Com cerca de 12 anos de idade, ele foi diagnosticado com câncer no intestino, operou e faz quimioterapia
Gilmar Ishikawa
Toda cidade tem um “cão caramelo”, pop star, mas por aqui ele não é caramelo, tem nome de celebridade, astro de futebol e tem perfil no Instagram: @neymarsanze. É um mestiço que até poucos dias tinha vida vadia. Conhecido por toda a cidade, frequentador assíduo de estabelecimentos comerciais da região central. Boêmio, adora ambientes climatizados. De jeitão despojado, mantém um penteado estiloso – que por certo tempo foi copiado até por um jogador do Paris Saint-Germain – e nem diga que foi o contrário: “Neymar Henrique é o nome dele, amigo!” – diria aquele narrador de futebol.
Se engana quem pensa que é um cão de rua. Apesar de dar uns passeios, ver o movimento do comércio, tem onde dormir e morar. Neymar é um ilustre frequentador da casa da empresária, Andreza Silva – da loja Profitness. E não apenas. Também frequenta muito a casa de Mariana Dias e Miguel Gomes.
Até pouco tempo, ele era facilmente encontrado dormindo pelos estabelecimentos comerciais da região central: farmácias, lotéricas, agências bancárias, padarias, lojas. Mas as circunstâncias o retiraram desse mundo cão.
Era chamado de Chuchu
Andreza conta que o animal tem de 11 a 12 anos de idade – conforme estimativa de médicos veterinários. Ela o conheceu há uns três anos. Neymar pertencia a um morador de rua. O homem sumiu e o cão ficou perambulando pela cidade. Naquele tempo, o nome dele era Chuchu.
Chegou a ser adotado, mas reza a lenda que pulou o muro da casa dos tutores, fugiu e não voltou mais. Continuou pelas ruas da cidade.
“Ele me detestava. Quando me via saia correndo porque sabia que eu daria ração, remédio, banho. Então fugia sempre”, relata Andreza, que pagou pela castração do pet.
O casal Mariana e Miguel também cuidava do Neymar, naquela fase em que ele perambulava pelas ruas. “Às vezes chegava em casa tarde da noite, mas saia procurando ele pela cidade para dar comida, ver como estava. Não conseguia dormir sem cuidar dele”, relata Miguel. O casal observa que o animal tem medo de temporais e fogos de artifícios, o que o fazia procurar abrigo.
Mariana o levava para casa. Disse que deu colchão para dormir, mas Neymar, com sua vida cigana, detestava sentir-se preso. “Chorava, latia, gritava. Queria a rua. A única pessoa que ele respeitava era o Miguel. Onde estivesse. Se o Miguel chamasse ele atendia”, conta Mariana.
Nessa convivência com os dois lares, aos poucos, ele mesmo foi revezando os locais de abrigo. Um pouco na casa de Mariana e Miguel, um pouco na casa de Andreza.
Tumor avançado
Dona de cinco cães e de um gato (que tem 16 anos de idade e ela diz que é o pitbull da casa) – todos adotados ou resgatados, Andreza reservou para Neymar um quarto. Recentemente, entre banhos e cuidados, percebeu que o animal não estava bem de saúde. Encaminhou para fazer exames. Diagnóstico: doença do carrapato. Foi medicado, precisou ficar isolado, em recuperação.
“Por ser um cão já idoso, sempre passou por exames de rotina”, explica Andreza. Em um deles houve apontamento de problemas renais. Após ser submetido a tratamento, passou por outro exame de ultrassom e neste check-up veio a notícia mais preocupante: “a veterinária constatou que o Neymar tinha um nódulo no intestino. Já em estado bastante avançado, o tumor poderia obstruir o intestino e provocar a morte. Era caso de cirurgia, urgente”.
A doença do amigo pegou a tutora de surpresa. Pediu para que o caso fosse acompanhado por veterinários de confiança. Reuniu uma verdadeira junta médica: oncologista, anestesista, veterinário. Equipe escolhida a dedo.
Ela providenciou todos os exames pré-operatórios. Enquanto isso, promoveu uma rifa, com o objetivo de levantar recursos para o tratamento.
A cirurgia aconteceu há cerca de 3 semanas. Durante o processo, foram extraídos outros pequenos nódulos então existentes em outras partes do corpo. Todo o material foi para a biópsia.
Quimioterapia
Segundo Andreza, foi um período crítico, já que os cuidados do pós-operatório precisaram ser mais intensos, com alimentação especial, medicação, além de repouso – o que não é fácil para um cão bastante ativo.
O resultado da biópsia apontou que os outros nódulos eram benignos, mas o tumor do intestino era maligno, por essa razão, o Neymar foi submetido a sessões de quimioterapia. Já está no segundo ciclo, sem ter apresentado reações adversas, a não ser uma queda de pelos.
A cada ciclo de quimioterapia, novos exames precisam ser realizados para acompanhamento. Pelo cronograma médico, o tratamento, com toda a medicação e exames, deve se prolongar até março do ano que vem.
“Quando conheci o Neymar, prometi que cuidaria dele. Foi uma promessa que fiz a ele e estou cumprindo”, conta Andreza, revelando que até a realização dessa reportagem, o caso de câncer do cãozinho não havia sido comunicado a ninguém.
“Quando fiz a rifa e falei que era para uma cirurgia do Neymar, muitas pessoas vieram falar comigo, mas apenas disse que era para uma cirurgia”, comenta.
A rifa teve como oferta produtos da própria loja da empresária. “Eu sempre cuidei de animais. Nunca pedi dinheiro, mas foi necessário fazer a rifa. Não pedi doações. Vendi uma rifa com produtos da loja”, reforça.
Ela diz não ter noção dos valores investidos até aqui no tratamento do amigo pet. Mas destaca que não foi pouco, estimando que possa passar dos R$ 10 mil.
“Vou continuar. Um dia eu prometi para ele, que cuidaria dele”, completa.
Andreza alerta sobre a necessidade de que os animais, assim como os humanos, também precisam passar por exames de rotina, para a detecção precoce de eventuais doenças.
Segundo a tutora, por enquanto, o tratamento evoluiu bem e o estado de saúde do paciente é muito bom.