O médico infectologista Marcelo Galotti e a enfermeira responsável pela Vigilância Epidemiológica, Gisele Flausino, disseram que o óbito suspeito de coronavírus em São José do Rio Pardo, divulgado esta semana, ainda aguarda a confirmação de exame porque a vítima era portadora de comorbidades (outras doenças). Eles deram entrevista à rádio Difusora no dia 22 para atualizar as informações sobre a pandemia em São José.
Barreiras
A entrevista começou com um balanço sobre as barreiras sanitárias colocadas na entrada principal da cidade por conta do feriado prolongado na capital paulista.
“O principal objetivo desta barreira sanitária, foi uma ação de prevenção, visto que São Paulo decretou um feriado muito prolongado. Nosso objetivo foi orientar as pessoas que estavam vindo para São José, fazer um alerta sobre prevenção, permanecer em isolamento social e estar à disposição para verificar temperatura corporal, além de verificar se a pessoa está a passeio ou se iria ficar mesmo. Neste momento, essa primeira barreira não teve o intuito de bloqueio”, contou Gisele.
A barreira e o monitoramento começaram na quarta-feira, das 13h00 às 18h00, funcionou quinta-feira durante o dia todo, e foi encerrada na sexta-feira, às 18h00.
“Essas ações são fundamentais. Não temos nada de vacina contra o coronavírus, e pouco tratamento. O que temos são medidas preventivas que hoje conhecemos. Entre elas, além do isolamento social, do uso de máscaras, essas coisas que todos já conhecem. É importante fazer um bloqueio. Fazendo ele com uma equipe multiprofissional, você ganha muito em orientação. Só para termos uma noção, quinta-feira, foram mais de 750 pessoas que passaram pela barreira”, informou Marcelo.
“Entre quarta e quinta-feira, tivemos uma média de 1.200 pessoas que passaram pela barreira. Fizemos na entrada principal, pensando no fluxo de pessoas que viriam de São Paulo, Campinas, Piracicaba, cidades maiores. Foi um trabalho em equipe muito bem elaborado e apoiado por todos. Até o momento não contatamos ninguém que estivesse com alteração de temperatura ou sintomas”, contou Gisele.
Monitoramento
“Essas pessoas em monitoramento, que são os casos leves que não foi preciso a coleta de exames, tem um período de cumprimento da quarentena que é de 14 dias. A alteração desse número será sempre volante para mais ou para menos. São as pessoas que já passaram do período, incluindo as crianças que passaram pela pediatria, todos os monitorados, não no sentido de coleta de exame, mas de permanecer em casa, todos os que foram retirados é porque já cumpriram o prazo”, informou Gisele.
Profissionais da saúde
“Em torno de 20% dos acometidos, são da área da saúde. Temos um funcionário da Santa Casa que está em isolamento domiciliar, e um colega médico que também fez o tratamento domiciliar e teve uma evolução muito boa. Mas é de se esperar que o pessoal da saúde faça uma presença importante nas estatísticas”, contou Marcelo.
Outras cidades
“Temos uma questão médica aqui na nossa cidade muito importante. As pessoas da região acessam muito o serviço de saúde de Rio Pardo. Esses de outros municípios são pessoas que têm convênio, ou que tem um vínculo com os médicos daqui, que passaram por atendimento na nossa cidade, foi feita coleta de exame pela condição clínica dessas pessoas, foram notificados no nosso sistema e três estão aguardando resultado. Desses notificados de outros municípios, 5 já são positivos”, afirma Gisele.
Comércio
“O nosso grande sonho na saúde é conciliar um bom atendimento, preservar vidas, com uma regularidade na vida da cidade. Claro que estamos sensíveis, inclusive aos ambulantes. Tem um paciente que trata comigo, por exemplo, que vende algodão na rua e está passando necessidades. Nós, como médicos, somos sensíveis e vamos brigar pela vida, mas de jeito nenhum somos indiferentes. Quando você vê o governador Dória dar um monte de feriados prolongados, é muita clara a intenção dele de segurar a progressão da curva. São Paulo está com 93% dos leitos ocupados. Acho que se ele deu feriado prolongado sete dias antes de reabrir o comércio, é porque não estão preparados para essa flexibilização. A velocidade de contaminação do Brasil, vai ser provavelmente uma das maiores do mundo onde a estatística acontece. Se analisarmos as comunidades como Rocinha, Paraisópolis e outras, em que vemos más condições sanitárias, acúmulo de pessoas na mesma residência, a tendência da epidemia aqui é grande”, encerra Marcelo.