Nesta edição convidamos a atleta Clarissa Navarro Ferreira de Moraes para deixar uma mensagem, em nome de todas as mulheres que praticam esporte. Clarissa, então, elaborou um texto lembrando, inicialmente, a história do esporte sem participação de mulheres e o posterior desenvolvimento dele, até chegar aos dias atuais.
Você provavelmente já deve ter escutado que “esporte não é coisa de mulher”. Mesmo que hoje essa frase pareça absurda, ainda é pronunciada por alguns (tanto homens quanto mulheres, pasmem!). Esse absurdo vem lá da Grécia Antiga, onde acreditava-se que as mulheres ficariam masculinizadas com exercícios, além de não terem condições físicas para a prática de esportes.
Aliás, ainda nessa época: sabia que era costume os homens competirem nus e as mulheres eram proibidas até de assistir? Por sinal, se elas fossem flagradas observando, eram condenadas à morte. E se hoje o cenário esportivo é diferente, é graças às mulheres que lutaram e lutam para quebrar barreiras.
Quem ajudou a mudar?
Cada modalidade esportiva, competição e país têm suas próprias guerreiras – por exemplo, quando o assunto é as Olímpiadas, a francesa Alice Melliat tem um papel de destaque. Nos jogos de 1900, ela e mais 10 mulheres foram até Paris para participar da primeira edição dos Jogos Olímpicos da era Moderna. Foi Alice quem reivindicou a entrada das mulheres em diversas modalidades esportivas. Mas você sabia que o COI (Comitê Olímpico Internacional) reconheceu as mulheres como atletas olímpicas apenas em 1936?!
Já aqui no Brasil, ainda nas Olímpiadas, Maria Lenk teve papel fundamental. Com apenas 17 anos, em 1932, ela foi a primeira brasileira a participar de uma Olímpiada. Apesar de não ter ganhado medalhas, ela foi um grande incentivo para outras mulheres começarem a participar dos jogos.
Agora pasmem: as mulheres só passaram a ter direito de participar de todas as modalidades olímpicas em 2012. É, ainda falta chão para a causa feminista.
Por isso, eu e todas as mulheres que praticam esportes deveríamos continuar neste caminho, seja por lazer, saúde ou para competir. Afinal de contas, lugar de mulher é onde ela bem quiser – escalando, acampando, viajando, correndo, lutando… fazendo o que bem entender.
As Olímpiadas modernas recomeçaram em 1896 e seu idealizador era absolutamente contrário à participação de mulheres. Segundo ele, os Jogos Olímpicos deveriam ser uma “solene exaltação do atletismo masculino”. Nenhuma mulher participou oficialmente das primeiras edições, mas houve participações não oficiais de duas atletas: Melpômene e Stamata Revithi.
Com o passar do tempo e a mudança do papel da mulher que, com a revolução industrial, passou a trabalhar fora de casa, o movimento com relação ao reconhecimento das atletas nos esportes foi se tornando cada vez mais intenso e, em 1928, o COI aprovou a inclusão de provas de atletismo para as mulheres nas olímpiadas. Infelizmente, nessa época, ainda acreditava-se que elas não eram capazes de correr grandes distâncias e, por este motivo, as provas de atletismo ficaram restritas às modalidades de curta distância – mantendo a exclusividade de provas longas para os homens (até 1960).
Mas é claro que as coisas não ficaram paradas por aí. Em diversas ocasiões, mulheres desafiaram as regras pré estabelecidas e participaram de provas que até então eram exclusivamente masculinas: Maratona de Boston, São Silvestre, entre outras. E foram derrubando o pré conceito de que as mulheres são mais frágeis e não suportariam provas de atletismo mais longas.
A presença de mulheres nas disputas de longa distância foi parcialmente consolidada em 1984, com o reconhecimento de mulheres na participação dessas provas. Mas, foi apenas em 1996, que uma maratona feminina foi incluída nas olímpiadas – sinal do reconhecimento da presença feminina no atletismo.
Na história do Triátlon feminino, a primeira mulher a completar o Ironman do Havaí foi a ciclista Lyn Lemaire, que aceitou o desafio de completar o desafio de nadar 3,8km, pedalar 180km e correr 42,2km junto com mais 14 homens, e apesar do “sexo frágil”, permaneceu na segunda colocação geral durante um bom tempo, e finalizando a prova na quinta colocação geral entre 11 homens que terminaram a prova (pois 3 deles haviam desistido). E ela, como toda mulher guerreira, não desistiu! É claro que a parte fisiológica (hormônios e força muscular masculinos) influencia muito no desempenho, mas as mulheres sempre guerreiras jamais devem se intimidar com isso e jamais desistir!