“A meningococo tem uma forma fulminante, ela pode levar a óbito em questão de seis horas”, afirma o infectologista
Quarta-feira, dia 24 de abril, foi o Dia Mundial de Combate à Meningite. Segundo dados do Ministério da Saúde, foram registradas 1.072 ocorrências da doença meningocócica no Brasil e 218 mortes no ano de 2018. Se não for tratada, é fatal em 50% dos casos. A Gazeta do Rio Pardo entrevistou o infectologista Marcelo Galotti, para explicar sobre a doença, seus sintomas, prevenção e tratamento.
O que é meningite?
Meningite, como o próprio nome indica, é uma inflamação e infecção das meninges, que são o sistema das membranas que revestem e protegem o sistema nervoso central, medula espinhal, tronco encefálico e o encéfalo. O seu sistema nervoso precisa ter um amortecedor. Se você leva uma pancada, o cérebro pode bater no osso e se ferir, por isso ele tem essa proteção, que é feita por um líquido que circula entre membranas protetoras, as mantas, que encobrem o sistema nervoso, e entre elas temos um líquido cefalorraquidiano. A função desse líquido, além de levar alimento e anticorpos, tem a finalidade de proteger contra traumas. O líquido da meninge é asséptico, puríssimo, sem nenhum problema. Por razões infecciosas ou não, pode inflamar e ter uma infecção.
Quais os tipos de meningite?
Química- Ao receber uma anestesia raquidiana, por exemplo, você pode obter uma meningite química, pelo anestésico. Existem alguns exames radiológicos, que tem a necessidade de ser injetado um contraste, isso pode inflamar a meninge e fazer com que a pessoa adquira uma meningite química.
Bacteriana ou meningocócica– É a inflamação das meninges causada por bactérias. O nome é dado por causa da bactéria, que é a meningococo, uma das mais graves. Além dela temos haemophilus e a pneumococo. A meningococo tem uma forma fulminante, ela pode levar a óbito em questão de seis horas.
Viral- Infecções por vírus são a causa mais frequente de meningite e, na maioria das vezes, é uma doença autolimitada, o quadro é mais leve que a bacteriana.
Fúngica- Causada por alguns tipos de fungos. A transmissão ocorre por meio da inalação dos esporos (pequenos pedaços de fungos), que entram nos pulmões e chegam até as meninges.
Quais os sintomas da doença?
Normalmente, o paciente vem com vômito, dor de cabeça, febre e endurecimento do pescoço, que é a famosa rigidez de nuca. Mas existem alguns sintomas pontuais de alguns tipos de meningite. Por exemplo, o meningococo pode evoluir com sufusões hemorrágicas, que são manchas de sangue na pele.
Qual a prevenção?
Nós fazemos uma prevenção para os tipos mais perigosos e mais frequentes com importância em saúde pública. No SUS, temos vacina contra o haemophilus influenza, que é um agente etiológico, e ele não causa só meningite, mas também pneumonia e outras doenças. Vacina contra o pneumococo e o meningococo C, que é o mais frequente e endêmico, ou seja, ele tem na população um número constante de casos. Mas existem outros tipos de meningococos que são mais raros e as vacinas não são fornecidas pela rede pública. Algumas clínicas particulares fazem essa imunização.
Outra prevenção, é a pontual. Se você vive em uma casa com alguém que já teve meningite, fazemos o bloqueio, que é um tratamento com antibióticos com pessoas que tem um contato íntimo, prolongado e próximo com o habitante que já teve a doença.
Qual o tratamento?
No tratamento utilizamos antibióticos, mas varia muito dependendo do fator causador da doença. É importante passar para a população que a maioria delas são tratáveis, e curáveis, apesar de algumas causarem sequelas como surdez, ou algum problema neurológico. Mas tem uma porcentagem que pode evoluir mal e isso causa alarme na sociedade.
Depoimento
Donizeti Assunção, aposentado, foi infectado pela bactéria meningococo em 2013 e contou um pouco sobre como foi o processo de descoberta da doença.
“Os primeiros sintomas que eu tive foram mal estar generalizado pelo corpo, dor de cabeça, e no princípio parecia uma faringite. Fui até o médico duas vezes e fui diagnosticado com faringite. Mas eu vi que com o remédio que ele me receitou, não estava melhorando. O quadro foi evoluindo, até se transformar em queda de pressão e vômito. Teve um dia que cheguei em casa e me deitei, porque me sentia muito fraco, até que eu tive uma piora sem perceber. Minha esposa notou que eu estava sem raciocínio. Fiquei sem coordenação, já não conhecia mais a família. Me levaram para o hospital, mas de imediato o médico que estava lá não suspeitou de meningite. Pelo estado que eu estava, fora de mim, ele achou que eu tivesse usado droga. Fiquei agressivo sem saber, foi tudo involuntariamente. Chamaram o neurologista, e só dele conversar comigo, percebeu que eu estava com meningite. Coletaram o líquido da espinha, e veio o diagnóstico de que eu tinha meningite meningocócica. Fiquei internado durante sete dias, em uma sala isolada. As pessoas que tinham contato comigo tiveram que usar máscara e tomar vacina. Perdi um pouco da audição como sequela, e durante uns quatro meses após eu me recuperar ainda tinha dores de cabeça. Eu fiquei bem mal, quase morri, é uma doença “brava”. O médico disse que eu não estava imune de contrair a meningite novamente, por isso, a melhor prevenção é a vacina”, relata Donizeti.