Além da doença, o Centro de Referência em Saúde Mental também atende pacientes com ansiedade
O psiquiatra Paulo Cesar Palladini
Segundo uma pesquisa desenvolvida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), 350 milhões de pessoas no planeta sofrem de um quadro depressivo e o Brasil é considerado o país com a maior taxa de depressão no mundo, com 10,4% da população afetada. A organização ainda afirma que a cada 40 segundos uma pessoa morre por suicídio no mundo.
O psiquiatra Paulo Cesar Palladini, que atende no Centro de Referência em Saúde Mental, em São José do Rio Pardo, afirma que a depressão é muito comum no município. “Acredito que seja o problema mais comum que tratamos junto com o transtorno de ansiedade aqui na área da Saúde Mental. Então, a maior parte dos nossos pacientes são depressivos.”
Para ele, a depressão é um grande problema de saúde pública e não há idade para se desenvolver a doença. “Hoje ela é um grande problema de saúde pública porque é uma doença muito difundida na população. É mais comum numa pessoa adulta, mas não há faixa etária. Tem crianças deprimidas como tem idosos deprimidos. Tenho pacientes na faixa de 80 anos que têm a doença, e alguns já eram deprimidos. A depressão pode ser crônica, podendo durar anos. Ou então a pessoa pode adquiri-la na velhice, já idoso. Eu me lembro também de tratar de crianças com cinco anos de idade.”
Sintomas
Os sintomas da depressão são relacionados à diminuição do humor. “A pessoa deprimida sente uma tristeza muito forte, muito profunda, e ela não sabe explicar de onde vem”, ressalta. A queda do humor envolve todos os setores da vida, comprometendo a capacidade de trabalho e o bem-estar. “Ela perde a capacidade de executar tarefas e fazer coisas mais simples como o trabalho doméstico; perde a capacidade de trabalhar. Ela se sente mal, não consegue mais ver sentido na vida.”
Além da tristeza, a pessoa também sente falta de prazer e motivação. “Não tem mais alegria pelas coisas, vai perdendo o interesse, a iniciativa. Tem pessoas deprimidas que ficam deitadas numa cama e não conseguem sair, nem se alimentar.”
O psiquiatra explica que a doença pode ser genética, ou seja, a pessoa possui tendência familiar a ter depressão. “Quando é assim, vamos encontrar vários casos na família, e é uma depressão de um determinado tipo, ela tem características especiais.”
Existem também outras depressões que são reativas a situações que a pessoa viveu ou está vivendo. “Muitas vezes ela passou por problemas na infância, de várias naturezas, e isso vai refletir mais tarde na forma de depressão. Ou então pode estar vivendo um problema atual como um desemprego, um problema familiar, algum tipo de pressão, perda afetiva. Ela pode apresentar a depressão como reação a uma situação de vida.”
Família
O psiquiatra afirma que em todos os problemas psíquicos o papel da família é fundamental. “É muito importante no sentido de ajudar a desencadear transtornos, porque as famílias têm muitos conflitos, e também para a recuperação. O dependente químico, por exemplo, sem o apoio da família é praticamente impossível ele sair disso. Ele precisa de um apoio muito forte pela família, e com a pessoa deprimida é a mesma coisa.”
Além do tratamento, o depressivo necessita de apoio afetivo, emocional e carinho. “Tem muita gente que acha que depressão é algo que a pessoa fica daquele jeito porque quer ou porque é fraco, mas não é nada disso. Para quem já vivenciou isso de perto, sabe que é muito difícil e a pessoa não consegue sair sozinha.”
Cura
Há um tipo de depressão crônica que não possui cura, mas é possível controlá-la. “Mas também existe uma depressão que é curável, apresentando uma fase. Essas depressões reativas são as mais facilmente curáveis, não possuem fundo genético porque elas dependem de uma determinada situação. Se a pessoa aprende a enfrentar aquela situação com ajuda da família, de uma psicoterapia, além dos medicamentos, ela consegue a cura, porque a cura significa que a pessoa está livre dos sintomas e não precisa mais do tratamento”, revela.
Suicídio
De acordo com Palladini, a associação com o suicídio também é frequente, pois é uma consequência da doença. “A ideia de suicídio é muito comum para a pessoa deprimida. Por conta do mal-estar, do humor depressivo, a pessoa se torna muito negativa, o seu pensamento é dominado por ideias negativas, e uma dessas ideias é de que como aquilo é insuportável e ela acha que a morte seria uma solução.”
Além disso, existem várias patologias que favorecem o suicídio ou tentativas de suicídio. “É mais comum a pessoa cometer suicídio se ela não está sob determinadas condições: a depressão é uma delas e o uso de drogas também é uma condição como a esquizofrenia (distúrbio que afeta a capacidade da pessoa pensar, sentir e se comportar com clareza).”
Fonte: Gazeta do Rio Pardo