Centenas de desenhos do ilustrador ‘Luidi Com D’ cobriram a fachada do antigo imóvel
Quem passa apressado pela tradicional Rua Benjamim Constant acaba não vendo. Mas um olhar menos corrido e mais apreciativo vai mostrar a intervenção urbana realizada nas últimas semanas, no casarão do número 369. Trata-se de uma instalação de muralismo, do ilustrador publicitário ‘Luidi Com D’. A técnica empregada é o que comumente se chama “lambe-lambe”.
Surgida por volta do século XIX, o lambe-lambe se popularizou, principalmente, na propaganda da época, como cartazes para a divulgação de inúmeras atividades artísticas, culturais e comerciais. O circo foi, talvez, quem mais se aproveitou dessa técnica, que também serviu para as manifestações políticas, dando visibilidade aos artistas do chamado muralismo.
Luidi empreendeu em São José há alguns anos, desenhando os pontos turísticos da cidade e estampando em artigos de souvernirs, principalmente canecas, que se tornaram bastante populares na Feira da Terra, montada aos sábados na Praça Barão do Rio Branco.
“Como já tinha os pontos turísticos desenhados, resolvi fazer um layout para folha A4 para colar estes lambes em São João em outubro. Não consegui ir em outubro e fiquei com este material guardado na mochila”, contou, dizendo ainda que agora no carnaval, decidiu criar uma nova intitulada “enTRINTEInimento”, para integrar seu portfólio. “São músicas e havidos de 2002, quando tínhamos dez anos, coisas que ficaram no inconsciente coletivo e que sempre rola uma nostalgia quando a gente lê essas famosas músicas”, comenta, detalhando as centenas de gravuras, desenhos e frases coladas na fachada do imóvel.
“Foi maravilhoso produzir tudo desde a ilustração, impressão e colagem do papel A4, impresso colorido em uma impressora doméstica. O desafio foi colar, debaixo de sol e chuva, da segunda de carnaval (28 de fevereiro) até quarta-feira de cinzas (2 de março). Foram 300 impressões, 3kg de cola e muita água para diluir e hidratar o corpinho no Carnaval”, conclui.
O prédio foi cedido por Marcelo Trecenella para receber a intervenção. No passado, conforme explica o proprietário, a casa ao lado foi moradia dos seus avós, Pedro Paias e Rosa Russo Paias. Ali funcionou, por anos, uma tinturaria da família.
Luidi explica que o lambe-lambe é arte passageira. Resiste aos tempos de tecnologia e acaba conectando passado e futuro, levando à reflexão quanto ao que ainda resta dos prédios antigos, das histórias que passaram pelas nossas ruas e que fizeram a vida da cidade.
“Quem quiser conferir, fotografar e ler o conteúdo colado dos lambe-lambe, fique à vontade. Aliás essa é uma das técnicas do muralismo, que inclui o grafite com spray, o lambe-lambe que usa cola, o chalkboard (desenhos com giz), o stencil, e outras infinidades de materiais que a parede suporta, afinal os homens das cavernas já faziam isso há muito tempo”, finaliza.
As colagens, é certo, vão se desfazendo aos poucos. Mas ainda dá tempo de apreciar e registrar.