Médico Rafael Sanches, nefrologista, diz que a pressão alta ainda é o fator principal de doenças nos rins
O médico nefrologista Rafael Sanches Humel foi o entrevistado da Difusora FM no dia 10 de julho. Ele, que é natural de Catanduva, assumiu em 2016 o serviço de nefrologia e hemodiálise em São José do Rio Pardo na Clínica Regional de Nefrologia, ao lado do Hospital. Segundo ele, a Covid-19 não influenciou a incidência de problemas renais em São José e região, que continua ocorrendo em números semelhantes aos que ocorriam antes da pandemia. Ele ressalvou, no entanto, que nos municípios mais afetados pelo coronavírus a incidência aumentou, principalmente nos pacientes mais graves, internados em UTI.
“A gente aqui teve dois casos (de pacientes renais com Covid-19), sendo que uma paciente evoluiu muito bem e o rim dela voltou a funcionar depois que a infecção melhorou, recebendo alta inclusive da hemodiálise. A Covid ataca principalmente a parte pulmonar, com necessidade de UTI nos casos mais graves, mas pode ter acometimento renal em consequência da infecção. Se esta for mais complicada, com agravantes clínicos, ela pode piorar o funcionamento dos rins e eventualmente com necessidade de hemodiálise. A incidência que se calcula é que de 20 a 40 por cento dos pacientes que tenham a Covid na forma mais grave podem ter acometimento renal, e cerca de 20 por cento deles necessitarão de hemodiálise”, mencionou.
Sem sintomas
Dr. Rafael Sanches explicou que o grande problema da doença renal é que ela só irá apresentar sintomas quando estiver em fase já bem avançada. Hipertensos e diabéticos são os mais propensos à doença, mas mesmo eles só apresentarão sintomas, segundo o médico, quando o rim estiver funcionando menos que 15%. O índice de óbitos em pacientes com doenças renais crônicas ainda é alto no Brasil: 20% ao ano, sendo as causas principais o AVC (derrame) e problemas cardíacos decorrentes do funcionamento precário dos rins.
“Os principais sintomas que a gente vê nessa fase são perda de apetite, emagrecimento, náuseas, vômitos. E, eventualmente, em alguns pacientes, pela diminuição da urina, eles acabam apresentando inchaço, falta de ar, cansaço e até confusão mental e convulsão em casos mais extremos”, detalhou.
Causas principais
A pressão alta é, segundo ele, a principal causa de problema renal em pacientes de São José do Rio Pardo e em de todo o Brasil. Em segundo lugar, mas com aumento significativo nos últimos anos, vem os portadores de diabetes. A doença renal crônica é diagnosticada através de um exame de sangue que detecta níveis de creatinina; se estiverem elevados, os rins podem estar afetados. “Conforme a creatinina vai subindo na dosagem do nosso sangue, isso indica que o funcionamento dos rins está diminuindo cada vez mais e se chegar a menos de 15 por cento, precisará fazer hemodiálise”, disse.
Diálise peritoneal
A diálise peritoneal é um procedimento de substituição dos rins e é feito em casa pelo próprio paciente, após ser submetido a um treinamento específico ministrado por nefrologista ou enfermeira especializada. Um cateter é colocado dentro da barriga do paciente e nele é posta uma solução de diálise, que será infundida no corpo dele por cinco horas, em média. Depois disso, esse líquido é drenado. Esse procedimento é feito quatro vezes ao dia.
“O bom da diálise peritoneal é que ela fornece maior autonomia ao paciente. Então, como ele faz o tratamento em casa, especialmente no tratamento automatizado, com máquina e enquanto ele está dormindo, ele terá o dia todo para realizar atividades normais do dia a dia. Ele não precisará ficar vindo à clínica três vezes por semana para fazer hemodiálise por 4 horas, que é um outro tipo. Na diálise peritoneal ele pode viajar e levar os equipamentos dele. Além disso, a alimentação desses é mais liberal que a dos que fazem hemodiálise, dando-lhe um pouco mais de qualidade de vida por conta dessa liberdade”, lembrou o especialista.
Transplantes
Depois que o paciente inicia o tratamento dialítico e sendo algo crônico, ele acabará saindo da diálise somente com um transplante – recebendo rim novo. Dr. Rafael Sanches diz que atualmente o número de pacientes que realizam transplante é muito abaixo do ideal. “Temos hoje mais de 130 mil pacientes que fazem diálise no Brasil, mas são realizados apenas 5 mil transplantes por ano. Atualmente essa questão de transplante está um pouco parada por causa da Covid, pelo risco de dar problema. Aqui na clínica temos um número até satisfatório de pessoas que realizam transplante, sendo encaminhados para acompanhamento na Unicamp, que é nossa referência. Lá eles fazem todos os exames para ver compatibilidade e tudo o mais”, comentou.
Carambola
A carambola é contraindicada a pacientes que já tenham algum problema renal por conta da toxina que a fruta possui, pois pode causar intoxicação e afetar a eliminação da urina. A ingestão de proteínas (em carne, leite e ovos, principalmente) também não é indicada para quem tenha os rins funcionando apenas 30% ou menos, o mesmo ocorrendo com os anti-inflamatórios.
Cigarro e bebidas
O cigarro, segundo o médico, é comprovadamente prejudicial aos rins, enquanto as bebidas alcoólicas, pelos problemas colaterais que podem acarretar no fígado e no coração, também podem afetar a parte renal.
Homens são mais acometidos com problemas renais que as mulheres, representando 58% dos pacientes no Brasil, com faixa etária média entre 45 a 60 anos ou após 65 anos.