Ela admite que descarte vinha desde 2019 e culminou com a questão do laboratório de análises
A ex-secretária municipal de saúde, Márcia Biegas, concedeu entrevista à Gazeta do Rio Pardo quinta-feira, 30 de abril, para falar de sua exoneração do cargo, ocorrida alguns dias antes. Ela deu sua versão dos fatos que levaram o prefeito a demiti-la do cargo, até porque Ernani só havia mencionado que ocorrera “quebra de confiança”, sem entrar em detalhes.
Segundo Márcia, já havia um desgaste no relacionamento desde 2019, quando ela pediu para ser exonerada por discordar da insistência dele pela terceirização dos serviços da saúde, incluindo Pronto Socorro, PPAs, etc. “Eu discordei e discordo porque nossos serviços são de excelência”, ponderou. “Ele e o Hélio Escudero, na época, me chamaram e disseram que não tocariam mais no assunto e não aceitaram minha exoneração alegando que meu trabalho era bom”.
Uma das condições que ela impôs para continuar no cargo, segundo explicou, foi ter seus horários reduzidos na Secretaria da Saúde para também cuidar de sua atividade como terapeuta ocupacional (em fase de especialização em autismo), em seu consultório. O prefeito concordou. “Nunca deixei de estar todos os dias lá, na Secretaria”, completou ela.
Laboratório de análises
Em relação ao laboratório de análises clínicas da Secretaria da Saúde, que agora passou para a Feuc, Márcia admitiu que foi o ponto principal dos atritos mais recentes com o prefeito.
“Os equipamentos do laboratório não recebem novos investimentos há mais de 10 anos pela Prefeitura e foram ficando obsoletos frente às clínicas especializadas, perdendo eficiência. Além disso, em 2017 a nossa equipe era completa e o valor da folha de pagamentos com aquela equipe era de R$ 50 mil mensais. De 2019 para cá, a folha caiu para R$ 26 mil por mês, após falecimento, aposentadoria, pedidos de exoneração, sem que tais cargos tenham sido repostos pela Prefeitura, que não fez concursos para farmacêuticos ou para biomédicos. Com isso, o nosso laboratório ficou sem mão de obra especializada e com equipamentos ultrapassados”, detalhou.
Dessa forma, de acordo com Márcia, nos últimos dois anos os exames que exigiram testes mais elaborados, como de hormônio, de CEA (Contagem Tumoral) e dos serviços solicitados pelo Pronto Socorro sempre foram direcionados para clínica especializada. Os gastos, porém, com tais procedimentos ficaram dentro dos valores mensais repassados pelo SUS.
“Recebemos do SUS o valor de R$ 70 mil para os exames laboratoriais. De 2018 para cá, o nosso laboratório municipal usou cerca de R$ 20 mil e o resto foi usado para pagar clínica especializada porque o nosso laboratório não assume os demais exames, pelas razões que acabo de mencionar. Sai mais barato usar a verba assim do que consertar os equipamentos do laboratório e repor a equipe que está faltando, caso houvesse concurso para isso”, afirmou.
Abrir credenciamento
Por conta disso, Márcia defendia a doação dos equipamentos do laboratório para a Feuc como forma de incentivar o curso de Biomedicina, as aulas práticas e os exames que fossem possíveis. No mais, sua sugestão era abrir um credenciamento para contratar alguma clínica especializada que aceitasse fazer os exames pelo valor do SUS, de forma a que a população faça seus exames mais sofisticados em clínica totalmente confiável.
“Foi minha briga. O SUS tem dinheiro para fazer os seus exames em clínicas como as que atendem os convênios e os particulares. O município não colocará um centavo a mais por isso. Os R$ 70 mil do SUS são fixos, seja para pagar o laboratório, seja para pagar clínica”, justificou.
Ela lamentou, porém, que na quinta-feira da semana passada o prefeito Ernani tenha assinado o convênio que passou à Feuc a gestão não apenas do laboratório com seus equipamentos, mas de todo o patrimônio daquele setor, que pertencia à Secretaria Municipal de Saúde, sem o conhecimento ou consentimento dela.
“Mas como a Feuc vai tocar com eficiência os equipamentos sem mão de obra especializada? Eu disse então ao prefeito que ele estava colocando em risco a vida dos usuários do SUS e ele me exonerou. O desgaste, porém, já vinha há meses e ficou pior ainda com tudo o que saia contra mim, semanalmente, no jornal que o apoia”, concluiu.