terça-feira , 26 novembro 2024
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Ewerson Kemel, urologista

Diagnóstico de câncer de próstata: exame de sangue não substitui o de toque

Urologista alerta sobre a importância da prevenção e sobre os efeitos causados pela doença

A campanha de saúde pública, “Novembro Azul”, chegou a mais uma edição. O objetivo é conscientizar os homens sobre os cuidados com a saúde, especialmente na prevenção do câncer de próstata, um dos mais frequentes entre os brasileiros.

De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de próstata é o segundo mais comum entre os homens no Brasil (atrás do câncer de pele não-melanoma). O total estimado de novos casos de câncer de próstata é de 65.840 (dados de 2020), que corresponde a 29,2% dos tumores incidentes no sexo masculino. Em valores absolutos e considerando ambos os sexos, é o segundo tipo mais comum. O Atlas de Mortalidade por Câncer, também produzido pelo INCA, aponta 15.983 mortes por câncer de próstata em 2019. 

O urologista Ewerson Kemel, foi entrevistado durante o ‘Jornal do Meio Dia’ da Rádio Difusora essa semana. Gazeta do Rio Pardo reproduziu trechos da entrevista.

Exames

O médico cita a importância da prevenção, o que torna os exames indispensáveis.

Na própria consulta, precisamos saber se a pessoa tem um histórico familiar de câncer de próstata, se tem algum sintoma de esvaziamento miccional, ou sangramento ao urinar. No próprio exame clínico precisamos levantar esses dados”.

O urologista explicou que apenas o exame de PSA (Antígeno Prostático Específico), feito por coleta de sangue, não é o suficiente para detectar a doença, como muitos acreditam. Tanto o exame de toque quanto o PSA, devem andar em conjunto. “O fato de ter um PSA normal, não significa que você não tenha um câncer de próstata, pelo contrário. Já se sabe na literatura, que obesos que possuem o PSA baixo, que muitas vezes têm o tumor detectado pelo toque, podem desenvolver um câncer de próstata mais agressivo. É fundamental fazer os dois exames.  Um exame completa o outro. Pode acontecer do exame PSA estar com uma taxa dentro da normalidade, e ao toque, o médico perceber que há um endurecimento dessa próstata. Diante disso, precisamos ficar atentos”, alertou.

Homens com idade a partir de 45 anos que possuem histórico familiar de câncer de próstata, entre parentes de primeiro e segundo grau, e também negros, devem fazer o rastreio. “Para quem não tem histórico, pode iniciar a partir dos 50 anos”, informou.

“No entanto, existem casos de pessoas mais jovens com a doença. Tumores de próstata neuroendócrinos, podem acometer pessoas jovens e até crianças”, pontuou.

Para conseguir identificar o problema e iniciar um tratamento precoce, é indispensável que os homens comecem a fazer os exames a partir da idade mencionada pelo profissional.

Sintomas

Os principais sintomas do câncer de próstata são dificuldade na micção, acordar várias vezes durante a noite para urinar, sensação de esvaziamento incompleto, ardência, e principalmente a hematúria (sangue na urina). “Lembrando que com esses sintomas, não significa que necessariamente a pessoa tenha o câncer, mas eles fazem com que essa possibilidade seja levantada. Todos esses sintomas estão relacionados com a hiperplasia prostática benigna, que é o aumento benigno da próstata, que pode levar a uma compressão da uretra e causar esses sintomas citados. Mas quando existir essa sintomatologia, e fizermos os exames PSA e de toque, e estiverem alterados, seguimos com uma ressonância magnética com o intuito de estudar a próstata e muitas vezes direcionar para uma biópsia.  A única maneira de fechar esse diagnóstico é realizando essa biópsia prostática”, informou.

Com o avançar da idade, a próstata pode sofrer um aumento e consequentemente, os níveis de PSA se alteram. “Isso não significa que a pessoa tenha um câncer”, explicou.

“O câncer de próstata tem a evolução muito lenta. A partir do momento que você tem o diagnóstico, não significa que você o desenvolveu em poucos meses. Quando a pessoa descobre, ele já está ali há muito tempo, mas não necessariamente ele causa sintomas. É super comum o paciente não ter nenhum sintoma, e ter um nódulo suspeito. Por isso a prevenção, o hábito de fazer o exame anualmente, é fundamental para descobrir um tumor”, ressaltou.

Reposição hormonal

O urologista explicou sobre a reposição hormonal com testosterona, temida por algumas pessoas por medo de resultar em um câncer.  “A reposição de testosterona não causa câncer. No entanto, sabe-se que pacientes que já tem um câncer de próstata e fazem a reposição hormonal, podem colher malefícios por conta disso. Por isso é necessário fazer um acompanhamento rotineiro nos pacientes, porque caso ele tenha um tumor, a reposição de testosterona pode fomentar seu crescimento”, afirmou.

No entanto, segundo o médico, pacientes que não possuem um tumor prostático e que os exames se apresentam dentro da normalidade, caso tenham hipogonadismo (quando os testículos não produzem quantidade suficiente de hormônio), podem fazer a reposição hormonal com testosterona sob supervisão médica.

Tratamento

“Existe um leque de tratamentos para o câncer de próstata. Antes de mais nada a conduta deve ser individualizada dependendo de cada caso. Temos cirurgias abertas, laparoscópicas (minimamente invasivas). Hoje em dia temos a opção da cirurgia robótica, um tipo de tratamento cirúrgico bastante moderno e pouco invasivo”, explicou o médico.

No caso da cirurgia robótica, o cirurgião urologista faz uso de um sistema de braços robóticos e câmeras de alta precisão. Todos esses instrumentos são manipulados pelo cirurgião, que fica em um console instalado dentro da sala de cirurgia. “Mas infelizmente não é uma cirurgia muito acessível pelo SUS e até mesmo os convênios não cobrem o custo total. Mas ela veio para ficar e tem mostrado benefícios para os pacientes”, completou.

“Temos a radioterapia, que é uma alternativa muitas vezes usada por pacientes que optam por não fazer a cirurgia. A hormonioterapia também é uma opção usada geralmente em pacientes que já possuem a doença mais avançada, que chamamos de metastática”, disse Ewerson.

Impotência sexual e incontinência

Muitos homens temem a cirurgia de próstata, por medo da impotência sexual. O médico falou sobre o caso.

“Esse é um dos maiores medos dos homens. Se a pessoa descobre que tem um câncer de próstata precoce, e parte para o tratamento cirúrgico, consequentemente, as chances da pessoa obter sequelas são menores. Seja na questão da incontinência urinária, que é algo que pode acontecer em pacientes que retiram a próstata, e também problemas na ereção. A partir do momento que o paciente tem o câncer e nós fazemos a cirurgia, estamos fazendo isso para tratar o câncer e não exclusivamente a potência sexual e a incontinência. Aquele paciente que nunca procurou um acompanhamento, que não se preveniu desde cedo, quando ele manifesta sintomas, muitas vezes já possui um câncer de próstata mais avançado, consequentemente a cirurgia é mais agressiva podendo sim levar a incontinência e a impotência sexual”, encerrou.

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