Entidade já atende 73 crianças e adolescentes mas quer conhecer as necessidades e demandas dos bairros vizinhos
Fundada em 2015, a Mapear (Associação Mobilizando Amigos pelo Amor) é responsável por atender 73 crianças e adolescentes, do bairro Domingos de Syllos, oferecendo atividades lúdicas e artísticas, além de esportes, para que as crianças não fiquem ociosas no período em que estão fora da escola. Jussara Petrocelli Simonetti, uma das fundadoras da Mapear, concedeu uma entrevista na terça-feira (20) durante o “Jornal do Meio Dia”, da Rádio Difusora, para contar a história da Associação e falar sobre as atividades assistenciais voltadas à comunidade.
A ideia de criar a Associação começou quando duas antigas amigas se encontraram em um momento doloroso: elas tinham perdido seus filhos. “Ali, nós nos unimos e pensamos em ir além da dor. Eu perdi um filho em 2012 e a Viviane perdeu uma filha em 2014. Nós estávamos buscando algo que nos preenchesse, que nos reanimasse. Com isso nos juntamos e formamos essa organização. A princípio nós procuramos pelo órgão responsável que era o Cras, e eles nos indicaram um espaço no bairro Domingos de Syllos, que estava desabilitado por falta de material humano, onde funcionou o projeto Tuca. Eu e a Dra. Viviane Rodella visitamos o lugar, gostamos dele, mas ele estava com uma estrutura física bastante precária. Resolvemos assumir o local. Com isso, muitos amigos abraçaram a nossa causa e nos ajudaram na reforma para começarmos a funcionar. Com essa atitude, a Associação ganhou o nome de Mapear (Associação Mobilizando Amigos pelo Amor) e leva também as iniciais dos nomes dos nossos filhos, Ma – de Mariana (filha de Viviane) e Pe – Pedro (filho de Jussara)”, contou.
As atividades da Mapear começaram em maio de 2015. Esse ano a instituição completa seis anos de funcionamento. “Muitas coisas aconteceram ao longo desses anos, e cheguei em 2016 praticamente só. O Dr. Mário Rodella que nos incentivava muito faleceu em fevereiro de 2016 e depois de seis meses a Viviane também faleceu. Em 2019, um dos filhos deles, o Gabriel, voltou para São José, estava recomeçando a vida, queríamos muito que desse tudo certo para ele. Ele montou uma horta orgânica no Sítio Novo e está cuidando disso, mas ele veio para São José com a intenção de me ajudar, e me ajuda, ele está sempre pela Mapear, ficou responsável pela horticultura, que é um dos trabalhos que realizamos lá”, destacou Jussara.
Censo para atendimento
Segundo a fundadora, quando o projeto foi iniciado, começou atendendo 30 crianças. Hoje, a Mapear presta atendimento para 73 crianças e adolescentes e 61 famílias, todos moradores do bairro Domingos de Syllos. “No começo usamos alguns critérios para que as crianças pudessem se matricular. Tinham que residir no bairro, estudar em escola pública, e ter entre 6 e 15 anos. Hoje mudamos um pouquinho e pretendemos abrir essa questão”, revelou.
Ela contou que a partir do próximo mês de agosto, a Mapear realizará um Censo no bairro Domingos de Syllos, com o intuito de conhecer as condições das pessoas que moram no local e assim ampliar o atendimento. “Compramos um programa desenvolvido por uma agência de São José, que fez um valor simbólico para nos ajudar. Com esse Censo, vamos tomar ciência do que realmente temos no território do Domingos de Syllos. Muitas pessoas ainda não conhecem a Mapear, mesmo estando dentro do bairro. Queremos saber a situação real das crianças, das famílias do bairro. Com isso vamos poder abrir para outros bairros mais próximos, porque acredito que ainda tenha muita criança na rua, sem atividades em período que não estejam na escola, para isso vamos fazer esse Censo”, relatou.
Ela destaca que o objetivo do projeto é transformar a realidade das crianças, oferecendo mais do que atividades para que elas não fiquem à toa. “Queremos formar cidadãos. Desejamos transformar a realidade delas, para que elas aprendam a transformar a das pessoas que vivem ao seu redor”, afirmou Jussara.
A Mapear atua por meio da arte-educação, oferecendo curso de artes gráficas, aulas de dança, esportes integrados e capoeira. Além disso, nos últimos anos, houve acréscimo de reforço escolar. “Trabalhamos com jogos lúdicos e artesanato, que ajuda nessa questão”.
Colaboradores e voluntários
Para manter suas atividades a Mapear mantém um quadro com vários colaboradores e prestadores de serviços. Além de funcionários, há também voluntários que uma ou mais vezes por semana comparecem ao local para ajudar nas ações.
“Além dos educadores, que atualmente são cinco, nós temos uma equipe com uma assistente social, psicóloga e uma coordenadora. Temos uma auxiliar geral que cuida da cozinha e duas adolescentes que já foram atendidas pelo projeto e estão trabalhando conosco atualmente. São 13 pessoas trabalhando na Mapear além dos voluntários”, comentou, explica fundadora, sobre os recursos humanos para tocar o projeto.
Ela completa dizendo que a Mapear oferece atendimento psicossocial uma vez por semana. “É feito um trabalho em grupo e também fazemos um atendimento individualizado direcionado para algumas crianças que necessitam. Esse ano contratamos também uma nutricionista para que as crianças tenham uma alimentação mais saudável”.
A pandemia e os desafios
Assim como qualquer instituição social do município, a entidade também teve de suspender suas atividades, nos períodos mais críticos da pandemia. E os atendimentos precisaram ser repensados.
“Tivemos que nos virar para não deixar as crianças na mão. Fizemos atividades online por um período, que sinceramente não funcionou muito, mas foi feito para não perdermos o vínculo com eles. Fomos mudando as táticas, fizemos algumas campanhas para atender as famílias, foi feito um levantamento com as mais necessitadas. Com isso, o que gastávamos com alimentação, nós redirecionamos para essas famílias. Tivemos muita ajuda do público de fora, recebemos muitas cestas básicas, roupas. Montamos um mercadinho solidário que ficava aberto todos os dias, quem tinha alguma necessidade ia até lá e entregávamos o que a pessoa precisava. Conseguimos suprir não só a necessidade das famílias do projeto, mas de outras pessoas também. Nós acudimos as pessoas que não estavam conseguindo sobreviver sem ajuda. Não nos limitamos apenas ao projeto”, comento Jussara.
De acordo com a fundadora, a maior dificuldade do Mapear desde o princípio é a arrecadação de recursos. A instituição tem título de utilidade pública municipal e também estadual. “Durante esses anos fomos nos certificando, agora, daqui para frente, vamos tentar conseguir recursos maiores do Estado e da Federação. Estamos correndo atrás de verbas. Temos um custo mensal de R$ 30 mil, bem alto para um projeto pequeno. Nós procuramos fazer as coisas com qualidade, o pouco que fazemos, é bem feito”, disse.
Apoio para crescer
Funcionando em um espaço físico modesto, com duas salas e algumas áreas livres, a associação viu chegar na pandemia o apoio que precisava para crescer. “Surgiu a oportunidade de fazer uma ampliação. Mesmo com todas as dificuldades, nos chegou uma providência para isso, para essa reforma de ampliação que era tão sonhada. Em três meses fizemos quatro salas e estamos terminando. Vamos começar a reformar a estrutura já existente e depois vamos fazer uma terceira parte, que é fora do projeto. Em fevereiro de 2021, ganhamos um comodato por 30 anos, então poderemos mexer na estrutura e buscar recursos para ajudar o projeto”, contou.
O projeto mantém uma parceria com a Prefeitura e recebe uma subvenção no valor de R$ 3.300,00 por mês, o que contribui com a alimentação. Além disso, conta com a ajuda de colaboradores mensalistas. “Não importa o valor que a pessoa doe. Temos pessoas que depositam R$ 10 reais por mês e outras um pouco mais. Mas essa fidelidade, que eu sei que posso contar, é muito importante”.
Atualmente a Mapear tem 26 colaboradores mensalistas. Desde 2015 até 2021, segundo Jussara, o número sofreu uma queda. Nos anos iniciais do projeto, eram 54 colaboradores. “Mesmo com a queda, a média do valor das doações, se mantém a mesma. O montante não caiu”, informa.
Colaborações
A Mapear realiza um bazar permanente, de segunda, quarta e sexta-feira, das 14h00 às 15h00, na rua Francisquinho Dias, 187. Com preços quase simbólicos, são comercializados itens de vestuário. A iniciativa é administrada por voluntários com o objetivo de levantar recursos que ajudem a entidade.
Outra ação, visando angariar fundos acontecerá no próximo dia 31, quando a entidade organizará um drive-thru, em substituição à festa caipira tradicionalmente realizada em julho. No local serão comercializados pratos e doces típicos.
Os interessados em conhecer mais sobre o projeto e que tenham o desejo de colaborar com a instituição, podem entrar em contato pelo telefone 3680-0809 ou 98197-3150.