalidade e de seu comportamento.

“Esse treinamento da fase de imprinting deve ser feito dentro da residência, até ele completar todas as vacinas. A partir do momento que ele já estiver vacinado, já pode começar a ser treinado na rua”, informou.

O profissional explicou que o tempo de conclusão de um treinamento é relativo. “O adestramento básico de obediência, que é ensinar o cachorro a andar junto, o comando senta, deita, fica, aqui, que são usados no mundo inteiro para ter controle sobre o cão, pode levar de quatro a seis meses de treinamento. Agora quando a pessoa quer um treinamento mais específico, demora um pouco mais”, revelou.

A partir do momento que o cão estiver vacinado, já pode ser treinado na rua

Edson treina também cães para função de guarda. “É bom frisar que têm cães que não possuem instinto para guarda, apesar da raça. Não é porque o cão é um Pastor Alemão, Dobermann ou Rottweiler que ele terá sempre esse instinto”.

O profissional atualmente atende cerca de 20 cães em São José do Rio Pardo.  O treinamento oferecido por Edson é feito com método 100% positivo, ou seja, ele não utiliza punição como reforço negativo.

*Com dados da Abinpet

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