‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre’ (Lc 1,42)
Celebramos no terceiro domingo de agosto a Solenidade da Assunção de Nossa Senhora. No Brasil, essa solenidade é transferida do dia 15 de agosto – para o domingo seguinte –, possibilitando, assim, uma maior participação dos fiéis. Em algumas comunidades, onde Nossa da Assunção ou da Glória é padroeira, no entanto, costumam celebrar a festa no dia 15 de agosto. Porém, o nosso calendário litúrgico a transfere para o domingo seguinte.
No dia da Solenidade de Nossa Senhora da Assunção, dentro da perspectiva do mês vocacional, é celebrada a vocação para a vida consagrada e religiosa. Do mesmo modo que Nossa Senhora, os religiosos e religiosas são chamados a dizer o “sim” a Deus. Rezemos para que não faltem as vocações religiosas na Igreja e que mais jovens possam dizer “sim” ao chamado de Deus.
Através dessa celebração, cremos que, a exemplo de Nossa Senhora, contemplaremos Deus face a face na vida eterna. Esperamos ter uma morte santa e após a nossa morte, o corpo e a matéria perecerão, mas a nossa alma vai ao encontro do criador. Trilhemos a nossa vida no caminho do bem e alcançaremos mais facilmente a salvação.
O dogma da Assunção de Nossa Senhora é uma verdade de fé, ou seja, a Igreja que, Nossa Senhora sendo a Imaculada Conceição e a cheia de graça, foi merecedora da vida eterna. Esse dogma foi promulgado em 1950 através do Papa Pio XII. Acredita-se que Nossa Senhora foi assunta ao céu de corpo e alma, ou seja, seu corpo não pereceu na terra, mas está incorruptível e glorioso no céu.
O Evangelho narra Nossa Senhora indo apressadamente à casa de Isabel para ajudar a sua prima em suas necessidades, pois estava prestes a dar à luz, e transmite a Isabel o Espírito Santo do qual ela estava cheia. Que, a exemplo de Nossa Senhora, possamos partir apressadamente a casa de nossos parentes e amigos, transmitindo o Espírito Santo e anunciando Jesus Cristo. Incentivemos os jovens a abraçarem a vocação à vida religiosa e consagrada.
A primeira leitura da missa é do livro do Apocalipse de São João (Ap 11, 19a; 12, 1-3 -6a. 10ab). São João descreve a visão que teve. Uma mulher vestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e sobre a cabeça uma coroa de 12 estrelas. Ele vê um outro sinal no céu, um dragão cor de fogo. Tinha sete cabeças e, sobre as cabeças, sete coroas. O dragão parou de frente da mulher pronto para devorar o filho que ela estava esperando. Ela deu à luz ao filho que governou todas as nações com cetro de ferro. O filho foi levado para junto de Deus e seu trono. A mulher fugiu para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar. João ouve uma voz do céu que dizia: “Agora realizou-se a salvação, a força e a realeza do nosso Deus, e o poder de seu Cristo” (Ap 11,10).
Essa mulher que João vê é Nossa Senhora (ou também a Igreja), que estava a ponto de dar à luz a Jesus. A coroa de 12 estrelas faz referência às 12 tribos de Israel. O dragão é figura do mal que queria impedir que ela desse à luz ao seu filho. O filho nasce e governa todas as nações com cetro de ferro e, apesar da rejeição de muitos, morreu na cruz para redimir a Humanidade inteira. O Filho foi para junto de Deus e Nossa Senhora. Após a ressurreição de Jesus, foi para o deserto, onde Deus lhe havia preparado um lugar, até a sua Assunção ao Céu.
O Salmo responsorial 44 (45) faz referência a uma rainha, que podemos comparar a Nossa Senhora, que se encontra à direita junto de Deus, intercedendo por cada um de nós. Nossa Senhora intercede por nós junto a Deus, do mesmo modo que ela fez nas Bodas de Caná.
A segunda leitura é extraída da primeira carta de São Paulo aos Coríntios (1cor 15, 20 -27a). Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram, ou seja, Ele morreu para abrir caminho para nós, pois do mesmo jeito que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos. Nós cremos nisso toda vez que há a consagração da Eucaristia na missa, pois nesse momento se atualiza a paixão, morte e ressurreição do Senhor. Conforme nossa resposta após o sacerdote dizer “Eis o mistério da fé”: “Anunciamos Senhor a vossa morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde Senhor Jesus! Como em Adão, todos morrem, em Cristo, todos reviverão.
O evangelho é extraído de Lucas (1, 39-56). Lucas narra a passagem em que Maria parte apressadamente para a casa de sua prima Isabel e fica três meses com ela. Assim que Maria saúda Isabel, o filho que Isabel esperava, que era João Batista, pula de alegria em seu ventre. E Isabel e o filho que ela esperava ficam cheios do Espírito Santo.
Isabel profere lindas palavras a Nossa Senhora, que estão contidas na Ave Maria: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre”. (Lc 1,42). Em seguida, Nossa Senhora recita a oração que hoje conhecemos como “Magnificat”. Nesse cântico, Nossa Senhora recorda as maravilhas que Deus operou em favor do seu povo e como a escolheu para ser a mãe do Salvador. Em Jesus, todo povo de Israel deveria confiar, pois ele veio conduzir todo o povo a Deus.
Nesta Solenidade da Assunção de Nossa Senhora ao céu, peçamos que Ela nos conduza sempre ao seu Filho e possamos, como Ela, guardar e conservar tudo no nosso coração. Que o Espírito Santo sempre nos ilumine e nos ajude a cada dia dizer “sim” a Deus. Lembremo-nos das maravilhas que Deus fez na vida de cada um de nós, assim como ele fez com o povo de Israel.
Peçamos que todos os religiosos e consagrados recordem as maravilhas que Deus operou em suas vidas e que possam, diariamente, renovar o seu “sim”. Sejam consagrados para amar e servir, sobretudo aos mais pobres.
Orani João, Cardeal Tempesta, O. Cist.Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ