Este trio infame define o que a psicologia atual costuma chamar de “pessoa ruim”
O texto a seguir foi divulgado esta semana pela BBC Brasil, com base em estudos de psicólogos do Canadá, com interpretação de uma pesquisadora inglesa. Vale a pena ler e conferir se nos identificamos, ou identificamos alguém de nosso convívio diário, no perfil descrito na matéria. Boa leitura!
O primeiro desses traços é o narcisismo (indivíduo que admira exageradamente a sua própria imagem e nutre uma paixão excessiva por si mesmo). Pessoas narcisistas tendem a se concentrar em si mesmas, fantasiar com poder ilimitado e precisar da admiração constante dos outros.
Em seguida vem a psicopatia, isto é, falta de empatia com os demais. É a característica própria de pessoas manipuladoras, não confiáveis e que não se importam com os sentimentos ou interesses de outras pessoas.
Essa turma do mal é completada pelo “maquiavelismo“. Pessoas que têm esse comportamento muito acentuado costumam ter atitudes cínicas e adotarem estratégias cujo único propósito é beneficiar seus próprios interesses.
Os três traços estão presentes nas pessoas emocionalmente frias. Alguns estudos mostraram que pessoas com altas pontuações nesta “tríade obscura” também possuem níveis baixos de características como simpatia, honestidade e humildade.
Recentemente, uma equipe de psicólogos da Universidade de Western Ontario, no Canadá, sugeriu em um artigo acadêmico que uma quarta característica deveria ser incluída nessa combinação do mal: o sadismo.
A ‘tétrade’ obscura
Os especialistas definem o sadismo como “uma tendência a se envolver em comportamentos cruéis, degradantes ou agressivos em busca de prazer ou dominação”. Na linguagem comum, ser sádico é gostar de causar sofrimento aos outros.
Várias das características do sadismo se sobrepõem às características da tríade, mas, ao mesmo tempo, dizem os pesquisadores, este tem aspectos únicos que justificariam estudar a possibilidade de somá-lo à tríade. Seria a “tétrade obscura”.
Para chegar a essa conclusão, os psicólogos submeteram um questionário com nove questões a 202 universitários (54 homens e 148 mulheres), entre 17 e 26 anos.
Estas são as nove questões do teste, em que os participantes tiveram que marcar de 1 a 5 o quanto concordaram com essas afirmações:
- Eu aplico peças nas pessoas para que elas saibam que eu estou no controle da situação;
- Eu nunca me canso de pressionar as pessoas ao meu redor;
- Eu prejudicaria alguém se isso significasse que eu estaria no controle;
- Quando eu zombo de alguém, acho engraçado vê-lo com raiva;
- Ser mal com os outros pode ser divertido;
- Dá prazer ridicularizar as pessoas na frente de seus amigos;
- Acho divertido ver as pessoas brigarem;
- Eu penso em ferir as pessoas que me irritam;
- Eu não machucaria ninguém de propósito, mesmo que essa pessoa não goste de mim.
As respostas dos estudantes levaram os pesquisadores a concluir que, apesar do sadismo compartilhar algumas das características do narcisismo, da psicopatia e do maquiavelismo, “não pode ser reduzido a (uma manifestação dos) outros três”.
Minna Lyons, pesquisadora da escola de psicologia da Universidade de Liverpool, não participou do estudo canadense. Ela, porém, concorda que o sadismo é uma característica em si.
“O sadismo é interessante porque parece diferente da tríade obscura”, disse Lyons à BBC Mundo. “Se alguém tem pontuação alta em psicopatia, ele não necessariamente gosta de causar dor a outras pessoas, então parece ser um traço de personalidade distinto.”
Para Lyons, é importante estudar esses comportamentos entre pessoas comuns, não apenas entre pessoas que foram diagnosticadas com um distúrbio de personalidade, para ver como essas características se entrelaçam com outros comportamentos.
Além disso, ela adverte que essas características fazem parte do comportamento diário das pessoas. E que, em certas circunstâncias, podem inclusive ser benéficas.
“É normal que haja pessoas com alto índice de sadismo, o que não faz delas anormais. Inclusive o fato de ter uma pontuação alta não te torna necessariamente uma pessoa má”, explica Lyons.
“(Essas características) tornam-se problemáticas no momento em que começam a interferir na vida, ou a pessoa começa a perder o controle, e começa a prejudicar outras pessoas e a si mesmo”, diz a psicóloga.
Ela também alerta para o fato de que esse tipo de teste é apenas uma ferramenta de medição. Não é usado como diagnóstico, já que muitos outros fatores devem ser levados em consideração ao avaliar o comportamento de uma pessoa.