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Chuvas volumosas deverão retornar em novembro

Climatologista fala sobre inverno irregular e explica tempestade de areia ocorrida em junho

O inverno acaba no dia 22 de setembro, e este ano a estação foi marcada por diversas irregularidades climáticas. Durante vários dias, foi possível experimentar um calor intenso durante a tarde, e quedas bruscas de temperatura durante a noite e ao amanhecer. Com essas condições, muitas pessoas acabaram apresentando sintomas alérgicos e até mesmo gripes e resfriados.

Segundo o balanço divulgado pela Sismet Cooxupé, São José do Rio Pardo chegou a atingir uma mínima de 6,5 ºC e uma máxima de 32 ºC no mês de agosto. Já em junho, mês que deu início ao inverno, a mínima histórica registrada foi de 3,6 ºC, enquanto a máxima de 28,5 ºC. Em julho, as temperaturas seguiram um padrão parecido com o mês posterior, com mínima de 6,9 ºC e máxima de 29,2 °C.

O climatologista Pedro Fontão fez um balanço e respondeu algumas dúvidas enviadas pelo jornal essa semana sobre as causas relacionadas a irregularidade do clima durante o inverno.

“O outono-inverno de 2022 foi marcado pela irregularidade e apresentou uma condição bastante atípica – o frio chegou mais cedo, e tivemos um dos meses de maio mais frios no centro-sul brasileiro dos últimos tempos. No entanto, principalmente no mês de julho, houve um bloqueio atmosférico que dificultou os avanços das frentes frias (e de ondas de frio) em direção ao interior de São Paulo. Passados tais condições, em agosto o ar polar já conseguiu avançar um pouco mais, trazendo temperaturas mais amenas e dias/noites mais frias em São José do Rio Pardo, com uma leve tendência de frio tardio para este ano”, relatou.

Pedro Fontão, climatologista

Como já esperado nessa época do ano, a chuva está escassa. Há alguma previsão de retorno? Como a falta de chuva têm afetado o solo e o clima este ano?

Pedro: A estiagem foi intensa e iniciou em meados de maio, e deve perdurar por mais algum tempo. As chuvas que precipitaram na segunda semana de agosto serviram para aliviar um pouco a situação, embora não resolvam a questão. Felizmente tivemos um verão bastante úmido, com chuvas consideráveis, pois realmente a estiagem deste ano foi (e está sendo) intensa, assim como nos dois últimos anos (2020-2021, principalmente no outono-inverno). Pelos modelos de previsão climática que tenho observado, a tendência é que as chuvas mais volumosas retornem ao longo do mês de novembro, mas não está descartado algum evento específico nos próximos dois meses, o que aliviaria bastante a situação.

Por que motivo tivemos mudanças climáticas tão abruptas? (Dias totalmente quentes e ensolarados, mesmo no inverno, e anoitecer frio).

Pedro: A irregularidade deste inverno foi bastante marcante na dinâmica da atmosfera. Parte disso, foi devido às influências do fenômeno La Niña (caracterizado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico na região equatorial, cuja anomalia negativa de temperatura influencia o clima de todo o Planeta).

Além disso, as massas de ar que perduraram por vários dias (ou semanas, como é o caso de julho), e o tempo seco com baixa umidade relativa do ar, elevaram a amplitude térmica e provocaram calor durante o dia (as vezes, acima de 30°C) e tempo ameno ou frio durante a noite. Vale ressaltar que foram mudanças de temperatura e de tempo atmosférico, que eventualmente ocorrem nessa época do ano, e não necessariamente influenciadas pelas Mudanças Climáticas.

Tivemos uma tempestade de areia na região no mês de julho. Pode explicar este fenômeno?

Pedro: No ano passado ocorreu um fenômeno semelhante no interior de São Paulo – em municípios como Franca e Ribeirão Preto. Tal evento pode ocorrer em momentos pré-tempestade quando há mudanças bruscas no tempo (após semanas mais quentes e secas), e repercutindo em lindas fotografias.

Como a estiagem deste ano também foi severa, acumulou-se bastante sedimento e poeira ao longo da superfície, e material particulado na atmosfera. A mudança de tempo provocada, por exemplo, pelo avanço de uma Frente Fria após semanas de dias quentes e secos, pode ocasionar ventos intensos e áreas de instabilidades associadas ao calor da região, que levantam uma quantidade significativa dessa poeira acumulada para a troposfera, provocando tal fenômeno – conhecido como haboob, ou habub (termo de origem árabe).

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