Segundo climatologista, mês de março poderá ter chuvas volumosas pelo estado
Nos meses de janeiro e fevereiro, São José do Rio Pardo e região passaram por semanas bastante chuvosas. Apenas no município, no primeiro mês do ano de 2022, foi registrado pelo Sismet em seu balanço hídrico, 344,4 mm de chuva. Durante o mês de dezembro do ano passado, o município marcou 222,4 mm. Já em fevereiro de 2022, o volume registrado foi menor, 57,4 mm.
Apesar do excesso de chuva dos últimos meses, São José do Rio Pardo e região têm enfrentado um calor intenso nas últimas semanas, sem a presença de chuva nos últimos dias. Há previsões de que agora em março, o volume de chuva seja bastante robusto, e segundo estudiosos, há riscos de enchentes em alguns locais do país. Meteorologistas chamam a atenção para virada do mês e a tendência é que as águas de março fechem o verão trazendo problemas para certas regiões do país.
Quem falou sobre o assunto, por aqui, mais uma vez, foi o geógrafo, doutor em Climatologia pela Unesp e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Pedro Augusto Breda Fontão.
Em entrevista à Rádio difusora, ele explicou as previsões climáticas dos próximos meses, comentou a tragédia ocorrida em Petrópolis, e falou sobre o fenômeno La Niña, que influencia diretamente o clima mundial.
Chuvas irregulares e suas consequências
De acordo com o climatologista, a irregularidade das chuvas e a má distribuição tendem a continuar pelos próximos meses, e podem trazer mais problemas. “Infelizmente, como nós ainda estamos em um ano de La Niña, fenômeno atmosférico de escala global e que deve perdurar pelo menos até o mês de abril, talvez até o mês de maio, a tendência é que as chuvas permaneçam irregulares, concentradas em pequenos períodos de tempo, o que pode causar estragos, como temos visto pelo país. Em São José pode causar alguns pontos de alagamento, embora não seja comum. Há riscos de prejuízos na agricultura”, disse.
“Em janeiro a chuva foi bem acima do que costuma chover. Para março ainda há estimativas de que ocorram algumas precipitações mais volumosas, no entanto, como é uma previsão regional do estado de São Paulo, é muito difícil saber o ponto exato onde vai cair a tempestade. Podemos sempre observar que isso pode ser monitorado a curto prazo, mas a tendência é que o estado de São Paulo como um todo seja atingido por tempestades”, informou o climatologista.
Quanto a volumes, de acordo com o profissional, o que preocupa são chuvas acima de 30, 40 ou 50 milímetros em um curto período de tempo. “O problema é quando esse volume cai em poucas horas. Esse tipo de tempestade causa impactos”, comentou.
Tragédia em Petrópolis
Há mais de três semanas, Petrópolis, município localizado na região serrana do Rio de Janeiro, sofreu uma tragédia sem escalas. A cidade enfrentou uma forte tempestade, que ocasionou enchentes, deixando centenas de pessoas desabrigadas e mais de 232 mortos.
“As enchentes do Rio de Janeiro foram causadas por um episódio específico. Tivemos a entrada de uma frente fria, que é um sistema de baixa pressão atmosférica, bem próxima do perímetro do desastre, e posteriormente isso atraiu grande parte da umidade, do ar quente e úmido do oceano em direção ao município de Petrópolis. A grande questão é pensar na geografia do local. Petrópolis está na região serrana do Rio de Janeiro, onde temos toda a serra do mar, os morros beirando a cidade, e uma boa porcentagem das casas do município estão em área de risco, ou seja, nas encostas dos morros. Uma chuva muito forte em um curto período de tempo, lá em Petrópolis, infelizmente, tem o potencial de causar grandes estragos como podemos observar nessa tragédia. Os grandes impactos foram fortalecidos pela geografia do local”, explicou.
Amenizar riscos
Durante a entrevista, o climatologista foi questionado sobre as medidas para prevenção de riscos no que diz respeito a tragédias naturais no Brasil. Segundo ele, evitar que situações como essa aconteçam, é algo complexo. No entanto, amenizar os riscos é algo viável.
“Amenizar os riscos sempre é possível, temos estratégias que são adotadas, mas tivemos uma parada nesse tipo de política. No Brasil falta política de gestão de riscos. Há dez anos foi criado o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais), e a vantagem dele, é que ele tenta coordenar todos esses tipos de desastres. Ele elabora mapas de riscos, ou seja, cidades que tenham muitos desníveis, residências em locais de risco. Tudo isso é monitorado, principalmente com relação a chuvas extremas. É importante fortalecer o país em previsão meteorológica, com mais equipamentos, mais radares meteorológicos, porque quanto mais informações e dados tivermos para fazer os modelos de previsão global, com maior exatidão nossas previsões climáticas darão indicativos do que pode realmente ocorrer. Então é importante fortalecer tanto a parte da previsão meteorológica, que o Brasil infelizmente caminha muito lentamente em relação a outros países, como a questão dos desastres naturais. Além do Cemaden, nos municípios temos as Defesas Civis, que fazem um trabalho muito bom. Essa gestão deve ser feita em cada cidade tentando identificar as regiões mais vulneráveis e áreas de risco, para quando tiver alerta de chuva forte, ou algo do tipo, poder avisar os cidadãos dos municípios”, informou.
Agricultura e estiagem
Pedro fez um alerta aos agricultores. Segundo ele, embora o Estado de São Paulo tenha chuvas previstas em volumes consideráveis até o mês de março, a partir de abril, a região entrará oficialmente no período de estiagem. “As chuvas começam a ficar bastante reduzidas, com pouco volume, e o mais relevante é que esse ano ainda estamos sob a condição da La Niña, então a tendência é que a estiagem pelo menos no outono, seja severa”, disse.
“Tenho acompanhado os modelos de previsão, e entre abril, maio e junho, a tendência é que praticamente não chova no interior de São Paulo. Por isso é bom ficar alerta e aproveitar ao máximo o que teremos agora. É bom segurar quando temos, e utilizar para quando não tivermos. Para quem tem reservatórios, represas, o ideal é deixar o volume de água estocado para poder utilizar para irrigação a longo prazo. Para o mês de março, as culturas que podem ter problemas com chuvas muito fortes, é importante que os agricultores fiquem atentos ao período de plantio. Quem já fez o plantio, deve ficar atento e tentar colher um pouco antes dessas chuvas virem”, alertou.
Previsão para os próximos meses
Quanto ao mês de março, o profissional explicou a situação prevista. “O Brasil tem investido bastante na questão dos alertas. O Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), divulga o mapa do Brasil com um alerta para chuvas extremas e chuvas fortes, e isso pode ser acompanhado no país todo. É importante ter essa perspectiva. Em março teremos chuva”, disse.
“No entanto, em abril, maio e junho, a tendência é que os volumes sejam pouco expressivos e ocorram somente alguns avanços de frentes frias. Esse ano a previsão é que as incursões polares cheguem um pouco mais cedo, sob influência da La Niña e de outras características atmosféricas que temos acompanhado. Pode ser que em maio já venha o frio”, completou.
El Niño e La Niña
Pedro explicou sobre a diferença entre os fenômenos El Niño e La Niña. “Conhecido há muitos anos, o El Niño está ligado ao aquecimento das águas superficiais de algumas regiões específicas do Oceano Pacífico, especificamente próximo a linha do Equador, só que de tempos em tempos, acontece o fenômeno contrário, a La Niña. Ao invés das águas aquecerem, elas diminuem em média mais de 1ºC (um grau celsius). Essa variação da temperatura da água oceânica, pode impactar na circulação atmosférica do planeta, na dinâmica dos ventos, consequentemente nas massas de ar, o que faz com que na época de La Niña elas avancem mais, não é à toa que tivemos mais chuvas no sul da Bahia, causando desastres. Além disso, ela deixa o clima brasileiro irregular. O El Niño também causa esse tipo de preocupação, mas no caso dele as chuvas seriam mais fortes no sul do país. A crise hídrica de 2014 e 2015, em que São Paulo ficou sem água, o que salvou o Sistema Cantareira foi a configuração de um El Niño em 2015. Ele fez com que as chuvas aumentassem e isso acabou beneficiando a região. São fenômenos naturais do planeta, algo que não podemos mudar, mas sofremos influência por isso. É importante ficarmos alertas a situação climática”, informou.
A La Niña deverá perdurar até o mês de abril ou maio. Segundo o climatologista, as águas continuarão mais frias na região do Pacífico Equatorial. “Provavelmente teremos um outono bastante seco, com massas de ar um pouco mais intensas, que podem causar um frio considerável na região. Segundo vários modelos de previsões, a tendência é que o inverno sofra um pouco de influência, talvez tenha chuvas mais intensas, porém espaçadas em um curto período de tempo, mas bem isoladas. Teremos um outono com pouca chuva, ainda é cedo para prever sobre o inverno, mas dificilmente teremos chuva acima do normal”, disse.
De acordo com estudos, a La Niña terminará no inverno. Segundo Pedro, é provável que em 2022, as chuvas cheguem um pouco mais cedo. “Em setembro ou outubro, devem chegar com maiores volumes, ao contrário do que aconteceu ano passado, em que as chuvas demoraram muito, e a estiagem se prolongou praticamente até novembro. Então é provável que em outubro já tenhamos chuvas características de verão”, encerrou.