Prejuízos nas plantações vão resultar em aumento de preços para o consumidor e impactar na inflação
Para marcar as comemorações pelo Dia do Agricultor, lembrado em 28 de julho, a Rádio Difusora e Gazeta do Rio Pardo convidaram nesta semana o presidente do Sindicato Rural de São José do Rio Pardo, Claudinei Minussi e a gerente, Jaqueline Viana. Eles falaram sobre as dificuldades do setor, especialmente dos problemas causadas pelas geadas dos últimos dias.
Dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) confirmam o agronegócio como um dos setores principais do crescimento econômico do país. Em 2019, a soma de bens e serviços gerados pelo agronegócio chegou a R$ 1,55 trilhão ou 21,4% do PIB brasileiro. Dentre os segmentos, a maior parcela é do ramo agrícola, que corresponde a 68% desse valor (R$ 1,06 trilhão), a pecuária corresponde a 32%, ou R$ 494,8 bilhões. Mas as mudanças climáticas têm preocupado este cenário.
Claudinei começou a entrevista falando sobre o café, que foi uma das produções mais atingidas pela geada nos últimos dias. “É uma situação preocupante, principalmente no setor do café que foi o mais prejudicado. O prejuízo será enorme. Mas é ainda imprevisível, porque quando uma geada atinge um pé de café, nunca se sabe até onde pegou. Pode atingir só as pontas, ou dependendo da idade do café pode ocasionar uma perda total da planta”, contou.
Segundo ele, a região do Sul de Minas foi a mais afetada. “Eles estão calculando em torno de 30% ou 40% de perda da produção. São José não sofreu muito com essa perda, porque aqui não temos muita plantação de café, mas as geadas acabaram atingindo todo mundo.
Aumento nos preços
Com as baixas temperaturas, geadas e prejuízos, os preços das hortaliças já começaram a sofrer aumento nas prateleiras dos supermercados. Além disso, certos produtos que não resistem a geadas. A abobrinha e o tomate por exemplo, são muito frágeis. Todas as folhosas são. Já a cebola e a cenoura, resistem melhor”, destacou.
Segundo informações publicadas na “Folha Mercado”, como já esperado, as geadas provocadas pela onda de frio intenso desta semana afetaram plantações do Sul e Sudeste.
O impacto chegará aos consumidores: os prejuízos dos últimos dias podem elevar a inflação de 2021 em 0,1 ponto percentual, aponta a XP. Com isso, o IPCA pode ultrapassar 7% em 2021.
Jaqueline relatou que percebeu o efeito da geada nas bancas de vendas de hortaliças. Não apenas com relação ao preço, mas a qualidade do produto. “Percebemos as diferenças nos produtos, e também a dor dos agricultores. A grande parte deles, que participa da Feira do Produtor, vende hortaliças. Ainda não sabemos o tamanho da perda, mas sabemos que será grande”, lamentou.
Prevenção
Jaqueline Viana diz que neste momento complexo, o Sindicato Rural está focado na orientação aos produtores para a prevenção de mais problemas. “Nós tentamos trabalhar com a prevenção. Somos o Sindicato de São José do Rio Pardo, mas temos duas extensões de base: Tapiratiba e Itobi. Todas as informações que recebemos são da Faesp, Senar e Sebrae. Recebemos todos os conteúdos deles, toda a questão da aplicabilidade e agora da prevenção, essa semana especificamente trabalhou-se muito isso”, relatou.
“O que conseguimos fazer presencialmente é feito nas propriedades, e aquilo que não podemos, fazemos por meio digital, temos uma plataforma onde o produtor recebe toda a informação”, disse.
O Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) oferece aos produtores rurais através de instrutores a prática e o conteúdo daquilo que eles produzem em suas terras. “Com essa situação da geada, alguns agricultores vieram me pedir o telefone de um instrutor porque eles têm pelo menos a informação que vai ajudar a amenizar algum problema na produção”, disse Jaqueline.
Ela observa ainda que o Sindicato encaminha os agricultores para técnicos específicos que podem orienta-los com relação a problemas em suas plantações, para diminuir ou prevenir o impacto negativo de determinadas situações.
Falta de chuvas
Além da falta de água, que para as lavoras é essencial, os produtores rurais ainda enfrentam problemas com geadas, o que agrava a situação.
“Fomos fazer visitas em cerca de 20 propriedades rurais, acompanhamos e vimos que a situação é de dar dó. Os açudes estão com um nível baixo, as hortaliças secando”, lamentou a gerente.
Segundo Claudinei, os agricultores precisarão racionar água e diminuir a produção para conseguir manter as plantações. “Não tem como produzir sem água”.
Agro Rede
A Secretaria Municipal da Agricultura, em parceria com o Sindicato Rural, teve a inciativa de criar um projeto de segurança rural, chamado Agro Rede. “Quando o projeto se iniciou, o objetivo era que ele cuidasse da segurança. Trouxemos junto conosco a GCM e a Polícia Militar, mas durante a discussão do projeto, decidimos aproveitar e trabalhar com três setores: segurança, queimadas e falta de água. Já convidamos até mesmo o Corpo de Bombeiros para participar”, contou Claudinei.
O programa deverá se estender por toda a zona rural do município, a qual foi sistematizada em seis regiões, e cujos moradores têm recebido informações do projeto. “A ideia é começar com essa rede e disseminar o projeto, e também as ações que são muito importantes. A população precisa se envolver com a prática e o conteúdo. A segurança é uma questão de todos, não dá mais para proteger apenas um local”, completou Jaqueline.
Segundo Claudinei, a GCM e Polícia Militar irão dar o suporte necessário de segurança. “Mas quem vai cria-la são os moradores. Em cada setor estamos criando um grupo de WhatsApp para que as pessoas possam interagir e saber o que está acontecendo. Em cada grupo, existe um tutor, ele vai levar as informações e manter contato com a polícia. Com isso, as pessoas se sentirão protegidas, e dessa forma as ações poderão ser executadas caso necessário”, disse a gerente.
Cursos
Os cursos conduzidos pelo Sindicato Rural em parceria com o Senar voltaram a ser ministrados pessoalmente. Segundo a gerente, todos os protocolos estão sendo seguidos. Um curso que antes da pandemia tinha o público alvo em torno de 30 pessoas, foi reduzido para 15, para evitar aglomeração.
“Sempre procuramos fazer em uma propriedade ou sala mais arejada. Temos uma média de 20 a 22 cursos mensais, a adesão tem sido grande. Essa foi uma grata surpresa, porque em um momento de pandemia onde todo mundo ficou muito abalado, começaram a voltar agora para os cursos presenciais. Nossa meta é continuar por um bom tempo”.
Programa da Uva, Morango, Turismo Rural e Feira do Produtor Rural são cursos fixos oferecidos pelo Sindicato. Olericultura, curso de Batata Orgânica e Empresário Rural, também são oportunidades oferecidas. No mês de agosto, haverá curso de tratorista voltado aos produtores rurais.
Jaqueline observa que estas atividades são oferecidas de acordo com a necessidade dos produtores. “Eles nos procuram, montamos uma turma, e inserimos o programa ao curso”.
Para mais informações, os interessados devem entrar em contato pelo perfil do Instagram ou página do Facebook, Sindicato Rural de São José do Rio Pardo. Ambas as redes sociais fornecem um link para contatar o Sindicato via WhatsApp.