Mais de 10 mil itens foram restaurados de 2013 até agora, com técnica apurada
Com bisturi, partes que necessitam de tratamento são cortadas do papel
A Hemeroteca Paschoal Artese, situada na Biblioteca Monteiro Lobato, de São José do Rio Pardo, vem fazendo, desde 2013, um trabalho impar na região: restaurar livros, jornais, documentos, cartas, telegramas e até fotografias históricas. E mais: depois de restaurados, esses materiais são escaneados, arquivados em computador e agora estão em processo de preparação para que sejam, em breve, postados na internet. Mais de 10 mil itens já foram restaurados.
O trabalho vem sendo feito pelo professor Marlon Callegari da Silva, que precisou fazer um curso online de photoshop para conseguir a técnica necessária ao projeto. Entre abril e dezembro de 2016, assim como em alguns meses de 2015, ele teve o auxílio de quatro alunos do curso de arquitetura da PUC de Poços de Caldas nesse empreendimento. Eles vieram semanalmente a São José por indicação da professora Rosana Parisi para um trabalho de pesquisa sobre Francisco Escobar, intendente e amigo de Euclides da Cunha em Rio Pardo antes de morar em Poços. Para efetuar a pesquisa, porém, tiveram que restaurar páginas despedaçadas do jornal “O Rio Pardo” e, assim, ajudaram Marlon nessa lenta e minuciosa empreitada.
A técnica
A técnica utilizada no restauro é incomum e foi aprendida pela antiga curadora do Museu Rio-pardense Elisa Mori, que foi a Campinas para conhecê-la. Lá, porém, o material utilizado era caro e foi preciso adaptá-lo em São José para que se tornasse viável. Com apoio do empresário Eduardo Dias Roxo Nobre, que tinha ido à hemeroteca procurar documentos históricos guardados em caixas e ficou sabendo da necessidade, uma mesa com luzes foi adaptada e uma cola especial, importada dos Estados Unidos, foi comprada. A cola, na verdade, é uma fita adesiva feita de arroz e, após ser utilizada em papel velho, desaparece em poucos dias. A compra de um scanner, feita pela ex-diretora de cultura Lúcia Vitto, completou a estrutura mínima necessária ao início do trabalho.
“O scanner é necessário porque quando a gente vai manusear esses materiais muito antigos, eles esfarelam”, justificou Marlon, explicando que a ideia de restaurar os jornais antigos que existiram na cidade foi de Eduardo Roxo Nobre. “Agora estamos em contato com uma empresa que irá armazenar na internet tudo aquilo que já foi restaurado e, com isso, qualquer pessoa, em qualquer lugar da terra, poderá acessar esse material’.
Acervo
O acervo de jornais, livros, cartas, atas e documentos históricos rio-pardenses já restaurados e ainda por restaurar é vasto. A hemeroteca tem, por exemplo, a Ata de Fundação da Vila de São José do Rio Pardo, datada de 4 de abril de 1865. Tem também o livro do Código de Posturas da época, no qual constam normas acerca do nivelamento de ruas, salubridade, vacinas, roçagem, matadouro etc.
Os primeiros jornais que circularam pela Vila de São José também estão ali: O Mosquito, de 1887; A Platea, de 1889, que conta o episódio republicano no Hotel Brasil; O Rio Pardo, de 1899, que tinha como diretor o dr. Mauro Pacheco e depois Valêncio Bulcão; A Onda, “orgam da Casa Bulcão”, de 1907. A revolução de 1932 é relatada em jornais e documentos históricos, entre inúmeros outros assuntos.
Paciência
Marlon explicou à Gazeta a técnica necessária ao restauro de cada material, desde o manuseio inicial, a colocação sobre a mesa com luzes, a colagem das partes danificadas com a cola especial, o corte das partes que apodreceram demais, a utilização das luvas e máscaras de proteção contra ácaros e fungos, o scaneamento depois do conserto, a guarda do material original dentro de pastas brancas etc.
Tudo, na verdade, é um trabalho muito lento e de muita paciência, havendo casos em que uma única folha de jornal demora vários dias para ser restaurada. Como, no entanto, já foram restaurados mais de 10 mil itens de 2013 para cá, não é difícil mensurar o esforço e a perseverança de quem está envolvido neste empreendimento tão importante para a história de São José do Rio Pardo.
Fonte: Gazeta do Rio Pardo – Por Eduardo Eron