Linfócito de memória de imunidade cruzada é um dos fatores que promove a defesa do organismo
No início de abril, foi descoberto o primeiro caso da variante XE no Brasil. O Instituto Butantan informou que encontrou uma pessoa infectada com a subvariante, que mistura duas modalidades da Ômicron. O caso foi confirmado pelo Ministério da Saúde, que divulgou nota anunciando que recebeu a notificação do Instituto Butantan. Apesar da nova descoberta, são poucos os casos registrados da nova subvariante no Brasil.
O cenário epidemiológico no país continua brando, o que não significa o fim da pandemia causada pelo coronavírus. O Brasil registrou nesta quinta-feira (21), 86 mortes pela Covid-19, totalizando 662.556 desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de mortes nos últimos 7 dias é de 100. Em comparação à média de 14 dias atrás, a variação foi de -37%, tendência de queda nos óbitos decorrentes da doença. O país também registrou 17.103 novos diagnósticos de Covid-19 em 24 horas, completando 30.325.399 casos conhecidos desde o início da pandemia. Com isso, a média móvel de casos nos últimos 7 dias foi de 13.708, variação de -36% em relação a duas semanas atrás.
O infectologista Marcelo Galotti, falou sobre o cenário atual da pandemia na última quarta-feira, 20, durante o Jornal Meio Dia da Rádio Difusora. Ele enfatizou sobre a nova variante da doença e explicou sobre a imunidade natural contra a Covid-19.
Mutação e seus fatores
“A mutação é o resultado da replicação viral, quanto mais replica, mais o vírus muda. Dezenas de variantes foram informadas no decorrer da doença. Algumas não sobreviveram, outras chegaram a despertar interesse mas não mudaram o rumo da pandemia, e no fim ficaram cinco variantes- Alfa, Beta, Gama, Delta e a Ômicron.
Todas elas são avaliadas por três parâmetros, transmissibilidade (todas são mais transmissíveis que o SARS- CoV-2), patogenicidade (apenas a Ômicron tem variação nesse quesito, para melhor) e escape vacinal ( Delta faz cair 7% da eficácia da Pfizer e 15% da AstraZeneca. Já a Ômicron responde mal a apenas duas doses de vacina, necessitando de uma terceira dose)”, explicou.
Segundo o infectologista, todas as variantes têm uma característica em comum: são frutos de mutações ou alterações genéticas pontuais. “Ocorre mudança em um pedacinho do ácido nucleico. Quando o vírus infecta um imunodeprimido, ele fica semanas no organismo. Com esse tempo todo replicando, há chances dele apresentar mais mutações”, afirmou.
Segundo estudos comprovados, duas variantes penetraram simultaneamente um mesmo indivíduo. Com isso, o ácido nucleico incorporou e produziu uma variante que não é fruto de uma mutação pontual, mas sim uma associação de partes grandes de variantes. “Duas delas se originaram assim: a deltacron, que tem causando a doença no Rio Grande do Sul e a XE”, pontuou.
De acordo com Marcelo, a XE é uma mistura de duas subvariantes, a BA.1 e a BA.2. “Atualmente a XE é a subvariante mais transmissível. Mas nesse momento, como o número de casos dela ainda é pequeno, a única coisa que sabemos, é que ela é fruto de associações de duas ou mais variantes. Aparentemente sobre o escape vacinal e a patogenicidade ainda não há nada conclusivo, e é possível que não ocorra uma piora”.
Fim da terceira onda
A Fiocruz decretou oficialmente o fim da terceira onda, com base nos dados da mortalidade. Em relação ao pico da Ômicron no começo do ano, a queda da mortalidade foi de 85%- em cada estado, são três mortes a cada dez mil.
“A taxa de letalidade, que é a mortalidade de diagnósticos concretos, está em 0.8%. Em 2021, sempre ficava entre 2% e 3%. Com essas informações, chegamos à conclusão que a onda foi encerrada. Entretanto, a própria Fiocruz fez avisos- o primeiro deles, é que a pandemia não acabou, se surgir uma nova variante, podemos ter um estrago. Outro problema é a população de crianças e adolescentes não vacinados, e as pessoas que ainda não completaram o esquema vacinal. Continuamos em uma situação internacional de pandemia”, comentou Marcelo.
Imunidade Natural
O infectologista respondeu um questionamento sobre imunidade natural ao vírus, ou seja, casos de pessoas que se expõem, mas não contraem a doença.
“Cerca de 80% dos casos de Covid são assintomáticos ou oligossintomáticos. Nesses casos muitas pessoas não sabem se tiveram a doença e não perceberam, ou se não tiveram. Sabemos que têm indivíduos que pegam mais Covid que outros, e que morrem- como o idoso, obeso, o imunodeprimido e o comorbido. Talvez o maior desafio dos cientistas sobre a Covid, é a imunidade natural. Têm dados bastante sugestivos que essa imunidade exista”, revelou.
A primeira teoria, segundo Marcelo, é em relação ao aparecimento de um linfócito de memória de imunidade cruzada. “Cerca de 30% das pessoas tem resfriado por coronavírus. De cada 100 resfriados, 30 é coronavírus, não o Sars Cov- 2, mas o outro coronavírus não pandêmico. No entanto, tudo indica que as pessoas que tiveram resfriado por esse coronavírus, acabam adquirindo uma imunidade contra o Sars Cov-2. Isso em função do aparecimento desse linfócito”.
No Reino Unido, no auge da pandemia, vários profissionais da saúde passaram por dosagem de anticorpos neutralizantes. “Segundo os resultados, menos da metade deles possuía, o que representava 47%, enquanto os outros 53%, não tinham. As pessoas que não tinham, não pegavam a doença”.
“Um segundo dado interessante, é que 36 pessoas se inocularam com o coronavírus, e se disponibilizaram a cientistas para serem estudados. Dessas pessoas, 18 ficaram doentes, e 18 não. O que mostra que existem pessoas que se defendem do vírus. Outro fato, é que idosos e imunodeprimidos pegam a doença de forma grave. Já crianças, quando pegam, na maioria das vezes não é grave. Acontece que as crianças tem o dobro desse linfócito importante. Tanto o caso dos profissionais da saúde, como das pessoas que se inocularam, tinham uma quantidade bem maior dessa célula, sugerindo que ela seja responsável por essa possível imunidade”, relatou.
De acordo com o infectologista, há também uma segunda teoria, que é de uma “substância natural, sigla RPR, responsável por eliminar o vírus e destruir a célula que vai ser parasitada, o que gera uma imunidade considerada natural. “As crianças também possuem esse mecanismo de defesa contra a Covid”, disse.
Os cientistas acreditam que geneticamente essas características fortaleçam o sistema imune.