terça-feira , 26 novembro 2024
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Bruna Viana Silva é estudante e usa a máquina em braile para escrever na escola

Aluna deficiente visual narra jogos do Palmeiras pelo WhatsApp

Bruna já nasceu com a deficiência , mas isso nunca a impediu de acompanhar jogos do seu time

A aluna Bruna Viana Silva, de 14 anos, estuda no CAIC e é uma torcedora fiel do Palmeiras, a ponto de narrar e comentar os jogos da equipe pelo WhatsApp. Até aí não haveria novidade alguma, já que muitas outras adolescentes cultivam algum tipo de admiração por algum time. A diferença é que Bruna é cega, mas ouve as narrações e vai escrevendo cada lance na linguagem braile, para que mais pessoas compartilhem também do mesmo lazer.

Bruna já nasceu com a deficiência visual, mas isso nunca foi um problema para que acompanhasse os jogos e o desempenho do seu time. A adolescente é rio-pardense, mora em um dos prédios do Profast há cinco anos, no bairro Carlos Cassucci, e visitou esta semana a Gazeta do Rio Pardo ao lado da mãe, Juliana Viana Correia, de 35 anos.

Vida

“Ela nasceu com sete meses e meio, com um problema na retina. Nós íamos muito para a Unicamp, para fazer exames e acompanhar a deficiência visual. A Bruna começou a estudar no Caritas, para ser alfabetizada em braile, e logo depois que aprendeu, eles disseram que ela não precisava mais estudar lá, que já havia aprendido o que precisava. Aí ela entrou na escola Stella Maris, em 2011, que é uma escola muito boa, acolheu muito bem ela, ajudam em tudo o que ela precisa. A deficiência dela é só visual. Ela não tem nenhuma outra dificuldade, ela aprende muito bem na escola”, assegura Juliana.

“Sempre nos adaptamos às condições dela, não tivemos problemas com isso. A única coisa que ela não faz é andar na rua sem mim, isso eu não deixo mesmo. Uma das minhas preocupações é quando a Bruna tiver que mudar de escola, ela vai precisar pegar ônibus, e fico preocupada com isso. Mas ainda temos mais um ano pela frente antes de isso acontecer”, prosseguiu a mãe.

Escola

“Quando a Bruna entrou no Stella Maris, ela foi apresentada para a escola e nós a apresentamos para os alunos, funcionários e professores. Todos sempre respeitaram muito ela. E o aprendizado dela é muito bom, é uma ótima aluna. Ela é super adaptada, e o mais importante, a escola se adaptou a ela. Porque não é o deficiente que precisa se adaptar, e sim a escola. Muitas pessoas precisam entender isso”, diz a professora Andréa Benedito, que lecionou para Bruna durante um certo período. 

Máquina em braile

“A Bruna usa uma máquina em braile para escrever. Cada botão tem os pontinhos que correspondem às letras. Ela ganhou esse presente da Lúcia Libânio. Eu solicitei e fui atendida.  Ela usa também o Soroban, que é tipo um ábaco, para fazer contas. O certo era ela ter uma máquina dessas na escola. É bem pesada para ficar carregando, e eu tenho que levar todos os dias para ela escrever durante as aulas. Essa máquina custa em torno de R$3.000. Quando a máquina estraga, quem arruma é o pai dela. Não tem uma manutenção própria. Seria muito bom se tivesse uma na escola”, disse Juliana, anelando que alguém um dia faça tal doação.


Máquina em braile como esta da Bruna pode custar R$3.000

Professores ajudam

Segundo a mãe, Bruna gosta de prestar atenção nas aulas, e se sente desconfortável quando alguns alunos desrespeitam os professores.

“Os professores ajudam muito. O de matemática, que se chama Sidney, sempre dá um jeitinho para me ensinar quando tenho alguma dificuldade. Ele se adapta a mim. Ele dá jeito pra tudo, é um ótimo professor”, elogia Bruna. “Os professores ficam meio magoados quando os estudantes não prestam atenção e ficam conversando. Eles vão até a escola com a maior alegria e boa vontade para ensinar, e os alunos não escutam”.

Futebol

“Comecei a gostar de futebol por influência da minha tia Janaina, ela torce para o Corinthians, e sempre que tinha jogos do Corinthians ela ficava torcendo, gritando, e com isso me interessei pelo futebol. Comecei torcendo para o Corinthians também, mas depois desanimei do time. Perdi o gosto e resolvi torcer para o Palmeiras”.

“Eu não gosto muito de assistir os jogos pela televisão, então uso uma caixinha de som para ouvir. Quando tem jogo, nem saio de casa. Durante os 90 minutos sou eu, a caixinha e o celular para escrever. Quando começa o jogo, eu vou descrevendo no status do WhatsApp todos os detalhes. Às vezes eu coloco a escalação também”.

“Eu comecei a torcer para o Palmeiras dia 14 de outubro, lembro até a data. Meus amigos geralmente comentam sobre o jogo e o que postei no status na sala de aula. O jogo que me deixou mais tensa até hoje, foi quando o Palmeiras jogou a libertadores contra o Godoy Cruz, e perdeu de 2 a 0”.

Mensagem de Bruna

“Minha mensagem para quem tem algum tipo de dificuldade, é que se a pessoa se sente excluída, por exemplo, ela não tem que se preocupar, porque se ela sabe que é perfeita do jeito dela, tem boa convivência com os outros, ela não tem que se preocupar com isso”, encerra Bruna.

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