terça-feira , 26 novembro 2024
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Kátia Alencar, pedagoga e psicopedagoga

Crianças estão com dificuldade na alfabetização, diz psicopedagoga

No dia do pedagogo, Kátia Alencar falou sobre as atribuições, satisfações e desafio da pedagogia

A importante função de ensinar foi lembrada nesta quinta-feira, 20 de maio, data em que comemora-se o Dia Nacional do Pedagogo, profissional que tem como objetivo transformar a vida de muitas pessoas através da educação. A data foi definida após o Decreto de Lei nº13.083/2015, e tem a meta de promover uma discussão sobre o papel da família e da escola no desenvolvimento das crianças, delimitando suas responsabilidades, e ao mesmo tempo, criando alternativas que ofereçam um ensino de qualidade e acima de tudo, humanizado.

De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica 2019, realizado pelo Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o país tem cerca de 1,4 milhão de professores graduados com licenciatura, e atuando como docentes em atividade nas salas de aula do ensino fundamental. Para falar sobre a profissão, seus desafios e gratificações, Kátia Alencar, pedagoga, psicopedagoga, e ex-secretária municipal da educação, concedeu uma entrevista à Rádio Difusora e Gazeta do Rio Pardo, nesta quinta-feira (20).

Ligação com a pedagogia

Kátia contou ao jornal que sempre teve muitos docentes na família, inclusive sua mãe. “Ela sempre me carregava com ela para a escola, mesmo quando eu não tinha aula. Com isso fui pegando gosto. Aos 18 anos eu já estava dando aula, porque na época eu fiz o magistério, que era como um ensino médio para nós hoje. Com 18 anos terminei o curso e comecei a fazer estágio pelo governo do estado, fiquei durante quatro anos em dois projetos dentro da escola, vivenciando a rotina. Depois fiz educação física, que também é uma graduação voltada para docência, fiz pedagogia e depois psicopedagogia”, relatou.

Atualmente Kátia atua como pedagoga no ensino municipal infantil “Já dei aula em escolas privadas, em faculdade no curso de Pedagogia, trabalho como professora na rede municipal de ensino e sou psicopedagoga, atendo em consultório particular. Tive uma ramificação muito boa, já trabalhei com alunos de todas as idades”, comentou.

A profissional falou um pouco sobre o curso de Pedagogia e a função do pedagogo perante a sociedade. “O pedagogo nada mais é do que um professor. Hoje em dia, a faculdade de Pedagogia é cursada em um período de três a quatro anos. O curso conduz o profissional a aprender métodos para ensinar crianças e adolescentes.  Além de gostar de crianças, a pessoa interessada em fazer esse curso, deve gostar de ensinar, de transmitir e conduzir o aprendizado. O pedagogo é um mediador para o aluno”.

“Hoje em dia os cursos de pedagogia costumam ser noturnos, então geralmente os estudantes trabalham durante o dia e não tem a disponibilidade de fazer a prática, com isso, o estágio que é obrigatório fica comprometido. Isso muitas vezes reflete quando o pedagogo se forma e vai para a sala de aula. Ele tem uma teoria muito boa, mas não tem uma vivência da rotina escolar. Isso faz muita falta para os professores iniciantes”, completou.

Psicopedagogia

Além de professora, Kátia se formou em psicopedagogia, e como comentou anteriormente, presta atendimentos em seu consultório particular. “A psicopedagogia é uma especialização, para cursá-la é preciso ter primeiro a graduação de pedagogia. Já existe faculdade que tem diretamente a graduação em psicopedagogia, mas é raro. Na psicopedagogia estudamos as dificuldades que a criança apresenta no aprendizado. O psicopedagogo faz uma investigação com essa criança para saber qual caminho deve ser percorrido para que ela aprenda. Investiga possíveis transtornos, como dislexia, discalculia, TDAH ( Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), autismo, e após descobrir, traça um plano de intervenção para que essa criança aprenda. Elas aprendem no tempo delas, da forma como conseguem enxergar esse desenvolvimento”.

Kátia explicou que na rede estadual e municipal de ensino, existem professores qualificados para um atendimento especializado “geralmente é um profissional que fez educação especial ou psicopedagogia. Esse atendimento deve ser feito no contra turno, nunca no período escolar”, informou.

“Geralmente a dificuldade no aprendizado é detectada nos anos iniciais, a escola entra em contato com os pais e relata o problema. Quando a escola possui um profissional para prestar esse tipo de atendimento, isso é feito. Quando não, eles pedem para que procure um neurologista ou psiquiatra, nesse caso, os médicos encaminham para um psicopedagogo, porque o problema será trabalhado de forma pedagógica, para que a criança aprenda”, pontuou.

Problemas causados pela pandemia

A entrevistada contou que durante os atendimentos em sua clínica, notou um aumento de crianças com dificuldade na fase inicial de alfabetização. “Por conta da pandemia, muitas crianças chegam com dificuldade de se alfabetizar. A maioria têm entre sete e oito anos, já deveriam estar alfabetizadas, mas não estão, e são crianças que não tem transtorno nenhum. O fator influenciador nesses casos, foi sim a pandemia”, afirmou.

“Em 2020 esperávamos que as aulas fossem retornar normalmente em 2021. Nós, como professores, tínhamos a expectativa de fazer o máximo possível na sala de aula para recuperar um ano de atraso. Não foi o que aconteceu, estávamos no remoto, depois no ensino híbrido, agora estamos com 35% em sala de aula. Por mais que os pais tenham nos ajudado durante o ano passado, que os professores se esforçaram, estamos percebendo uma dificuldade muito grande, principalmente nos anos iniciais de alfabetização, onde o 1º e 2º ano são primordiais para a criança. Esse ano estou achando pior, porque os pais estão cansados, assim como as crianças, eles estão querendo ir para a sala de aula”, contou.

Kátia falou sobre a importância das crianças terem um contato direto com os professores, que possuem técnicas e didática para fazer com que o aluno pense sobre determinada situação ou tema. “Os professores atuais fazem um questionamento junto com os alunos, queremos pessoas pensantes, críticas, não um aluno passivo que só recebe. Queremos que eles pensem, essa mediação na sala de aula, o olhar, a maneira de conversar com o aluno, está fazendo uma falta enorme. Infelizmente acredito que os alunos carregarão as consequências por um bom tempo. Mas muitos professores estão conseguindo acelerar um pouco, recebi relatos de duas mães, que já perceberam uma melhora no aprendizado dos filhos com duas semanas de aula presencial, eles já estão apresentando um resultado”, constatou.

Secretaria da Educação

Kátia foi secretária municipal de educação durante a gestão do ex-prefeito Ernani Vasconcellos, e comentou sobre a responsabilidade e atribuições do cargo. “Ser secretária municipal da educação te dá uma visão geral da educação. Quando você é professor, sua preocupação na sala de aula é com o aluno, em desenvolver uma didática melhor, um método melhor, para que a criança que está sob sua responsabilidade, atinja os objetivos determinados. No cargo de secretária, você tem que ter uma visão do município todo. Na época, eu tinha 4 mil alunos, tinha que pensar tanto na área pedagógica, quanto na parte do educando em si, alimentação, transporte. Engloba o aluno em geral, não é apenas o pedagógico. Foi um desafio, uma experiência única, e tentei fazer meu melhor. Infelizmente é um cargo que não depende só de você, também depende de terceiros para que os planos e ideias se realizem, mas às vezes não é tão concretizado como imaginávamos”.

BNCC

A profissional falou sobre a melhoria na educação após a implantação da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). “Desde 2019 temos esse documento. “O governo federal lançou a BNCC, que nacionalmente os professores precisam seguir. Tinha um desnível muito grande no ensino. Por exemplo, no Amazonas ensinavam uma coisa, e aqui outra. Tínhamos diretrizes e parâmetros curriculares, mas não era nacional, com isso, uns seguiam, outros não. Nesse documento temos os campos de experiência, os direitos de aprendizagem, as habilidades, todos os professores precisam seguir essa base. Isso ajudou a acabar com essa divergência de trabalho”.

Valorização do profissional

Para Kátia, no quesito financeiro, os professores não são bem valorizados atualmente no Brasil. No entanto, ela citou uma valorização no campo profissional, aos olhos de pais e familiares de alunos, após o início da pandemia.  “Eu consigo tirar algo bom da pandemia. Hoje em dia, as famílias conseguiram perceber que o professor é essencial, elas nos enxergam de outra forma. Conseguimos a valorização profissional do pedagogo”.

Satisfação com pequenas coisas

“Quando estamos ensinando a criança, alfabetizando, e ela consegue ler uma palavra e assusta, isso é muito gratificante para os professores, é algo que não tem preço. O professor é um profissional que se satisfaz com pouco, só de ver o aluno conseguindo se desenvolver, é o mais significativo em nosso trabalho”, encerrou.

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