Unidade confirma que situação constatada pela Gazeta ocorre desde o ano passado; Conselho Tutelar leva o caso ao Ministério Público
Na tarde da última quinta-feira (21), atendendo solicitação de pai de aluno, a reportagem de Gazeta do Rio Pardo foi à Emeb “Zélia Maria Zanetti”, no bairro Vila Verde, conferir informações de que crianças estavam tendo aulas em um banheiro na quadra da unidade.
Os portões da escola estavam abertos, sem que nenhum funcionário ou guarda municipal estivessem no controle da entrada. Era horário de aula e não houve nenhum impedimento ao acesso.
A reportagem adentrou ao local, perguntando se ali era uma sala de aulas, o que foi confirmado. Mesas e carteiras estavam instaladas em uma área de chuveiros. Logo à frente, os biombos dos vasos sanitários. Cestos cheios de papel higiênico. A situação do local era caótica. O sol bate na janela, falta ventilação, faz calor. Seis alunos. Uma professora.
A profissional questiona a razão da filmagem. A reportagem se apresenta e informa que diante de denúncia, vai divulgar as condições precárias daquela sala de aulas.
As imagens feitas no local preservaram a identidade das crianças e professora que estavam no local.
Caso de polícia
Gravado às 16h09, o vídeo foi divulgado pela Gazeta, na sua página de Facebook, às 16h39. Logo depois, já por volta das 18 horas, quando o assunto já repercutia, a diretora da escola foi à Polícia Civil, onde confeccionou boletim de ocorrência, narrando que naquela data uma pessoa desconhecida entrou na escola, “pegou um celular e começou a filmar tudo… local não tem câmeras de segurança e teme pela imagem das crianças”, diz trecho do documento, ao qual a redação teve acesso via Secretaria de Estado da Segurança Pública.
Às 21h04, a Emeb “Zélia Zanetti” divulgou nota oficial na sua página de Facebook, na qual tenta desqualificar a notícia sobre as crianças tendo aulas em um banheiro. Deu foco a uma suposta invasão da unidade, numa tentativa de criar cortina de fumaça para o real problema.
Segundo a nota: “a invasão à escola por uma pessoa não autorizada causou transtornos aos profissionais da instituição e às crianças presentes, as quais estavam participando de aulas de reforço no contraturno”.
A nota diz que aquele é um “espaço temporário no vestiário da quadra que está há tempos desativado”. Mas as imagens contradizem e se há insegurança ou perigo, isso se dá pela precariedade do local e não pela presença da reportagem, denunciando o descaso.
Ainda segundo a publicação, “Essas aulas não são obrigatórias e têm sido oferecidas desde o ano passado com o objetivo de recuperar conteúdos em defasagem ou que não assimilados adequadamente”.
A nota explica que a escola encontra-se em processo de ampliação e recebeu nesta quinta-feira novos móveis. “É importante destacar que a escola está se preparando para o segundo semestre deste ano, incluindo modificações pedagógicas e aumento de capacidade para receber novos alunos. Toda essa transformação visa melhorar ainda mais a educação, embora, momentaneamente, gere desconforto visual e organizacional”.
A nota afirma que “a segurança e o bem-estar dos alunos são prioridades para a equipe escolar, tanto é que, diante da invasão, de imediato, foram acionadas as medidas legais necessárias junto às autoridades de segurança para preservar a integridade de todos os envolvidos, incluindo alunos, familiares e colaboradores”.
Ministério Público
Segundo as informações levantadas pela reportagem, a direção da unidade já havia, em outro período, oficiado a Secretaria da Educação em relação ao assunto, mas nenhuma medida foi adotada.
Após tomar conhecimento do caso, o vereador Henrique Torres acionou o Conselho Tutelar, perguntando se o órgão tinha conhecimento do caso. Ele disse que a resposta foi negativa e formalizou o envio de denúncia, com o link da publicação do vídeo, ao Ministério Público.
Na manhã desta sexta-feira (22), o Conselho Tutelar visitou a Emeb “Zélia Zanetti”, constatando a existência da sala, que funcionava dentro do banheiro.
Ainda de acordo com as informações, estava agendada uma reunião entre o Conselho Tutelar e o Ministério Público para tratarem do assunto.