Daniela Lopes Villela mudou com o marido Paulo para lá em janeiro e relatou ao jornal o drama do país
A pedagoga rio-pardense Daniela Lopes Villela Martin, de 31 anos, está morando em Barcelona, Espanha, desde o dia 23 de janeiro deste ano. Seu marido Paulo Henrique Mendes Martin, de 33, natural de Campinas, é programador e foi contratado por uma empresa espanhola vinculada ao setor de aviação. Ele desenvolve aplicativos e, neste período de confinamento absoluto decretado pelo governo espanhol, trabalha em home office (em casa). O casal acompanha com apreensão as tristes notícias de mortes diárias que vêm ocorrendo naquele país e evita ao máximo sair de casa.
Daniela é filha do jornalista da Gazeta do Rio Pardo, Eduardo Eron B.Villela, e, por telefone, relatou como ela e Paulo estão vivenciando este momento tão dramático no continente europeu. A entrevista foi feita quinta-feira pela manhã, dia 26, às 8h30 no horário do Brasil e 12h30 no horário da Espanha.
“Hoje é o 13º dia de isolamento decretado pelo governo daqui. As pessoas só estão autorizadas a sair de casa para situações de emergência, como ir a farmácias ou hospital, e mesmo assim só se estiverem muito ruins. Também podem ir ao supermercado se realmente precisarem comprar algo essencial, mas têm que usar luvas e se proteger bem com álcool em gel. Chegando nos supermercados, há um funcionário ou um policial na entrada e o acesso é muito controlado. Só entra uma pessoa por vez e, mesmo assim, com certa distância de um cliente para o outro”, explicou.
“O controle de pessoas nas ruas de Barcelona é muito rigoroso pela polícia. Na verdade, as ruas estão praticamente desertas, quase não se vê alguém. O governo fixou uma multa de 200 euros para quem estiver nas ruas sem motivo emergencial e, na reincidência, a multa sobe, se não me engano, para 1000 euros e ainda a pessoa pode ser presa”.
“Em toda a Espanha houve uma redução drástica de acesso aos mercados. Eu mesma foi ao supermercado na quinta-feira passada, dia 19, e depois disso não sai mais de casa. E os supermercados não têm tudo, falta muita coisa, a gente precisa ir em mais de um para encontrar coisas básicas. Mas um detalhe que chama a atenção é que na porta deles há um cartaz recomendando a cada pessoa que pense no próximo e não compre coisas que realmente não necessite, para sobrar a quem de fato precisa. Isso achei bonito”.
Brasileiros em Barcelona
Daniela disse que uma grande rede de shoppings centers em Barcelona, chamada Les Cortes, fechou temporariamente todas as suas unidades e dispensou os funcionários, mas vem mantendo o pagamento de seus salários. Outras empresas também estão fazendo o mesmo, como a Britsh Airlines, Iberia, Ethiad e Emirates, mas mantendo voos cargueiros e de repatriação.
“A minha empresa, Skyscanner, continua a pagar os funcionários de limpeza, mesmo eles não podendo ir até o escritório para fazer esse serviço”, comentou Paulo, marido de Daniela.
Alguns brasileiros provavelmente estejam empregados nesta rede, mas, segundo a rio-pardense, a maioria trabalha por conta própria, em restaurantes de comida brasileira, por exemplo, ou em trabalhos braçais. “Esse grupo de brasileiros se fala pelo facebook e acho que boa parte deles agora está sem renda ou tentando vender alguma coisa pelo aplicativo, mas creio que está difícil para todos”, opinou.
Daniela trabalhou alguns anos em São José do Rio Pardo no Colégio Unigrau e, depois que se casou com Paulo, eles foram morar em Jundiaí. Lá ela trabalhou como pedagoga na Escola Cristã durante três anos, até que seu marido recebeu a oferta de trabalho na Espanha em meados de 2019. Até então, ele trabalhava em casa para uma empresa da Suíça. A decisão, porém, de mudar de país demorou e ambos não imaginavam que chegariam à Europa pouco antes de eclodir o Covid-19.
Alguns querem voltar
Em Barcelona, ela conhece brasileiros da reunião da igreja evangélica que frequentava com Paulo antes do decreto de isolamento e alguns outros que atuam nas atividades citadas anteriormente. “Conheci uma moça de Jundiaí que estava interessada em reunir conosco e outra do Tocantins, que trabalha fazendo sobrancelha. Mas já há brasileiros aqui querendo voltar para o Brasil por causa do pandemia, que até esta quinta-feira já tinha feito 86 mortes em Barcelona. Outros dizem que vão ficar e acham que no Brasil é pior. O governo espanhol havia decretado a quarentena por 15 dias, mas já ampliou para mais 20. Mas, apesar de tudo isso, por enquanto estamos bem”, concluiu.
Daniela e Paulo moram na rua Carrer de Biscaia, 344, Entresuelo Puerta 3, no bairro Navas.