Cultura ainda é uma das principais do município, com 1.050 produtores integrantes da Cooxupé
Para lembrar o Dia Nacional do Café, ocorrido em 24 de maio, data que marca o início da colheita nas principais regiões cafeeiras do Brasil, a Rádio Difusora e Gazeta do Rio Pardo entrevistaram representantes da Cooperativa Cooxupé, para falar sobre a cultura do produto em São José do Rio Pardo e região, entre outros assuntos relacionados a cafeicultura. O Brasil ocupa o primeiro lugar no ranking de maior produtor de café do mundo, e é o segundo país que mais consume, perdendo apenas para os Estados Unidos.
Bruno Roberto Gomes, engenheiro agrônomo, e Humberto de Souza Moraes, gerente do núcleo local da Cooxupé, começaram a entrevista falando sobre a importância da cafeicultura para a economia do país.
“O Brasil é o principal produtor de café do mundo, não apenas em volume, mas também em qualidade. Hoje o país se destaca a nível mundial com várias regiões produtoras, que produzem os mais diversos tipos de café. A produção de café no Brasil é de excelente qualidade e sustentabilidade”, garantiu Bruno.
O engenheiro agrônomo explicou que o café e a economia caminham juntos no Brasil. “Desde quando ele chegou, passou pela região norte e foi sendo introduzido em outras. Mas quando ele começou no norte, ajudou a desenvolver a economia local do povo. Isso acontece até hoje, a principal função do café é gerar economia. Acredita-se que ele gere a nível brasileiro, de forma direta e indireta, mais de 8 milhões de empregos. Observa-se que as regiões onde é produzida uma cultura como a do café, possuem uma distribuição de renda muito favorável ao desenvolvimento do município. Isso faz com que a Cooxupé, conhecendo o histórico de café da região de São José do Rio Pardo, sempre estimule os descendentes de italianos que aqui chegaram para trabalhar com o café há anos, a retornar a cultiva-lo”, explicou.
Ao longo dos últimos 20 anos, a cafeicultura tem se mostrando financeiramente atrativa, além de possuir uma estabilidade de preço interessante, segundo Bruno. “Principalmente pela forma de comercialização que o mercado oferece hoje”, destacou.
Regiões produtoras
Minas Gerais é considerado a principal região produtora de café do Brasil, especialmente o sul de Minas, que inclui cidades próximas a São José do Rio Pardo. “Depois de Minas, a região da Zona da Mata, do Cerrado, e das Vertentes, estão se destacando bastante. A cultura da produção do café tem proporcionado a regionalização desses produtos, isso é muito importante para que o mundo consumidor conheça as mais variadas qualidades e tipos de café que nossas regiões tem produzido”, afirmou o engenheiro.
Consumo
Humberto falou sobre o consumo do café no país. “O Brasil é o maior produtor, e segundo maior consumidor de café do mundo. Havia um ditado que brasileiro só tomava café ruim. Em consequência das tecnologias e em busca da qualidade e sustentabilidade, isso está mudando. Hoje já temos várias cafeterias especializadas no Brasil, e até mesmo nos supermercados já podemos ver cafés bem diferenciados”. Para o gerente da cooperativa, o conceito de café está mudando no Brasil.
O café é a segunda bebida mais consumida no mundo, ficando apenas atrás da água.
Cooxupé
A Cooxupé é uma das maiores cooperativas de cafeicultura do mundo e trabalha com mercado interno e externo. Segundo Humberto, a previsão é que a cooperativa receba esse ano 6.400.000(seis milhões e quatrocentos mil) sacas de café em seus armazéns. “Nossa área de café em São José do Rio Pardo não é tão grande, mas vemos a facilidade com relação aos armazéns, ao recebimento do café. Isso propicia muito que o produtor rural que está com uma área parada, entre na cafeicultura. Tem um investimento caro inicial, mas é uma cultura que dá uma boa estabilidade financeira ao produtor”, informou.
A Cooperativa está em ação em 245 municípios. Dentro do Estado de São Paulo, são 54 cidades onde a Cooxupé atua. “Em São José do Rio Pardo, na área de produção de café, temos 1.200 hectares. Quanto a cooperados, temos 1.050”, disse Humberto.
Crise no café
Bruno contou que no passado, aconteceram algumas crises na cafeicultura de São José do Rio Pardo e região. Diante disso, a maior parte dos descendentes de italianos acabaram migrando para outras culturas, que na ocasião eram mais rentáveis, como a cebola, por exemplo. “Há 20 anos, São José do Rio Pardo foi um dos grandes produtores nacional, foi referência na produção de cebola. Mas é uma cultura que tem uma oscilação de mercado, ele muda de um dia para o outro, o que gera certa dificuldade para o produtor na comercialização”, constatou. “Ter vários cultivos dentro de um município é importante para a diversificação de renda, mas a cultura do café, assim como no passado, se encaixa muito bem no perfil de produtores de São José do Rio Pardo”, completou o engenheiro.
A topografia do município é favorável a mecanização, e segundo os profissionais, o grau de tecnologia dos produtores da região é elevado. A cultura do café, diferente de anos anteriores, tem uma demanda mínima por mão de obra em decorrência da evolução de sua produção. “A tecnologia está muito presente dentro das lavouras de café, como prova disso, em média, é preciso apenas um funcionário para conduzir de 30 a 40 hectares de lavoura. É um sistema bastante sólido, que demanda baixa mão de obra”, afirmou Bruno.
Estiagem
O engenheiro agrônomo falou sobre o período de estiagem, que tem preocupado muitos produtores rurais responsáveis pelo plantio de diversos produtos. Segundo ele, a cafeicultura na região não sofreu grandes danos com a falta de chuva. Ele começou explicando sobre a fisiologia do café.
“O cafeeiro é uma planta perene, fica vários anos sobre a superfície do solo. É uma cultura com o sistema radicular* mais profundo para passar por esses momentos mais difíceis. O café geralmente floresce em outubro e desenvolve o tamanho do fruto até meados de fevereiro e março. Dessa forma o tamanho é definido assim como a concentração de carboidratos. A partir desse momento, a planta inicia a maturação, onde vai acumular açúcares. A escassez de chuva é prejudicial porque interfere na fisiologia da planta, diminui a capacidade de produzir energia para fechar a maturação e manter folhas. Com a escassez, existe uma certa desfolha, um período de murchamento. Mas para a safra de 2021, não estamos encontrando situações de muito alarde. Até o momento, em todas as avaliações que fizemos contagem, encontramos apenas de 1% a 2% de grãos chochos, essa porcentagem, dentro da literatura, é considerada normal”, informou.
Preço
O valor da saca de café está cotado em R$840,00. Segundo Humberto, o custo do produtor para elaborar a estrutura e produzir o café, é individualizado.
“Toda a comercialização de café é feita via bolsa, a Cooxupé analisa a cotação do produto em determinado dia e monta o preço, todo o custo de margem da bolsa, fazemos para o cooperado. Hoje, um pequeno produtor pode entrar na bolsa e travar café para três ou quatro anos”, explicou.
Pandemia
De acordo com Humberto, a pandemia prejudicou as cafeterias, que passaram por um período de fechamento sem prestar atendimento ao público. Em contrapartida, as pessoas migraram para o consumo caseiro.
*sistema radicular – É o órgão responsável pela fixação dos vegetais e pela absorção de água e sais minerais. De maneira geral, considera-se que o sistema radicular é o responsável por realizar a interface entre a planta e solo.