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Dirceu Chiconello faleceu aos 86 anos

Um adeus a Dirceu Chiconello, o mestre do rádio

O ex-vendedor de tecidos que abraçou o sonho de ser radialista e se tornou referência na área

Pelo movimento natural da vida, pelo destino a que todos chegaremos, a voz padrão da Rádio Difusora se calou.  Profissional do rádio, 64 anos em atividade, faleceu na segunda-feira, 3 de julho, aos 86 anos de idade, Dirceu Chiconello, entristecendo uma legião de colegas da comunicação, os quais com ele aprenderam muito. Era um mestre. Homem de muitas histórias e de humor refinado, foi locutor da Rádio Difusora e da Cidade Livre FM, tendo começado quando a Difusora era ainda a ZYD-6, no prédio atual do Centro Cultural Ítalo-Brasileiro (CCIB). A partir dali, construiu uma sua vasta trajetória, fincando raízes na comunicação da cidade e da região, tornando-se referência para muitas gerações de profissionais da área.

Nascido em 20 de janeiro de 1937, em São Sebastião da Grama, filho de Vitório Chiconello e Albina Brunetta, compunha uma família que tinha 7 irmãos. Comum para a sociedade da época, começou a trabalhar aos 8 anos de idade, na barbearia de Valentin Stracieri. Dali passou a aprendiz de alfaiate, com Leonardo Trovatto; depois, ingressou no escritório da Usina Hidrelétrica Euclides da Cunha. Foi vendedor das Casas Pernambucanas e então abraçou seu verdadeiro talento: o rádio.

A loja, onde ele trabalhava durante o dia, funcionava na parte inferior do prédio onde hoje está o CCIB. Na parte superior, o grande salão, cheio de cadeiras, dava lugar aos programas de auditório da então ZYD-6. Era um sucesso. Era o entretenimento da época e sempre que podia, Dirceu estava por lá. O ano era 1959.

Conforme contou em uma entrevista, certo dia faltou o locutor dos “reclames”, os comerciais. A propaganda era feita ao vivo. Ele então se ofereceu para ler os textos em meio à desconfiança da equipe.

“No final, depois que todos estavam saindo, os donos da rádio me chamaram no pé da escada e disseram: gostamos da sua voz, queremos que você venha trabalhar na rádio”, relembrou Dirceu. Os proprietários da emissora eram Dionysio Guedes Barretto e Carmen Sylvia Barretto Ferreira da Silva.

Começava ali a sua trajetória de décadas a serviço da comunicação. Manteve os dois empregos – vendedor durante o dia, locutor à noite. Até optar pelo rádio em definitivo, onde passou por todas as etapas da emissora, que se tornou Rádio Difusora.

Foi apresentador de vários programas. Atuou com grande destaque no jornalismo, cobrindo eventos políticos, esportivos, culturais, religiosos. Pelos microfones da Difusora e Cidade Livre, entrevistou personalidades importantes dos mais diversos setores da sociedade. Esse engajamento e constante presença, o tornaram repórter correspondente da Folha de São Paulo, Estadão e de outras rádios paulistanas que o procuravam.

Graduado em História, Dirceu aprendeu e ensinou tudo. Mas não em sala de aula. Sua paixão pelos microfones o fez permanecer no rádio.

Na Difusora, tornou-se o principal conhecedor da área técnica. Ele sabia das válvulas aos transistores, das micro-ondas ao digital. Com esse conhecimento, ajudou muito e constantemente na melhoria e manutenção dos sistemas de transmissão.

Casado em 1963, com Maria do Socorro Souza, falecida em 2018, era pai de Luís Alexandre, Maria Lídia, Luís Ricardo e Luís Augusto.

Dirceu foi internado no sábado (1), com quadro de pneumonia e desidratação. O quadro evoluiu de modo a ser transferido para UTI, onde faleceu na madrugada de 3 de julho.

O Pio

Era sempre uma alegria os encontros com o Dirceu Chiconello. Todo mundo parava para ouvir as histórias.

O Pio era um sujeito sustentável – um MacGyver. Sempre dava um jeito para reciclar um pedaço de fio, uma válvula, um transistor. Fazer uma “gambiarrinha” temporária e muitas vezes o serviço era tão bom que se tornava definitivo.

Parceiro do Pio, para muitos planejamentos, horas e horas de discussão acerca dos cabos, sistemas, transmissores, antenas e assuntos do rádio, era o técnico Antônio Donizeti Bilon. Foram muitas as idas às torres para ajustes, troca de equipamentos, restabelecimento de sinal ou conversas aleatórias sobre os mais variados assuntos, inclusive música, programação de rádio, locuções.

O Dirceu Gostava de ouvir e tocar música clássica e sucessos da música italiana. Era um crítico do mau uso da Língua Portuguesa. Detestava quando, na referência à cidade, o locutor usava “Rio Pardo” apenas, ao invés de São José do Rio Pardo. “Rio Pardo é no Rio Grande do Sul”, reclamava.

A serenidade do Pio deixava a gente igualmente sereno. Poucos o viram esbravejar, xingar, usar palavrões. Fosse no trânsito, fosse nos perrengues da manutenção dos transmissores, ele estava sempre tranquilo.

Nunca se soube que o Dirceu fora descortês com um ouvinte, entrevistado ou companheiro de trabalho – ainda que aprendiz. Ele era um parceiro.

Por tudo isso e por mais que ele viesse a ensinar, o Dirceu Chiconello torna-se uma ausência muito sentida.

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