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Raiva humana é fatal em 100% dos casos

Infectologista fala sobre medidas profiláticas após mordida ou arranhadura 

Um adolescente que foi diagnosticado com raiva humana, no Distrito Federal, segue internado em estado grave. O jovem, que tem entre 15 e 19 anos, está em uma unidade de terapia intensiva de um hospital particular da capital.

A informação foi confirmada pela Secretaria de Saúde, no dia 7 de julho. De acordo com a pasta, a infecção ocorreu em 21 de maio, após o paciente ser arranhado por um gato. Foi o primeiro caso de raiva no DF em 44 anos. Nos últimos 10 anos, o Brasil registrou 40 casos de raiva humana, uma média de quatro casos por ano. As notificações partiram de diferentes estados, com casos isolados. No estado do Pará, em 2018, o Ministério da Saúde registrou 10 casos da doença na região.

A raiva é uma doença milenar, extremamente grave, com 99.99% de mortalidade. Ela atinge o sistema nervoso central, e se dissemina via nervos periféricos para os rins, músculos esqueléticos, coração, entre outros órgãos. O infectologista Marcelo Galotti explicou sobre a doença e seus riscos, falou sobre a vacinação e formas de prevenção.

“A raiva é uma antropozoonose, ou seja, uma doença de animais e de humanos. É uma doença de sangue quente, progressiva, grave, aguda, causada por um vírus da família rabdovirus. A doença fundamentalmente é de animais de sangue quente, ou seja, mamíferos, e os humanos entram nessa categoria. O vírus tem um tropismo pelo sistema nervoso e pelo tecido glandular. É uma doença que você encontra em 150 países, em quatro continentes diferentes e é uma doença milenar. Na era A.C a raiva era entendida como um castigo, uma doença mística. Foi Aristóteles, em 350 A.C que chamou a atenção para o fato dela ser uma doença de animais. Depois, Celso, em 100 D.C foi quem culpou pela primeira vez o cachorro”, contou.

Segundo Marcelo, existem apenas cinco casos de pessoas que sobreviveram a doença, no entanto, de maneira artificial e com sequelas graves. “Elas foram colocados em respiradores, receberam alimentação parenteral ( via intravenosa), soro antirrábico, imunoglobulina. Fizeram um aparato de procedimentos para mantê-las vivas e superar a fase aguda. Os cinco pacientes sobreviveram sequelados. Um deles, de Manaus, ficou anos dentro de um hospital, usando respirador até morrer. Então esses cinco casos não podem contar como pessoas salvas”, destacou.

Sintomas

A raiva humana tem um período de incubação variável, podendo ser de um mês a um ano, mas a maioria dos casos ocorre de duas semanas a três meses após a agressão.

O infectologista explicou que depois do término da incubação, ocorre o o período prodrômico. “Ele tem uma série de sintomas, como febre, cefaleia, dor de garganta, anorexia, náusea, vômito. O indivíduo tem vários sintomas que acusam que ele está doente, mas não dizem qual a doença. Durante o período prodrômico, o paciente pode aparecer com muita dor no local onde foi mordido/arranhado há cerca de dois meses. Ele aparece com um quadro de parestesia com dor no local onde foi mordido. Depois,  no período de estado, o indivíduo tem um quadro neurológico, ele apresenta uma meningoencefalite com uma neurite periférica”, explicou.

Segundo Marcelo, quando a pessoa sofre uma mordida ou arranhadura, o vírus fica se multiplicando no local, depois atinge o nervo sensitivo, e sobe para o sistema nervoso central, o que causa uma meningoencefalite. “Se o vírus afetar mais o cerebelo, ele traz a raiva furiosa. Ele apresenta hidrofobia ( aversão a água) e neurologicamente ele têm uma paralisia da parte alta, então quando ele vai beber água ele engasga, por isso passa a ter ódio de água, tanto o ser humano como o animal. Isso fica tão grave que quando ele vê água, já desencadeia o reflexo”, afirmou.

A raiva furiosa causa alternância de humor, ou seja, em certo momento a pessoa apresenta tranquilidade, e depois pode agir com agressividade. “Depois disso, entra em um quadro com ataque cardíaco, os rins param de funcionar, perde a consciência, entra em coma e morre. Tudo isso de dois a quatro dias”, relatou.

Também há a raiva paralítica, que ocorre em menos de 20% dos pacientes e geralmente começa com paresia na extremidade mordida, com disseminação para quadriparesia e fraqueza facial bilateral. “A raiva paralítica em geral dura mais um pouco, mas ela é muito ligada a uma coisa: pode ser uma pessoa que tem a raiva, mas que foi parcialmente vacinada, que começou o esquema vacinal, mas parou. Então ele têm um pouco de defesa e não dá a raiva furiosa, dá a paralítica, que é mais calma”, disse.

Transmissão

A raiva pode ser transmitida por morcegos, cães, gatos, e animais de grande porte, como bovinos, equinos e caprinos. “Apenas a classe dos roedores não transmite a doença, mas não consegue-se entender o motivo. Tanto é que se um paciente chegar dizendo que foi mordido por um rato ou hamster, nem fazem as atitudes profiláticas. Mas no passado isso era descrito”, informou.

O infectologista  explicou como o vírus entra no organismo do ser humano. “Se a pessoa estiver com a pele íntegra e colocar o vírus da raiva, não acontece nada. O vírus precisa ser afundado, a menos que a pessoa tenha uma ferida, e essa ferida entre em contato com ele.  A doença é transmitida ou pela lambedura de gatos em uma ferida, arranhadura, ou a mordida do cachorro. Esses exemplos são quando o vírus é contraído pela via parenteral”, disse.

A segunda forma de contrair o vírus, é pela via inalatória. O médico deu um exemplo- “Se você entra em uma caverna onde têm morcego, o vírus fica nas fezes, no sangue, na urina e na saliva dele. Aquilo faz ares de vírus, então se for uma caverna que tem uma intensidade de morcegos, a pessoa aspira o vírus”.

Segundo Marcelo, também há a transmissão inter-humana, documentada na literatura médica. Há casos de pessoas que foram transplantadas, uma delas recebeu a córnea do doador que estava encubando a raiva, e o receptor pegou a doença. “Mas essa transmissão não é feita de humano para a humano pelas vias naturais e clássicas”, completou.

Vacinação e prevenção

“O movimento de indivíduos que procuram a prevenção contra a raiva é muito grande. Além de ser uma doença neurológica, ela é grave porque mata muito, porque geograficamente pega o mundo inteiro, no dia a dia , a profilaxia, ou seja, a prevenção continua aparecendo. E é uma doença cara, você não consegue fazer um procedimento de prevenção em massa”, explicou.

A vacina antirrábica é altamente imunogênica e protetora. Tanto para humanos, quanto para os animais.

O infectologista deu dicas de como a pessoa deve agir quando for mordida ou arranhada. “Quando você leva uma mordida, a primeira coisa que você deve fazer, o mais rápido possível, é lavar com água corrente, e passar sabão, por mais ou menos cinco minutos. Depois disso, a pessoa deve enrolar um pano e ir para o Pronto Socorro.

Três coisas devem ser feitas para a proteção da raiva: o cuidado local, que é a higienização no local da mordida/arranhadura, a vacina, e os anticorpos, que são dados pelo soro ou pela imunoglobulina. Acredita-se que o mais importante de todos, seja a lavagem no local do ferimento. Aconteceu um caso na Índia, em que um lobo com a raiva selvagem invadiu uma cidade, e mordeu 50 pessoas, e lá não tinha disponível nem vacinas, soros, ou imunoglobulina. Eles só lavaram os ferimentos, e não morreu nenhum indiano. Ficou muito claro neste caso, que a higienização é uma grande atitude”, declarou.

“Quando um cão com dono, morde uma pessoa, o que vai guiar as atitudes é a observação do cachorro. O cão deve ser observado por dez dias, sem fazer nada com o paciente. Se ele nesses dez dias não apresentar nada, não ficar doente, não tiver nenhum sintoma de raiva, o caso está encerrado. Mas se ele ficar doente, morrer ou fugir, vem a segunda parte. Dependendo do local onde o cachorro mordeu, é mais grave. Se ele morder na mão, planta do pé, pescoço e face, ou tiver múltiplas mordidas dilacerantes, a chance do vírus cair direto no nervo sensitivo, é muito grande. Neste caso chamamos de mordedura grave, e deve ser dado o soro e a vacina. Se a mordedura for braço, tórax e abdômen ou perna, é somente a vacina. Por este motivo a observação do cachorro que mordeu é importante”, explicou.

 Cães e gatos devem receber uma dose anual da vacina antirrábica. Já humanos que foram expostos a mordidas ou arranhaduras, o esquema de doses da vacina para profilaxia pode ser de até 5 doses, dependendo de cada caso.

A vacinação antirrábica gratuita de animais em São José do Rio Pardo só é feita com agendamento prévio pela Zoonoses. O telefone para contato é (19) 3682-9330 ou 3682-9922. 

Vacina antirrábica e doação de sangue

Se você recebeu vacina antirrábica há menos de um ano, não deve doar sangue. Marcelo explicou o motivo. “Uma série de fatores fazem com que o período de incubação seja em média de 30 a 90 dias. Isso pode se estender em até um ano, apenas 1% do casos, mas pode. Quando a pessoa passa no Pronto Socorro, faz todo o procedimento e o médico decide que vai vacinar, tem a possibilidade dela ter raiva. O vírus também fica no sangue, como o paciente está suspeito de raiva, e esse período de incubação pode durar um pouco mais de um ano raramente, então evita-se que a pessoa doe sangue durante um ano para não transmitir o vírus, caso esteja infectado”, informou.

*Com informações do G1 e Medicina Net

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