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Restaurantes retornam com atividades presenciais e proprietários relatam dificuldades

Por Júlia Sartori

Primeiros meses de 2021 foram considerados o pior período para o setor alimentício

Com a fase de transição declarada pelo governo do estado, no sábado (24), o Plano SP entrou na segunda semana da transição, iniciada no último domingo (18) e que será responsável por retomar a atividade econômica em todas as cidades do estado. Desde o dia 24 de abril, em que foram liberadas as atividades presenciais em bares e restaurantes, com horário de funcionamento estabelecido das 11h00 às 19h00, os serviços alimentícios em São José do Rio Pardo fizeram a reabertura, após mais de um mês de fechamento. Essa semana, o Plano SP flexibilizou o horário de funcionamento dos serviços, e o setor alimentício passará a funcionar das 06h00 às 20h00. A Gazeta do Rio Pardo entrevistou três proprietários de restaurantes tradicionais no município, para saber como está a demanda presencial desde o dia da reabertura. Além disso, os empresários falaram sobre as dificuldades que enfrentaram durante a fase emergencial.

O jornal destaca que na opinião dos três proprietários, o pior período para o setor alimentício foram os primeiros meses de 2021.

Quintal


Aparecido Roque (Degue), à esquerda, cozinheiro e pai de Daniel Roque, à direita, proprietário do Quintal

Daniel Gesualdo Roque, proprietário do restaurante ‘Quintal’ há 11 anos, deu seu depoimento sobre como têm driblado as dificuldades geradas pela pandemia.

“Os clientes estão voltando aos poucos, a procura é baixa, mas estão retornando”. Segundo ele, as vendas do restaurante caíram em 80% durante a proibição das atividades presenciais.

“Não precisamos demitir nenhum funcionário, primeiramente por uma ajuda, que considero insuficiente do governo, foi mínima, mas foi um fator que contribuiu para não ocorrer demissões. Mas o que realmente nos ajudou foi a administração do restaurante dos anos anteriores, que possibilitou uma pequena reserva financeira, que utilizamos inteira durante o fechamento. Teve aumento de insumos e matéria prima, isso prejudicou bastante. Se formos repassar o valor do aumento dos insumos na marmita, fica inviável. Tivemos uma ajuda do proprietário do imóvel, ele nos ajudou com a renegociação do valor da locação, isso foi muito importante para nós. Ele foi muito parceiro”, destacou o empresário. 

“Estamos priorizando as entregas, investimos mais no marketing, foram fechadas novas parcerias para fazer divulgação pelas mídias sociais. Com isso, as vendas pelo WhatsApp aumentaram, assim como pelo telefone”, contou.

Durante o fechamento, o restaurante Quintal trabalhou com delivery e take away ( serviço de retirada).

“Nessa semana de reabertura, tivemos a presença dos clientes fiéis do restaurante, que são pessoas que nos acompanham desde que o inauguramos. Tê-los aqui é muito gratificante para nós. Toda a família Quintal, mesmo as pessoas dos grupos de risco, que são nossos pais, vieram até o restaurante no sábado de reabertura, para dar a presença aos clientes que vieram e estavam com saudades do restaurante. Foi unânime, ouvimos de todos eles que foi muito bom poder retornar”, disse Daniel.

Distanciamento, sachê de vinagre e azeite para evitar o contato das pessoas com o vidro, material que antes da pandemia era compartilhado, foram medidas sanitárias adotadas pelo restaurante. “Foram retiradas as toalhas, os talheres foram embalados e esterilizados individualmente. Fizemos um QR Code para o cardápio, para as pessoas olharem pelo celular sem a necessidade de ficar manuseando um cardápio físico”, explicou.

“Adotamos todas as medidas de proteção, fomos bem rigorosos”, completou.

Daniel declarou que esperava mais ajuda, tanto do governo federal, como estadual, e também do município. “Infelizmente essa ajuda não veio. Vieram as medidas de fiscalização, mas a ajuda financeira necessária não”, afirmou.

Restaurante Brasil


Luciana Ruy Raddi, proprietária do Restaurante Brasil

O ‘Restaurante Brasil’ existe desde 1979, e Luciana Ruy Raddi, que o administra há mais de 30 anos, também conversou com o jornal sobre a situação do estabelecimento diante da pandemia.

“A procura presencial está baixíssima. A maioria dos nossos clientes são pessoas que estão de passagem pela cidade. O clientes antigos de São José, que frequentavam diariamente o restaurante, ainda não retornaram, e acredito que vá demorar um pouco”, declarou.

Para Luciana, tem sido uma luta constante manter as despesas do restaurante. “O delivery não supre todos os nossos gastos. A nossa maior luta é manter o quadro de funcionários, todo esse tempo batalhamos para não precisar fazer nenhum corte, não está sendo fácil, esse ano está pior que o ano passado, mas por enquanto não demitimos nenhum colaborador”, informou.

“Tivemos que nos desfazer de bens pessoais para conseguir manter o restaurante aberto e os colaboradores. Durante a pandemia, nossas vendas caíram mais de 70%”, relatou.

“Emocionalmente, no início, acreditávamos que o fechamento não fosse passar de um mês. Quando a situação foi se estendendo, foi muito difícil aceitar, nunca imaginamos ver a porta do restaurante fechada, foi um choque muito grande, uma realidade triste. Esse ano, economicamente, está pior do que 2020, porque agora estamos sentindo os reflexos. A questão financeira pesa muito”, completou.

O restaurante está investindo em combos promocionais para atrair os clientes, principalmente aos domingos. “Tivemos que nos reinventar”.

“Temos uma nutricionista que trabalha conosco há anos, diariamente, então sempre tivemos cuidados na manipulação de alimentos, mas foi preciso acrescentar esses cuidados para os nossos clientes. Aumentamos os EPI´s, colocamos tudo descartável, álcool em gel, papel toalha, redobramos alguns cuidados”, explicou a empresária.

Luciana confessou que a entristece saber que outros restaurantes não conseguiram manter o funcionamento. “Até hoje, conseguimos permanecer trabalhando com muito sacrifício. Nós não queremos perder a essência, honestidade e nem a qualidade que é algo que prezamos muito aqui. No início da pandemia, muitas pessoas começaram a fazer marmita em casa como forma emergencial de se sustentar, isso atrapalhou os restaurantes, mas entendemos que era um meio de vida. Mesmo assim continuamos firmes com a mesma qualidade e mesmo comprometimento que sempre tivemos”.

Tia JÔ

Mauro Buzatto Amaral, proprietário do restaurante ‘Tia Jô’

Mauro Buzatto Amaral, proprietário do tradicional restaurante ‘Tia Jô’, falou sobre as dificuldades enfrentadas durante o período de fechamento, exigido pelo Plano SP.

“Tivemos um prejuízo de aproximadamente 40% do nosso faturamento. Nossa grande vantagem em relação a algumas empresas que atuam no mesmo segmento, foi que sempre tivemos um bom desempenho com delivery, é um restaurante tradicional com esse serviço que conta com uma equipe própria de entrega”, contou.

De acordo com Mauro, a demanda do retorno está baixa, porém, já era algo esperado. “Aqui no restaurante, atendemos mais pessoas que estão passando por São José, circulando pela cidade. Mas a população da cidade ainda não retornou”.

“O ano passado sofremos muito com o fechamento, o período foi maior sem o atendimento presencial, mas esse ano, com tudo parado por 60 dias, o faturamento caiu mais, os produtos estão mais caros do que antes. Tudo isso acabou complicando para nós”, relatou.

“Procuramos fazer algumas inovações no cardápio para atrair clientes, ampliamos o horário de atendimento a noite, estendemos em uma hora o delivery. As mudanças no cardápio nos ajudaram a ter uma demanda um pouco maior”, afirmou.

Mauro contou ao jornal que não precisou dispensar nenhum colaborador. “Aproveitamos a oportunidade que o governo federal implantou o ano passado, como a redução de jornada e afastamento temporário. Procuramos manter a equipe. Temos a vantagem de ter o prédio próprio, então não precisamos pagar aluguel”, completou.

“Divulgamos o cardápio nas mídias sociais e inserimos o serviço delivery em aplicativos. Fizemos o que estava em nosso alcance, porque a capacidade de investimento em marketing precisou ser reduzida durante esse período”, explicou.

As medidas sanitárias, foram feitas de acordo com a solicitação do governo. No restaurante, as mesas foram distanciadas conforme pede o protocolo sanitário. “Disponibilizados álcool em gel, toalhas de papel, nossos entregadores tanto na entrada como na saída, se higienizam. Adotamos a entrega sem contato, em que o cliente já faz o pagamento via aplicativo, sem precisar ter um contato direto”, revelou Mauro.

“Agora fica a expectativa de ter uma melhora gradativa no atendimento presencial, principalmente na medida em que a vacinação for avançando. Tenho esperança de que as coisas comecem a voltar ao normal”, concluiu.

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