Júlia Sartori
Em apenas 30 minutos, atividade proporciona mais de 1.800 estímulos neurais
Desde o início da epidemia do novo coronavírus em São José do Rio Pardo, o bem estar físico e emocional das crianças, principalmente por estarem longe da escola, têm sido motivo de grande preocupação para a maioria dos pais. Com a impossibilidade de realizar atividades físicas coletivas, e buscando aproximar as crianças da natureza, muitas famílias rio-pardenses estão investindo na equitação terapêutica.
Aline Maldonado – formada em fisioterapia, que atua na escola Cáritas há 9 anos como equoterapeuta, em parceria com sua irmã, Juliana Maldonado – instrutora de equitação terapêutica e assistente social, estão atendendo crianças e adultos que visam a prática de equitação terapêutica. A necessidade pelo trabalho surgiu durante a pandemia, quando as irmãs começaram a ser procuradas por pais interessados a proporcionar a atividade aos filhos. Aline e Juliana realizam a terapia no Sitio Monte Cristo, propriedade da família.
Relação com cavalos
A relação das irmãs com a equitação surgiu desde a infância. “É genética. Nosso pai sempre mexeu com cavalos, já foi presidente da hípica, desde a nossa infância ele colocava cavalo na garagem de casa, quando éramos crianças todo mundo da família competia em alguma modalidade, e isso foi passado para nossa geração”, contou Juliana.
Benefícios da equitação terapêutica
“Na equitação terapêutica, buscamos o cavalo como um agente transformador, aproximando as pessoas não só da natureza, do sítio, que é onde temos essa relação intima, mas também criamos práticas de estimulação do ser humano. A equitação terapêutica é reconhecida como um instrumento terapêutico pela medicina. Em 30 minutos de equitação o corpo libera mais de 1.800 estímulos neurais, apenas com o andar do cavalo. Alinhando isso a práticas educativas, de estímulo motor e psíquico, conseguimos otimizar essa atividade”, explicou.
Juliana fez alguns cursos de aperfeiçoamento direcionados a equitação básica para iniciantes e amadores.
A equitação trabalha a coordenação motora, preensão palmar, alteração sensorial, correção postural e flexibilidade muscular. A atividade também ajuda a desenvolver a autoconfiança das crianças. “Além disso, cria o senso de responsabilidade, porque o cavalo não é um objeto, é um ser vivo que precisa de cuidados. A questão da responsabilidade e domínio sobre o animal, faz com que a criança desenvolva condições como autonomia e comandos. Quando o cavalo não obedece, fazemos uma comparação, e damos o exemplo de que uma criança mal educada e desobediente não é legal. Sempre fazemos uma analogia entre o que ela está conquistando, e o que o cavalo está proporcionando a ela naquele momento”, explica Juliana.
Segundo ela, este princípio aumenta o poder de decisão de cada criança. “Ela precisa ter atitudes para poder governar. Além disso, aprende sobre frustrações quando não consegue. Tem que ter uma pro atividade, e iniciativa de resolver as ações. A equitação traz isso”, garantiu.
Aline mencionou que quando as crianças chegam no sítio, começam a primeira fase da equitação, que é a aproximação. “Apresentamos a elas o ambiente, nossos animais, fazem a limpeza, o arreamento, o trato. Tem toda uma rotina inicial antes de subir para a pista para o atendimento. Quando eles terminam tiram a cela, fazem a limpeza e guardam o cavalo na baia, e de vez em quando dão até banho. Ensinamos o começo, meio e fim”, completou.
Atendimento
As irmãs atendem crianças a partir de dois anos de idade até a fase adulta. Segundo Aline, elas não ensinam uma modalidade esportiva específica, mas sim sobre a equitação de maneira geral. “Algumas pessoas nos procuram pois querem usar o cavalo como um instrumento na fazenda para o gado, ou como apenas um hobbie”, relatou.
Como fisioterapeuta, Aline trabalha com crianças especiais no Cáritas, e no sítio, também atende alunos com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) e autismo. “Estamos dando prioridade a esses atendimentos. Não estamos atendendo crianças com deficiência física, por falta de uma equipe que dê suporte. Mas a equitação terapêutica é indicada também nesses casos. Oferecemos equitação kids, e também para adultos”, explicou.
“O atendimento é feito todos os dias no final da tarde até a noite, e aos finais de semana. Nosso foco é o atendimento individualizado, ou no máximo em trio, quando são irmãos. Nossa abordagem não é com números, mas sim em fazer um atendimento qualitativo. Durante a pandemia a demanda têm aumentado pelas crianças estarem em isolamento social. Os pais começaram a nos procurar quando sabiam que podiam estar aqui em segurança, ao ar livre, fazendo atividades, para que as crianças pudessem sair um pouco do ambiente de casa, porque já não tinham mais o ambiente escolar”, disse Juliana.
Atualmente, as profissionais atendem cada aluno uma vez por semana, para evitar aglomeração. No entanto, segundo Aline, a frequência ideal para a equitação, segue o padrão da maioria das atividades físicas, que são indicadas no mínimo duas vezes por semana.
“Hoje, em São José, temos outros centros de treinamento de modalidades, como hipismo, laço em dupla, laço individual. Mas nossa grande diferença é essa, não tentamos direcionar uma atividade a uma determinada modalidade. Ensinamos pessoas que querem aprender a andar a cavalo. Não exigimos especificidades da modalidade em si. O cavaleiro se torna capaz de ter a base para ir para qualquer modalidade que ele queira”, acrescentou.
Fugindo da rotina
Aline contou que as mães aproveitam as aulas de equitação dos filhos, e utilizam o momento para relaxar no sítio, para entrar em contato com a natureza e fugir um pouco da rotina. “Algumas mães até cochilam na rede, trazem livros para ler durante a aula do filho, caminham. No final da aula da criança fazemos um passeio externo, vamos até o lago para ver os gansos e patos. As crianças se sentem atraídas pelos animais e pelo espaço físico em si”, comentou.
Cavalos utilizados
Juliana e Aline utilizam os pôneis e cavalos da raça mini horse, para a equitação kids, que possuem a estatura física de até 1 metro de altura. “Isso já cria uma identidade com a criança pela comparação do tamanho. Utilizamos também cavalos da raça crioulo, quarto de milha e manga larga”, explicaram.
Desafio
Para as profissionais, a parte mais difícil do trabalho, é ensinar as crianças a entenderem a responsabilidade. “Hoje em dia elas estão cada vez mais digitalizadas. Quando chegam aqui, e não estão com o celular na mão, muito pelo contrário, fazendo uma atividade física, vemos que esse desafio foi conquistado. Elas brincam na areia, no barro, tentamos dar essa acolhida a família para que ela se sinta em casa. A intenção é que as crianças tenham esse lugar como uma extensão de casa, para que sejam estimuladas”, encerrou.