Psicólogo fala sobre efeitos do acesso a conteúdos inapropriados para crianças
Nos últimos dias, têm circulado pela mídia a nova febre pelo brinquedo de pelúcia Huggy Wuggy, originalmente personagem de um jogo de terror. O Poppy Playtime, game que contém o Huggy, está disponível para computador e dispositivos móveis. Embora seja destinado a adultos, o personagem virou um ursinho de pelúcia desejado por muitas crianças.
No game, o objetivo é explorar uma fábrica de brinquedos abandonada, resolvendo charadas e quebra cabeças para tentar descobrir o que aconteceu com os funcionários da fábrica e sair de lá vivo.
O Huggy é um experimento que deu errado e persegue o jogador por espaços fechados tentando “abraçá-lo até a morte”. No game, não há violência explícita contra seres humanos, mas os bonecos monstruosos aparecem em situações tensas, como quedas e acidentes, e há a presença de poças de sangue em diversos cenários.
Em alguns países, há relatos de crianças traumatizadas com os sustos provocados por Huggy Wuggy e suas falas aterrorizantes, já que o personagem têm aparecido até mesmo em vídeos que circulam pela internet.
Algumas escolas estão alertando os pais e responsáveis sobre o perigo de deixar as crianças sozinhas diante das telas, já que podem acabar tendo acesso a conteúdos inapropriados para a faixa etária.
O jornal entrou em contato com o psicólogo Fabrício Godoi Spindola, formado em psicologia pela UNIP e Especializado em Neuropsicologia pela PUC Minas, para falar sobre os efeitos do acesso a conteúdos inapropriados para crianças, e explicar como os pais devem agir diante dessas situações.
Quais os riscos desse tipo de conteúdo para as crianças?
Fabrício: Precisamos considerar que a criança está em constante aprendizagem por meio da observação. Partindo desse pressuposto, dependendo de qual conteúdo a criança tem contato, pode influenciar aquilo que ela aprende. Para ficar mais claro, podemos pegar como exemplo os estudos do laboratório de Bandura e Iñesta (1973/1975). Neste estudo, identificou-se que os participantes tendem a se comportar agressivamente a partir da observação de um modelo que é reforçado pelo seu comportamento agressivo, ou seja, quanto mais contato a criança tem com conteúdos violentos, ela tende a assimilar a situação como “normal” e manifestar comportamentos agressivos. Portanto, trazendo isso para a questão abordada, precisamos nos atentar que o contato da criança com esse tipo de conteúdo, pode ter as mais diversas consequências dependendo de como ela assimila aquilo que observou. Portanto é imprescindível enfatizar a importância dos pais monitorarem aquilo que chega até suas crianças e se elas estão preparadas para lidar com aquele conteúdo, para que possam exercer o papel de orientadores e educadores, evitando que sejam geradas consequências negativas no desenvolvimento dos seus filhos.
Com relação a pelúcia do Huggy, você considera inapropriada para presentear crianças?
Fabrício: Costumo sempre dizer que o evento por si só não é responsável pelas consequências. Precisamos compreender sempre a situação como um todo, pois mais do que o simples objeto é a interpretação que é feita sobre ele. Se racionalizarmos, o brinquedo por si só não traz mal algum, porém é importante refletir o porquê esse seria um presente ideal para a criança. Qual a sua intenção em dar esse presente?
A partir de que idade é considerado seguro permitir que crianças/adolescentes tenham acesso ao gênero de terror?
Fabrício: O aconselhável é seguir a classificação indicativa daquilo a que expomos nossas crianças; mas além disso é preciso considerar as particularidades de cada um. Os pais costumam ser a figura mais próxima da criança e, por isso, tem noção daquilo que ela compreende ou não; algumas crianças são mais sensíveis do que outras, então é importante se atentar a esse detalhe.
Caso alguma mãe tenha um filho que por um acaso viu o vídeo, ou tenha medo de ver o boneco, que já está presente na maioria das lojas, o que ela deve fazer?
Fabrício: A melhor ferramenta que temos é o conhecimento. Precisamos conversar abertamente com as crianças sobre os mais diversos temas, o conhecimento é sempre importante. Portanto, sentar com a criança, procurar entende-la e aconselhá-la é fundamental e, embora os medos não costumem ser tão racionais, o diálogo é algo que pode ajudar muito. Porém, caso esse medo seja “fora dos padrões de normalidade” e esteja difícil para os pais lidarem, pode ser preciso procurar ajuda profissional, onde serão realizadas algumas intervenções para que a criança consiga criar repertório comportamental para enfrentamento desse medo.
Qual a importância de monitorar os filhos, principalmente durante a infância?
Fabrício: É fundamental que os pais monitorem aquilo que chega até seus filhos. A orientação precisa partir deles que são a figura mais presente e mais importante durante todo esse desenvolvimento. E nessa questão, é muito importante ter em mente que monitorar é diferente de controlar: quando falamos em monitorar, nos referimos a estar atento àquilo que chega até as crianças para que possamos orientar e controlar, quando necessário. Falar de controle, é algo mais determinista e que não exige explicação, trata-se de uma decisão pronta dos pais. Aqui, precisamos ter em mente que é necessário dar o espaço de experimentação para as crianças, mas além disso é fundamental orientar para que ela se desenvolva de forma saudável e segura.
Com informações da Revista Crescer