terça-feira , 26 novembro 2024
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Wesley Martineli apresentando o solo " Gatilho"

Bailarino rio-pardense ganha competição e vai para a Itália

Wesley Martineli, aluno da Escola de Dança Laís Viana foi premiado como melhor bailarino em evento realizado em São Paulo

Por Júlia Sartori

A dança é considerada uma das expressões artísticas mais antigas, que está presente desde os primórdios da humanidade. Na Pré-História, dançava-se pela vida, pela sobrevivência, cultuando a mãe Natureza em busca de alimentos, água e também em forma de agradecimento por tudo aquilo que era conquistado pelas comunidades na época.  A evolução aconteceu, e com o tempo a dança obteve características sagradas. Os gestos eram místicos e acompanhavam diversos rituais. Esses acontecimentos eram inclusive registrados nas paredes das cavernas em forma de desenhos, conhecidos como Arte Rupestre.  A dança primitiva surgiu, então, de maneira espontânea e praticada por uma comunidade. Atualmente, nas culturas indígenas, por exemplo, ela é utilizada nos rituais de passagem, como o início da vida adulta. 

Cada cultura encara a dança de uma forma diferente, e a utiliza para determinado objetivo. Mas acima de tudo, a dança é uma forma elegante de expressar os sentimentos. Talvez uma das formas mais belas da valorização artística.

A arte é para todos, mas ser artista é para poucos. Algumas pessoas nascem com dons específicos, direcionados a prática artística e conseguem se destacar em meio a multidões, de forma leve e despretensiosa. Esse é o caso de Wesley Martineli, um adolescente de 17 anos, que recebeu premiações em todas as categorias que dançou no “Taboão Fest Dance”, evento realizado em São Paulo, no dia 14 de agosto.

Wesley é bailarino da Escola de Dança Laís Viana desde 2018, e além de conquistar o troféu de Melhor Bailarino do Festival, e também de Melhor Dançarino na categoria Street Dance, o jovem foi indicado para participar do Concorso Danza Rieti, na Itália, com inscrição e estadia pagas. O adolescente também recebeu um prêmio de incentivo em dinheiro pelo excelente desempenho durante a competição.

Em uma entrevista à Gazeta, Laís Viana e Wesley falaram sobre a ligação do adolescente com a dança, além de comentarem sobre as recentes conquistas realizadas em conjunto.

“O Wesley entrou no estúdio através de uma audição. Na época ele conseguiu uma bolsa 100% integral. No começo ele só fazia aulas de Danças Urbanas, ele tinha receio de iniciar no ballet e na dança contemporânea. Atualmente além das danças urbanas ele se dedica ao ballet clássico e contemporânea. Hoje o Wesley é o aluno que abre e fecha o estúdio. A dança precisa ter foco e dedicação, além disso o bailarino precisa passar por frustrações, comemorações. Na dança amadurecemos muito cedo, aprende-se muitas coisas. O Wesley se dedica totalmente, ele mereceu todos os prêmios que ganhou. Ele é um grande artista e tenho muito orgulho dele”, disse a coreógrafa e professora Laís.

Wesley Martineli e Laís Viana com dois dos troféus conquistados na competição

O adolescente contou um pouco sobre como se inseriu no mundo da dança. “Comecei a fazer aulas de dança por volta dos 8, 9 anos de idade, na Casa de Cultura e Cidadania. Só que por mais que eu estivesse nesse convívio com ela , não era algo que eu pensava na época que eu poderia trabalhar com aquilo ou levar para a vida. Para mim era mais um hobby.  Depois de um tempo a Casa de Cultura fechou e eu entrei para o clube D´Artes, onde tive meus primeiros contatos com competições de dança. Voltávamos às vezes com troféu, às vezes sem, chegamos a competir até na Argentina. Me desliguei do D´Artes no final de 2016”, relembrou.

Em 2018 Wesley participou de uma audição para concorrer a bolsa integral no estúdio Laís Viana, como era intitulada a instituição na época, e conseguiu atingir seu objetivo. “Comecei as aulas de danças urbanas. Na época eu tinha um preconceito muito grande com outros estilos de dança, porque até então eu só tinha vivência com danças urbanas”, completou.

O bailarino comentou que não chegou a sofrer preconceitos externos por causa da dança, mas que ele próprio possuía certos estereótipos em sua mente com relação ao ballet. “No início eu tinha um preconceito com relação ao ballet clássico. Eu comecei a dança contemporânea em 2019, foi o segundo estilo que tive vivência. A Laís sempre queria me puxar para o ballet clássico, e eu não aceitava de jeito nenhum. Eu tinha pavor”, disse.

 “Na época eu não entendia a oportunidade que eu estava recebendo. A Laís me proporcionou a bolsa, mas eu não sabia a importância disso, e muitas pessoas não tinham essa mesma oportunidade que eu recebi. Depois, quando decidi realmente fazer o ballet clássico, começou a pandemia. Em 2020 consegui fazer só por dois meses, e depois retornei em 2021 para as aulas. Eu comecei a me dedicar ao ballet e também ao jazz. Fui me aprofundando cada vez mais, passei a entender o propósito de eu estar aqui e ter a bolsa. Comecei a dar mais valor a essa oportunidade que me foi proporcionada. Mas no começo eu detestava ballet, porque para mim era muito difícil, eu não tinha muito controle do meu corpo, então eu acabava me frustrando. Mas com o passar do tempo fui entendendo e me apaixonando. Hoje em dia eu não quero mais parar, faço o máximo de aulas o possível, praticamente moro aqui na escola”, disse rindo.

Amor pela dança

Para Wesley, o ato de dançar o proporciona sentimentos únicos e indescritíveis. “Criamos um amor por aquilo que fazemos. Às vezes é um sentimento que não temos muita vivência, que não é algo que alguém consiga nos proporcionar, mas a dança consegue. É como se ela te abraçasse. Eu não tenho palavras pra descrever como me sinto quando estou dançando, é uma coisa muito boa. É algo que por mais que você possa se frustrar, ficar triste, você consegue expressar isso através da dança”, comentou.

O bailarino revelou que sua dança favorita é o jazz. No entanto, o ritmo que ele mais gosta de assistir, é o de danças urbanas, estilo que aprendeu desde quando era criança.

Dedicação

Durante os ensaios para a última competição, Wesley chegava na escola às 14h00 e ficava até às 21h00 ensaiando, de segunda a quinta-feira. “Eu saia da escola e vinha direto ensaiar, eu só chegava em casa praticamente para dormir e depois sair de novo. De sábado também ensaiávamos das 08h00 às 12h00 e a Laís às vezes marcava uns ensaios de sexta-feira até meia noite também. Ensaiamos muito para dar o nosso melhor e todo mundo foi excelente. Voltamos para casa de mão cheia”, contou.

Premiações

Wesley disse que não esperava que fosse receber as premiações e ainda está tentando acreditar em suas conquistas. “Foi uma surpresa muito grande quando anunciaram que eu tinha ganhado, porque eu realmente não estava esperando. Eu pensei que o solo Gatilho ( que ele apresentou), poderia ganhar em primeiro lugar, mas não imaginava que eu fosse receber esse tipo de premiação. Foi uma sensação surreal. Eu até perguntei para o jurado se ele tinha certeza, se ele não tinha errado o nome, e ele me deu um abraço, foi incrível, ainda não caiu a ficha”, destacou.

“Gatilho”, a coreografia apresentada por Wesley, foi criada por Laís Viana e expressa uma pessoa passando por um processo de isolamento da sociedade, causado por transtornos mentais, ou gatilhos envolvendo traumas. “É uma coreografia muito forte, intensa e expressiva. Eu coreografei, mas a interpretação do Wesley foi essencial para que desse certo. Foi na categoria de dança contemporânea, e na avaliação conta muito a técnica do bailarino, o figurino e interpretação”, disse Laís.

Alma de artista

Além de bailarino, Wesley faz ilustrações e publica constantemente em seu Instagram. Desde criança ele sempre gostou de desenhar, e utilizava até os cadernos de receita de sua mãe para essa finalidade. No entanto, neste momento, seu foco é a dança. “A arte está presente em mim de uma forma natural. Quando eu não estou dançando, fico desenhando, sempre fazendo algo relacionado a isso”.

Wesley participará da competição italiana em maio de 2023. Segundo Laís, a escola vai organizar rifas e fazer vaquinha para ajudar nos custos com a viagem.

O jovem almeja emitir o DRT, documento que comprovará sua atuação profissional como bailarino. A Escola de Dança Laís Viana está em processo de implantação de curso técnico de dança, que deverá ser aprovado pelo MEC, para que os alunos formados na escola consigam emitir o documento.

Wesley e Laís

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