Apesar de não haver cura, a prevenção e o uso de medicamentos são recomendados
O geriatra Jean Pierre Alencar
Um relatório desenvolvido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e Associação Internacional da Doença de Alzheimer (ADI), chamado ‘Demência: uma prioridade de saúde pública’, cita que mais de 35 milhões de pessoas sofrem de demência no mundo. Esse número deve dobrar em 2030 e triplicar em 2050.
O médico geriatra e especialista Jean Pierre Alencar, que atende entre 200 a 300 pacientes com demências em São José do Rio Pardo e Mococa, explica que a doença é ‘uma ausência da mente’. “Demência é uma síndrome caracterizada pelo declínio da capacidade intelectual suficientemente grave para interferir nas atividades sociais do dia a dia. É causada por um comprometimento do sistema nervoso central e por diversas doenças que comprometem a função cognitiva. Ela se dá por dois problemas: a pessoa possui placas senis e uma proteína chamada beta-amiloide, que vai danificando as células nervosas e os neurônios vão morrendo.”
Para ele, o fato de uma pessoa possuir déficit de memória (esquecimento), não quer dizer que ela tenha demência. “Quando a pessoa tem, além da memória, alterações em registrar informações, guardar informações, evocar alteração na linguagem, incapacidade de reconhecer objetos, de executar tarefas que fazia no dia a dia e incapacidade de organizar e planejar sua rotina, aí pode ser considerada demência.”
Entre os quatro principais tipos de demências, a doença de Alzheimer é a mais comum entre a população. “Das demências, 53% a 60% é demência de Alzheimer. Depois vem a vascular (quando a pessoa tem um AVC e fica com déficit de memória), demência fronto-temporal (tem mais características no comportamento como a agressividade) e demência Corpos de Lewy (DCL) – tem três características como Parkinson (tremor), delírios e alucinações no início.”
Segundo ele, o Alzheimer é uma doença degenerativa irreversível, e um novo caso a cada sete segundos é registrado no mundo. “Se todas as pessoas conseguissem fazer um diagnóstico mais preciso e antecipar um ano de tratamento, 9 milhões de casos no mundo seriam evitados.” O índice de acometimento de pessoas acima de 62 anos é de 1% a 2%, acima de 65 anos é de 4% a 10% e acima de 85 anos é de 20%, podendo chegar a 45%.
Alterações na memória
O geriatra cita algumas razões para que a memória sofra alterações comprometedoras, como a idade avançada, envelhecimento, isolamento e remédios. “As pessoas que vivem só ou isoladas têm mais risco de desenvolver problemas de memória e também as que tomam psicofármacos – remédios neurológicos para dormir, por exemplo. A própria ansiedade e o estresse também interferem na memória.” Sendo assim, a cognição, considerada tudo o que envolve a esfera do funcionamento cerebral, passa a ser alterada. “É onde temos a habilidade de sentir, pensar, perceber, lembrar, raciocinar, falar, prestar atenção e a capacidade de resposta.”
Fases do Alzheimer
De acordo com Jean, a doença possui três fases, sendo leve, moderada e grave. “A leve tem duração de dois a três anos e o paciente só tem perda de memória, alguma dificuldade no trabalho, perde alguns objetos, tem uma desorientação de tempo e espaço e começa com uma leve dificuldade em reconhecer algumas pessoas da família.
Depois de três anos vem a fase intermediária, em que ele tem mais dificuldade com a fala. As coisas antigas também vão ficando mais difíceis de serem lembradas e ele vai ter dificuldade em planejar e executar tarefas do dia a dia. Essa fase dura de oito a 10 anos. Já a fase avançada é a mais triste, onde o indivíduo começa a falar menos. Ele pode ter incontinência fecal e urinária, mais dificuldade para andar e pode ficar acamado.”
Medicamentos e prevenção
O geriatra ressalta que apesar de não haver cura, a medicação continua sendo importante, pois melhora a comunicação entre os neurônios e atrasa o processo da patologia. “A medicação não vai curá-los, mas vai fazer com que as manifestações da doença sejam mais lentas e ela fique mais ‘estacionada’. Em alguns casos até melhora a memória. Então, na verdade, você evita que ela atinja as fases mais adiantadas.”
Assim como qualquer tipo de demência, a doença de Alzheimer pode ser prevenida com atividades físicas, caminhada, andar de bicicleta, natação, hidroginástica, dança e até mesmo cuidar do jardim. “Atividade física é o que mais previne a doença. Depois vem o estímulo da memória, através de leitura, artesanato, sempre mantendo o cérebro ativo. Também tem a dieta mediterrânica, que é baseada em peixes, azeite, castanhas, verduras e legumes coloridos.”
Fonte: Gazeta do Rio Pardo – Por Marina Camacho